Ao longo das décadas, Bob Dylan fez declarações públicas sobre as canções que mais o marcaram. Entre elas, “I Walk the Line”, lançada por Johnny Cash em 1956, ocupa um lugar especial.
Na autobiografia Crônicas: Volume Um, publicada em 2004, Dylan descreveu a faixa como “uma das melhores, mais misteriosas e revolucionárias canções de todos os tempos”. E completou: “É uma música que atinge seus pontos mais vulneráveis, palavras afiadas de um mestre”.
Antes de se tornar conhecido pelo folk politizado dos anos 1960, Dylan já demonstrava grande admiração por artistas como Woody Guthrie, Hank Williams e Johnny Cash. Com este último, em especial, desenvolveu uma relação de respeito mútuo. Ambos chegaram a dividir estúdios e festivais ao longo da carreira.
“I Walk the Line” não apenas consolidou Johnny Cash como um nome relevante na música country, como também influenciou gerações posteriores. Lançada pela Sun Records, a canção vendeu mais de dois milhões de cópias e permaneceu por semanas nas paradas dos Estados Unidos.
Segundo o próprio Cash, a composição teria levado cerca de 50 minutos para ser finalizada. A estrutura harmônica inusitada e a letra sobre fidelidade ajudaram a torná-la um marco em sua discografia.
Décadas depois, a música acabou servindo de base emocional para uma criação de Dylan. Em entrevistas posteriores, o autor de “Blowin’ in the Wind” afirmou que “Man in the Long Black Coat”, lançada em 1989 no álbum “Oh Mercy”, guarda uma relação indireta com o clássico de Cash.
“De uma forma estranha, penso nessa música como meu ‘I Walk the Line’”, afirmou Dylan, sem detalhar os motivos da analogia. Embora os temas centrais das duas faixas sejam distintos, ambas compartilham o clima sombrio e o ritmo marcado por certa contenção.
Em 2005, “I Walk the Line” voltou a ganhar destaque ao nomear o filme biográfico de Johnny Cash. Dirigido por James Mangold, o longa “Johnny & June” levou a vida do músico às telas e apresentou sua obra a uma nova geração de ouvintes.
A admiração de Bob Dylan por Johnny Cash transcendeu o tempo e as colaborações. Nas entrelinhas, revelou como referências do passado moldaram composições futuras — mesmo que o diálogo entre elas só se torne claro muitos anos depois.
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