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Como surgiu o post-punk?

Por volta da metade da década de 1970 o mundo conheceu a explosão punk!

Na Inglaterra, em 1977, tivemos o lançamento de Nevermind the Bullock do Sex Pistols, do lado norte-americano, um ano antes, os Ramones faziam sua estreia.

Com uma estética sonora simples e direta contando apenas com guitarra, baixo e bateria, o movimento era o oposto das grandes bandas do mainstream que viviam o seu auge, seja na complexidade musical do rock progressivo ou mesmo o momento rock star de artistas de bandas que hoje chamamos de classic rock.

Desta forma, o punk foi o caminho que apontou uma nova era e através do seu do it yourself incentivou milhares de jovens a empunhar seus instrumentos para montar suas bandas sem precisar ser um músico virtuoso.

Esse comportamento do faça você mesmo inspirou não só as bandas do movimento punk, mas toda uma geração de novos músicos que queriam montar suas bandas e descolavam seus próprios locais para tocar e gravar seus discos da maneira que conseguiam.

O punk é um dos estilos que mais teve desdobramento musicais dele saíram os excêntricos: crust punk, cowpunk, folk punk, powerviolence e os mais usuais aos quais nos acostumamos hoje em dia como o hardcore, grindcore, pop punk, punk californiano, psychobilly, horror punk, Grunge, ska punk.

E claro, o post-punk, mas é impossível falar dele sem contextualizar o gênero que o precedeu e as muitas bandas que estão no limiar das duas propostas sonoras e é sobre o post-punk e suas raízes no punk que vamos falar.

EUA, Inglaterra e as origens do punk

Na década de 70, o mundo passava por um grande movimento cultural e social, se por um lado o movimento flower power vivido na década anterior, iniciado nos EUA não fazia mais sentido. Na terra da rainha, os problemas econômicos e sociais serviram de base para o movimento punk.

Musicalmente é importante ressaltar o garage rock, iniciado no final da década de 50 que atravessou os anos 60 representadas por bandas como The Troggs com a sua “Wild Things” e o guitarrista Link Wray que apresentava sua instrumental “Rumble” que misturavam rock´n´roll, blues e no caso de Wray pitadas de surf music, tudo mergulhado em muito reverbe, distorções e gravações lofi para não chamar de primitivas.

Mesmo iniciado nas garagens de jovens norte americanos, o movimento acabou atravessando e influenciando bandas como The Who e The Kinks.

Uma influência menos óbvia do punk era o glam rock inglês do início dos anos 70 capitaneado por Marc Bolan e David Bowie

No lado norte-americano, New York Dolls dava as caras e colaborava de alguma forma no alicerce do estilo.

Mesmo que o lado americano do punk seja mais melódico que o inglês, as bases sonoras eram agressivas e em sua genética estava o proto-punk de Detroit e região. 

Apresentados nos final dos anos 60 e início  dos 70, o MC5 e The Stooges foram os avós do estilo agressivo, sujo e com temáticas líricas calcadas nos problemas sociais.

MC5 – da esquerda para direita: Fred “Sonic” Smith, Dennis “Machine Gun” Thompson, Rob Tyner, Wayne Kramer e Michael Davis. Créditos: Leni Sinclair /Michael Ochs

Porém, quem realmente herdou o lado mais sujo e agressivo foram as bandas de punk inglesas como Sex Pistols, The Damned, The Clash e Buzzcock.

Em 1976, o punk se tornou um grande fenômeno cultural, onde jovens se identificavam com o estilo rebelde vestido com roupas ofensivas, jaquetas de couro e tachas ou pontas.

Em 1977 a coisa explodiu e esse foi o ano fundamental, marca essa data o primeiro álbum dos principais nomes da cena inglesa: The Clash, The Damned, Buzzcock e claro do Sex Pistols e assim, o estilo virou febre nos dois lados do Atlântico.

O punk foi uma resposta direta ao mainstream cercado de músicos virtuoses do rock progressivo e os rock stars do hard rock que com atitudes esnobe afastava cada vez mais os fãs do estilo.

E como contraponto dessa opulência surgiu o punk. 

