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A catarse do retorno de grandes bandas do passado é um sinal do fim dos tempos?

A pergunta que faço ao leitor se apresenta tanto no sentido literal, aqui me refiro ao valor cobrado pelos ingressos e todo business que estas megaproduções exigem e que obviamente se convertem em valores astronômicos repassados ao público; Mas também em um sentido muito mais alegórico, talvez refletido apenas por mim – um chato passional que ainda acredita que as bandas deveriam se unir apenas no tesão e no amor em fazer música – de que muitos retornos são desnecessários e um tanto quanto constrangedores, uma vez que o prazer em tocar e fazer shows foi soterrado pela simples vontade em fazer dinheiro e viver de um passado melancólico onde as calças de couro e os shortinhos de lycra já não servem mais. Ironias a parte, tentarei me justificar.

Embora tenha torcido e vibrado com a volta do Oasis, e não podia ser diferente, já que estamos falando de uma das últimas bandas mais significativas do que chamamos rock n’ roll, tento não parecer cafona e Regis Tadeu demais, contendo meu saudosismo preso nos anos 90, mas confesso que passada a euforia, o receio de me frustrar com mais uma banda que ficou presa em um personagem nostálgico como nos filmes da Sessão da Tarde tem me assolado quando penso nas bandas que seguem a mesma fórmula e fazem a mesma música durante décadas e se tornaram cover delas mesmas.

Bandas dos anos 90 do mainstream como Pearl Jam e Smashing Pumpkins conseguiram quebrar esta maldição em 2024 depois de álbuns fracos, ambas trouxeram álbuns muito honestos, criativos e bem produzidos, ou um Alice in Chains que conseguiu manter a mesma qualidade com um vocalista diferente, ou o extraordinário caso do Dinosaur Jr. que mesmo longe do grande mercado, atravessou as décadas entre brigas e reconciliações mas nunca sem perder o tesão e a honestidade como que faziam, colocavam todo amor na sua música, e ainda o fazem de forma primorosa (vide “Sweep It Into Space”, de 2021). Mas estas são algumas das poucas exceções a regra.

Foto: Dinosaur Jr. Crédito: Gie Knaeps.

Para alguns amigos, os quais eu discordo parcialmente, defendem a teoria de que a música e a cultura se esvaíram e esgotaram toda sua capacidade de criar movimentos culturais e musicais autênticos, originais em sua gênese e que, dos anos noventa pra cá, desde o surgimento do Stones Roses ou do britpop – o que pra eles não se poderia definir como um gênero ou subgênero musical e sim apenas uma expressão cultural pra definir uma cena local muito peculiar – ou de artistas como Tricky, Björk, Prodigy e Portishead entramos em um looping infinito de revivals, ora influenciado pelos anos, 70 ora influenciado pelos anos 80 e 90. Como disse concordo parcialmente, não acho que essa tese seja um devaneio, pelo contrário, apenas acho uma visão anglo-centrada demais e ainda ache que o indie do início dos anos 2000, embora muito influenciado pela cena alternativa dos anos 80 e 90, ainda tenha conseguido criar algo esteticamente próprio, sonora e visualmente.

Mas se falarmos em estilos não tão euro-centrados ou mais periféricos ao centro do capital, temos de dar a relevância merecida ao grime, o jungle, o dancehall jamaicano ou o funk carioca, movimentos culturais autênticos e orgânicos que são uma afirmação entre as novas gerações e ditam tendências estéticas de forma massiva, e que dialogam cada vez mais com o comportamento atual das culturas de massas ao redor do mundo, cada qual com suas peculiaridades e identidade coletiva, quer você goste ou não.

O mesmo acontece quando grandes bandas do passado anunciam seu fim, somos automaticamente induzidos ao pensamento de que cada vez mais o rock e a música estão perdendo seus ídolos e estamos chegando perto de um fim, ao ponto em que só restará a nostalgia e aquele amargo ao sentir que os dias de glória das bandas que amamos não voltará, e viveremos amarrados ao que passou nos contentado e achando o máximo o show de bandas cover sênior em pubs rock bar com decoração e temática de rock clássico.

Salvo a velocidade e a facilidade com que acessamos bandas novas que em algumas vezes são descartáveis e fazem músicas para cortes de vídeos de 15 segundos, nunca se produziu tantas bandas legais e acessíveis apenas com uma busca rápida e boa vontade em conhecer algo novo. Hoje qualquer um pode produzir sua música em casa, do seu jeito, com suas referências inspirações, sem ficar na mão de ninguém.

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