O estilo deu as caras inicialmente em NY no famoso bar CBGB (Country, Bluegrass, and Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers), no qual artistas como Television conseguiram uma noite para tocar.

Mesmo tendo estourado em 77, a cena americana já estava criada, mais musical, menos agressiva, a cena dos Estados Unidos era mais plural musicalmente falando do que a da terra da rainha.

De NY berço do punk norte-americano, apareceram o já citado Television, a poetisa punk Patti Smith e Ramones, todos eles com propostas sonoras tão ímpares que é difícil enquadrá-los  em um estilo musical, era mais um movimento de artistas da região que tinham o DIY como lema.

Aliás, muitas das bandas que viriam após o punk participavam desta cena, mas só ganharam destaque com a queda do punk e o surgimento do post-punk.

A queda do punk e o nascimento do post-punk

Embora muitos elementos do post-punk derivam do punk rock, o pós punk com sua variedade de gêneros e estilos foi uma antítese ao estilo predecessor que era direto e básico.

No post-punk podemos encontrar uma variedade sonora muito ampla em sua genética, estão entre eles as influências do krautrock, a música ambiente, dub, free jazz, disco, eletrônico e claro o próprio punk.

Não foi apenas o experimentalismo na música que diferenciou o estilo do punk rock, liricamente há outras diferenças, afinal a presença da literatura, arte modernista e cinema são encontrados no novo estilo que estava nascendo.

Para fins de entendimento e sabendo que na literatura do rock encontramos o new wave, gothic e outros subgêneros no pós punk, vamos tratá-lo aqui como o gênero que veio na esteira direta do punk rock, ou seja, deixaremos de fora deste vídeo a new wave, goticos, synth pop e new romantics que se tornaram mainstream no decorrer da década de 80. 

Até por entender que o post-punk tinha uma sonoridade mais experimental, muitas vezes até crua como seu predecessor, frente aos estilos citados.

Muitas das bandas que se classificam no gênero iniciaram suas carreiras na mesma época que a cena punk se desenvolvia.

Joy Division, por exemplo, se formou após os Sex Pistols se apresentarem na cidade natal de seus integrantes, Manchester.

Foto by Harry Goodwin / Rex Features – Joy Division – Ian Curtis, Bernard Sumner, Stephen Morris e Peter Hook

Nesse show estavam presentes Bernard Sumner, Peter Hook e Terry Mason que após o show dos punks britânicos resolveram montar uma banda.

Por ironia do destino, Ian Curtis também estava nesse show e viria a se juntar à banda logo em seguida.

Mas não foi só o Joy Division que frequentava o punk, Siouxsie Sioux da banda Siouxsie and the Banshees também era vista entre eles.

Inclusive ela é uma das pessoas que estava na comitiva que que acompanhou os Sex Pistols na chocante entrevista dada no programa Today da Thames Television, apresentado por Bill Grundy. 

Numa época em que a moral da sociedade conservadora inglesa se estendia na TV, Rotten largou a palavra merda e chocou a sociedade. 

Wire era outra banda que fazia parte do punk rock, seu disco de estreia, Pink Flag também de 1977 dá um passo à frente do que seus contemporâneos apresentavam na época. 

Eles não só foram muito influentes no punk, no post-punk, hardcore mas também no britpop, o riff da faixa “Three Girl Rhumba” é influência direta para dizer o mínimo para a banda Elastica na música “Connection”.

Pink Flag tem 21 faixas e é difícil classificá-lo, mais do que isso, é difícil não se empolgar com faixas como “Ex Lion Tamer”. 

É um álbum divisor e fundamental para entender o Post-punk apesar de ainda não estar lapidado para tal e manter os dois pés no punk, Pink Flag é emblemático.

Um ano depois, duas figuras centrais do movimento punk inglês se distanciaram do estilo que os fez conhecido formando assim novos grupos e lançando o que é considerado os primeiros álbuns genuinamente post-punk.

Estou falando de Johnny Rotten que após o fim dos Sex Pistols formou o 77, sob a alcunha de John Lydon, seu nome verdadeiro. E Howard Devoto que após deixar o Buzzcock fundou o Magazine sendo ambos peça fundamental na criação do pós punk.

Ambos estavam desgostosos com os rumos comerciais que o estilo estava tomando e seus projetos representavam uma ruptura e aversão ao estilo.

O single “Shot by Both Sides”, estreia do Magazine, a banda de Devoto, é considerado por muitos como a primeira gravação post-punk e foi lançado em janeiro de 1978, alcançou 41° posição do chart inglês de single, como lado B tinha a música “My Mind Ain’t So Open”.

A sequência de lançamentos em 78 foi matadora, lembra da menina na comitiva do Pistols no programa de TV, pois bem, ela também montou sua banda, Siouxsie and the Banshees e lançou o espetacular single “Hong Kong Garden” em agosto do mesmo ano.

Uma homenagem a um restaurante chinês que ela costumava frequentar.

Em 2009, ela deu uma entrevista ao The Independent onde explica a letra:

“Nunca vou esquecer, havia um restaurante chinês em Chislehurst chamado Hong Kong Garden. Eu e meu amigo ficamos muito chateados porque costumávamos ir lá e, ocasionalmente, quando os skinheads apareciam, ficava muito feio. Esses idiotas iam em massa e aterrorizavam os chineses que estavam trabalhando lá. Nós tentávamos dizer ‘Deixe-os em paz’, você sabe. Foi uma espécie de homenagem.”

Chegou a vez de Johnny Rotten, opa, John Lydon lançar o primeiro single de sua nova banda pós Sex Pistols, Public Image Limited lançou seu primeiro single em outubro 78, a faixa “Public Image” alcançou a 9° posição nas paradas britânicas, e apresentava um Johnny remodelado. 

Liricamente a música era um desabafo de Lydon após ser explorado por Malcolm McLaren nos Pistols.

E para fechar o ano de 78, em outubro, Gang of Four faz sua estreia com o single “Damaged Goods”.

E assim estava formado as sementes do post-punk como conhecemos hoje.

1978 e os primeiros álbuns post-punk

O ano de 78 foi responsável pelos primeiros álbuns completos do estilo também.

Difícil dizer qual foi o marco zero, visto que as bandas que encabeçaram o post-punk já existiam e frequentavam o movimento punk.

Há obras seminais que estão na gênese do movimento e são fundamentais.

Além dos singles dos artistas citados, o ano de 78 nos presenteou com a primeira leva de bandas de pós punk como Magazine, lançando Real Life em Junho de 1978, o Wire, ovacionado pelo seu primeiro trabalho, dava um passo à frente ao punk, colocava no mercado sua segunda obra, essa mais identificada com o novo movimento, Chairs Missing chegou ao mundo em 8 de setembro de 78. 

Seria uma heresia não citar Siouxsie and the Banshees com seu primeiro disco, The Scream que saiu em 13 novembro do mesmo ano e claro, o PIL com First Issue do fundador do Sex Pistols, John Lydon em dezembro de 78.

Apesar de ter sido o último da safra de 78, o primeiro álbum de Lydon com seu Public Image LTD é um marco para o estilo, com o single “Public Imagem” bem gravado, a produção do resto do álbum deixa a desejar devido ao orçamento apertado, o disco explora a mistura de ritmos e estilos que se propõe o post-punk como as sonoridades do dub, o noise em um ritual repetitivo e hipnótico de baixo e batera em faixas como: “Theme” e “Fodderstompf”. 

Sonoramente diferente do Sex Pistols, Lydon mantinha sua voz catártica e gritos e acrescentava ecos influenciados por dub jamaicano.

Formava o grupo ainda Keith Levene nas guitarras e sintetizadores que foi um dos fundadores de outra banda punk seminal inglesa, o The Clash, Jah Wobble no baixo e Jim Walker na bateria.

Siouxsie and the Banshees e seu The Scream é outro que merece um destaque a parte por ser aclamado como pedra fundamental do estilo, frio, mecânico e ao mesmo tempo apaixonado como descreveu o baixista da banda,  Steven Severin referindo-se ao som da banda.

O disco de estreia do grupo teve uma grande repercussão não só pelo single lançado anteriormente “Hong Kong Garden”, mas pela intensidade do álbum como um todo. 

Um caso curioso é que nenhuma gravadora quis gravar a banda no início e que fãs pichavam o muros das gravadoras com a frase Sign the Banshees: Do it Now. E assim, a Polydor o fez.

O álbum foi um estrondoso sucesso, chegando a 12° posição das paradas britânicas, e muitas das publicações colocaram eles como um dos melhores álbuns de estreia de todos os tempos.

Muito do estilo da banda se deve a entrada do guitarrista John McKay que foi introduzido aproximadamente um ano antes e trouxe uma maneira peculiar de tocar colocando ruídos e barulhos em suas execuções como na primeira faixa “Pure” que abre o álbum e “Jigsaw Feeling”.

Seu trabalho neste disco ecoou nas bandas oitentistas como Sonic Youth, Jesus and Mary Chains e Primal Scream.

O baterista Kenny Morris com sua batida reta utilizando muito tons e poucos pratos fazia a cozinha perfeita para os baixo marcante de Steven Severin, deixando os vocais de Siouxsie em destaque com sua maneira peculiar de criar as melodias cantadas com letras enigmáticas.

As músicas de destaques além do cover de “Helter Skelter” dos Beatles são a intensa “Mirage”, a ritualística industrial “Metal Postcard”, o mantra sincopado “Overground” e talvez a mais alegre do álbum “Carcass”.

Real Life do Magazine é apontado por muitos críticos como o primeiro álbum post-punk, temporalmente é, a musicalidade que encontramos no estilo e posteriormente no desdobrar dos gêneros advindos estão todos aqui.

A começar pela capa sombria e pelo clima de família Addams das faixas de que abre o disco, “Definitive Gaze”.

O mais interessante de Real Life é a unidade sonora apresentada, riffs de baixo, bateria marcante, guitarras cuidadosamente construídas complementando a cozinha e teclados que fazem a cama e muitas vezes conduzem as músicas.

Pode-se dizer que o Magazine apresenta muitos elementos do que a gótico e new wave apresentaria depois, principalmente pelo estilo fantasmagórico de suas canções.

A banda foi formada por outro integrante do punk, Howard Devoto que abandonou o seminal Buzzcocks, o guitarrista John McGeoch que mais tarde faria parte da Siouxsie and the Banshees, o baixista Barry Adamson, o baterista Martin Jackson e o tecladista Dave Formula que substituiu o tecladista original e gravou Real Life.

Do Buzzcocks, Devoto trouxe duas faixas em parceria com seu ex-parceiro e cofundador da banda, Pete Shelley, o single “Shot by Both Sides” e “The Light Pours Out of Me”.

Nos Estados Unidos é difícil delimitar ainda mais a sonoridade post-punk, visto que estavam dentro do movimento punk bandas como Television, Patti Smith, Talking Heads de Nova Iorque e mesmo Pere Ubu de Cleveland que acabaram de alguma forma transbordando o estilo punk por se tratar mais de um movimento que especificamente uma massa sonora única reconhecida por seu estilo.

Já os britânicos, mesmo que em alguns momentos cruzassem a linha do punk até o post, ainda assim deixavam mais claro os limites entre eles e estes foram testados no próximo ano até o início da nova década. 

O apogeu do post-punk

Se First Issue causou desconforto por ser o primeiro disco da banda do punk Johnny Rotten do sex Pistols, Metal Box, o segundo álbum do PIL, redefiniu o futuro do estilo e explorou novas possibilidades, além de sua embalagem de metal redonda que acabou dando nome ao disco, o álbum saiu em novembro de 1979, um ano após sua estreia.

O registro é considerado mais importante que seu predecessor e foi aclamado pela crítica e público, um marco para o post-punk, desta vez com uma gravação decente em todas as faixas.

Metal Box mergulha ainda mais no dub jamaicano, traz guitarras mais metálicas e abrasivas, sons cada vez mais experimentais com as letras enigmáticas de John Lydon.

O single “Death Disco” foi rebatizado de “Swan Lake” para o disco, a música mantém o groove do início ao fim, com as guitarras noise de Keith Levene. A letra de John Lydon é baseada em um momento difícil em sua vida, sua mãe estava com câncer e ele acompanhou a morte lenta de dela.

O outro single, “Memories” também fez bastante sucesso, mantendo o mesmo tipo de estrutura musical misturando dub, disco e segundo guitarrista Levene guitarras ao estilo espanhol uma das primeiras coisas que aprendeu no instrumento. 

Essa pegada disco, dub, punk acabou influenciando muito as bandas dos anos 2000 como LCD Soundsystem e Radio 4.

Em setembro deste mesmo ano temos o debut de outra banda que é fortemente reconhecida pelo post-punk com seu som geométrico e guitarras angulares, riffs de baixo e bateria pulsante e letras politizadas, o Gang of Four entra em cena com seu Entertainment!

Um daqueles discos representativos que materializa muito bem o estilo.

No álbum ouvimos clássicos como “Damaged Goods”, “I Found the Essence Rare” e “At Home He´s a Tourist”.

Assim como Metal Box, Entertainment! influenciou e deu o pontapé inicial ao dance punk. A crítica gostou tanto do álbum que foi considerado o quinto melhor álbum de 1979 pela New Music Express.

A banda era formada por Jon King nos vocais, Andy Gill Guitarras e vocais, Dave Allen no baixo e o baterista Hugo Burnham.

Entertainment! é reconhecido como um dos maiores álbuns post-punk e uma das suas pedras fundamentais.

79 é responsável por mais um lançamento do estilo que a princípio desagradou seus integrantes. Estou falando de Three Imaginary Boy, o álbum de estreia do The Cure.

Lançado em maio, o disco é mais cru do que acostumamos a ver do Cure nos anos 80, em formato de trio com Robert Smith vocais e guitarras, Michael Dempsey baixo e vocais e Lol Tolhurst na bateria o disco tem ótimas músicas como “10:15 Saturday Night”, ritmada com baixo marcante e guitarras ardentes.

Outra que se destaca é “Grinding Halt”, pop por excelência mas sem perder a energia post-punk da época e apontando o futuro sonoro da banda.

A estranhíssima versão de “Foxy Lady” de Jimi Hendrix cantada pelo baixista Michael Dempsey se destaca justamente por sair do lugar comum e pela banda não querer ela no álbum, mas isso só aconteceu no lançamento do americano onde ela ficou de fora.

Prova da versatilidade do álbum está em faixas como “It ‘s Not You” e a faixa título, a calma “Three Imaginary Boy” com vocais utilizando ecos, outra característica que veio acompanhar a banda nos discos posteriores.

O pouco apreço da banda pelo disco foi a posição da gravadora em impor músicas no disco como “Object”.

Além disso, a banda não teve voz na escolha da capa, mas a verdade é que, gostando ou não, o disco é mais um que não pode ficar de fora da lista do post-punk.

Nenhuma banda é tão homogênea com o estilo e possui suas raízes ligadas diretamente ao pós punk quanto o Joy Division.

Mesmo tendo lançado apenas 2 discos é um dos grupos mais influentes da história.

Criada em Manchester em 1976 e parte do selo de Tony Wilson, Factory Records, Joy Division foi influenciado diretamente pelo punk, mas em Unknow Pressure acabou incorporando elementos eletrônicos à sua sonoridade crua.

O responsável por essa mistura de estilo foi o produtor dos dois álbuns de estúdio da banda, Martin ”Zero” Hannett.

O baixista Peter Hook e o guitarrista e tecladista Bernard Sumner não foram tão receptivos a essa roupagem sonora e a princípio queriam manter sua identidade mais punk, mas convencidos pelo vocalista Ian Curtis acabaram cedendo e criaram uma legião de fãs e influenciaram todo movimento dos anos 80 em diante como a new wave e o Gótico.

Com suas letras intimistas e sonoridade soturno, Unknown Pressure foi lançado no dia 15 de Junho de 1979, apesar de não ter tido vendas expressivas, foi celebrado pelo público e crítica.

Nele estão registrados clássicos como a estranha e soturna “She ‘s Lost Control” com uma linha de baixo melódica e marcante de Peter Hook e Guitarras distorcidas de Bernard Sumner, bateria eletrônica e Stephen Morris e vocais hipnóticos de Ian Curtis.

“Shadowplay” com levada de baixo e pratos e vai crescendo conforme ganha corpo e se torna uma faixa tensa e intensa separada por solos melodiosos entre uma parte e outra.

“Disorder”, a faixa que abre o disco é a cara do post-punk com uma cozinha bem marcante e guitarras fazendo a cama que ambienta a música e Ian Curtis cantando comportadamente em cima da base até o final quando se solta.

Outra que vai ganhando corpo no seu desenrolar é a “New Dawn Fades”, com belo solo de entrada e uma base soturna e vocais sussurrados e comportados de Curtis sobre uma base de guitarras dedilhadas.

Difícil deixar as outras faixas de fora dos destaques, é um disco muito coeso e atemporal pelas inovações e principalmente pelo que representa para o post-punk e sua diluição de gêneros vindos nos anos seguintes. 

Unknown Pressure ainda ganhou fôlego e vendeu sua primeira prensagem de 10.000 cópias após o lançamento do single “Transmission”, música que não estava no álbum e saiu em outubro de 79.

“Transmission” é um faixa seminal, que tem tudo que representa o estilo, uma faixa coesa e experimental ao mesmo tempo, elementos eletrônicos, baixos e guitarras que conversam o tempo inteiro e o vocal hipnótico de Ian Curtis.

Quis o destino que Closer, seu segundo álbum de estúdio, lançado em 1980, chegaria as lojas após o suicídio de Curtis que sofria de depressão desde sua adolescência.

Antes de Curtis ter saído de cena, é necessário citar outras bandas e discos da safra de 1979 que de alguma forma contribuíram para a consolidação e apogeu do post-punk:

  • The Fall: Live at the Witch Trials 
  • The Pop Group – Y 
  • The Slits: Cut
  • The Raincoats e seu álbum homônimo

Mas a verdade é que com a perda de Ian Curtis, os integrantes Peter Hook, Bernard Sumner e Stephen Morris formaram o New Order e as mudanças culturais e sonoras ocorridos na época contribuíram para a diluição do post-punk em novos estilos e subgêneros como New Wave, Gótico, Synth-Pop e New Romantic.


FAQ sobre POST PUNK

O que é post punk?

O post-punk é um gênero musical que surgiu no final dos anos 1970 como uma evolução do punk rock, caracterizado por uma abordagem mais experimental e artística.

Quais são as características sonoras do post punk?

Suas características sonoras incluem o uso de guitarras angulares e distorcidas, baixos marcantes, batidas pulsantes e vocais muitas vezes desconectados e emocionais.

Como surgiu o post punk?

O post-punk emergiu como uma reação ao punk rock, buscando uma sonoridade mais complexa e experimental, explorando temas como alienação, política e existencialismo.

Quais são as principais bandas de post punk?

Algumas das principais bandas de post-punk incluem Joy Division, Siouxsie and the Banshees, The Cure, Gang of Four e Wire, que ajudaram a definir o som e o estilo do gênero.

Quem inventou o post punk?

Não existe um único inventor do post-punk, pois foi um movimento coletivo de várias bandas que compartilhavam ideias e influências, moldando assim o gênero.

Do que trata as letras de post punk?

As letras do post-punk frequentemente abordam temas como alienação social, desespero, política, críticas à sociedade e questões existenciais, refletindo o clima cultural e político da época.

Autor

    Uma resposta para “Como surgiu o post-punk?”

    1. […] O Krautrock foi a semente de uma onda de artistas que começaram a incorporar, experimentalmente, sintetizadores e baterias eletrônicas em suas composições. É uma cena que nasce com a ideia de uma luta global da juventude contra o imperialismo e o capitalismo, que combinou a exploração educada de teoria musical com aventuras psicodélicas. Não à toa que era uma cena artística/estudantil/de arte experimental. Era psicodélico, só que de um jeito diferente, buscando inspiração nas improvisações do jazz, que de uma maneira mais econômica, mais minimalista. Era tão minimalista que chegou a influenciar o punk, surgindo assim uma nova onda, o pós punk. […]

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