Antes de David Bowie se tornar o ícone que conhecemos hoje, ele passou por uma série de experimentações e aprendizado na indústria da música. O jovem David Robert Jones, nome de nascimento de Bowie, começou sua trajetória musical integrando várias bandas locais em Londres. Entre elas, destacam-se The Konrads e The King Bees, grupos que permitiram a Bowie a desenvolver suas habilidades artísticas e entender a dinâmica do mundo musical.
The Konrads foi a primeira banda importante para Bowie, nela o camaleão tocava saxofone e fazias as vezes de vocalista em alguns momentos. Sua participação nesse grupo o ajudou a dar os primeiros passos. No entanto, foi com The King Bees que Bowie avançou decisivamente em sua carreira, buscando inspiração no blues e no rock ‘n’ roll. Com The King Bees, Bowie lançou seu primeiro single, “Liza Jane,” em 1964, embora este não tenha alcançado sucesso comercial.
Essas experiências iniciais foram cruciais para a formação do artista David Bowie. Enquanto lidava com a falta de reconhecimento e o desafio de se destacar em um cenário, Bowie desenvolveu uma resiliência que seria fundamental em sua carreira futura. Ele aprendeu a navegar pelas complexidades da indústria musical, desde a composição e performance até a gestão das expectativas e frustrações inerentes à profissão.
Além dos desafios externos, Bowie enfrentou obstáculos internos, incluindo a luta para definir sua identidade artística. Ele passou por diversas mudanças de nome artístico e estilo musical, buscando incessantemente uma voz única que encontrasse um público disposto a ouvi-lo. Essa fase de experimentação e autodescoberta foi essencial para que Bowie desenvolvesse a confiança.
Índice
O Primeiro álbum sem sucesso
Em 1967, David Bowie lançou seu primeiro álbum autointitulado, marcando o início de sua carreira musical. Este álbum foi uma mistura eclética de estilos, refletindo as diversas influências que moldaram o jovem artista. A sonoridade do disco incorporava elementos do pop, do rock e até do music hall, uma combinação que, apesar de interessante, não conseguiu capturar a atenção do público na época.
O álbum de estreia de Bowie foi não teve o respaldo que ele desejava e obteve baixas vendas. Uma das razões principais para o fracasso comercial foi a falta de um estilo coeso, de uma identidade que o destacasse entre tanto outros artistas daquela época.. Além disso, a cena musical dos anos 60 estava repleta de bandas icônicas como The Beatles e The Rolling Stones, o que dificultava ainda mais a entrada de novos artistas no mercado.
As letras das músicas no álbum autointitulado de David Bowie exploravam temas variados e muitas vezes excêntricos, demonstrando sua habilidade lírica e visão artística. No entanto, essa diversidade também contribuiu para a falta de identidade clara do álbum, tornando-o menos acessível para o ouvinte médio. Produzido por Mike Vernon e arranjado por Dek Fearnley, o disco incluía faixas como “Rubber Band” e “Love You Till Tuesday”, que, apesar de criativas, não conseguiram se destacar nas paradas musicais.
Apesar do fracasso inicial, o lançamento desse álbum proporcionou a Bowie uma importante experiência, ele aprendeu a desenvolver uma identidade única para se destacar na indústria musical.
De “Space Oddity” a “Hunky Dory”: O folk espacial
O lançamento de “Space Oddity” em 1969 foi o ponta pé para a virada na carreira de David Bowie. A canção, inspirada pela missão Apollo 11, apresentou ao mundo o Major Tom, um personagem que se tornaria uma figura recorrente no universo criativo de Bowie. A faixa, com sua combinação única de folk e elementos espaciais, não apenas deu a visibilidade que Bowie buscava, mas também estabeleceu as bases para seu estilo.
O álbum “Space Oddity”, lançado no mesmo ano, expandiu ainda mais esse conceito de “folk espacial”. Com músicas como “Memory of a Free Festival” e “Cygnet Committee”, Bowie explorou temas de isolamento, identidade e exploração, tanto no sentido literal quanto figurado. A mistura de instrumentos acústicos com sons eletrônicos e letras introspectivas.
Em 1970, Bowie lançou “The Man Who Sold the World”, um álbum que marcou uma nova fase em sua evolução musical. Embora menos folk e mais orientado para o rock, o álbum manteve a experimentação lírica e sonora que Bowie começou a explorar em “Space Oddity”. Faixas como a faixa-título e “All the Madmen” abordaram temas de alienação e loucura, refletindo uma visão de mundo cada vez mais complexa e multifacetada.
Com “Hunky Dory”, lançado em 1971, Bowie consolidou ainda mais seu multifacetado estilo. Este álbum apresentou uma variedade eclética de influências, desde o pop barroco até o rock experimental. Canções como “Changes”, “Life on Mars?” e “Oh! You Pretty Things” não só demonstraram o crescimento lírico de Bowie, mas também sua habilidade em mesclar gêneros de maneira fluida. “Hunky Dory” é frequentemente considerado um dos melhores trabalhos de Bowie.
Esses três álbuns, “Space Oddity”, “The Man Who Sold the World” e “Hunky Dory”, representam a jornada inicial de David Bowie em direção ao estrelato.
Era glam rock e a ascensão ao sucesso
A era glam rock de David Bowie marcou mais uma virada na carreira, tanto musicalmente quanto visualmente. Durante este período, Bowie criou um dos seus alter egos mais icônicos: Ziggy Stardust. Este personagem não era apenas uma persona de palco, mas também desafiava as normas de gênero e abria novas possibilidades artísticas. Ziggy Stardust se tornou um fenômeno cultural, influenciando não apenas a música, mas também a moda e a percepção pública de identidade e performance.
O álbum “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, lançado em 1972, é frequentemente citado como o álbum mais icônico da história do rock. Com hits como “Starman” e “Suffragette City”, o álbum não só solidificou David Bowie como um astro do rock, mas também trouxe uma narrativa coesa e teatral à música. A história de Ziggy Stardust, um roqueiro alienígena que vem à Terra para salvar a humanidade, capturou a imaginação do público e da crítica, tornando-se um marco na carreira de Bowie.
Em seguida, o álbum “Aladdin Sane” de 1973 continuou a explorar o glam rock, mas com uma abordagem mais sombria e introspectiva. Descrito por Bowie como “Ziggy vai para a América”, o álbum refletia suas experiências durante a turnê nos Estados Unidos. Músicas como “The Jean Genie” e “Drive-In Saturday” mostravam um Bowie mais maduro, mas ainda profundamente imerso na teatralidade e no experimentalismo que definiram a era glam rock.
A influência cultural desta fase foi imensa. David Bowie não apenas redefiniu o que significava ser um astro do rock, mas também abriu caminho para futuras gerações de artistas que buscavam romper com as convenções estabelecidas. A moda glam, caracterizada por roupas extravagantes, maquiagem pesada e uma estética andrógina.
‘Plastic Soul’ e o Thin White Duke
A fase ‘plastic soul’ de David Bowie marcou uma mudança significativa em sua trajetória musical, refletida principalmente no álbum “Young Americans”, lançado em 1975. Nesta fase, Bowie incorporou elementos do soul e do funk, afastando-se do glam rock que caracterizara seus trabalhos anteriores. O termo ‘plastic soul’ foi cunhado pelo próprio Bowie, indicando uma versão adaptada e estilizada do soul tradicional, influenciada por artistas como James Brown e Aretha Franklin. Este álbum ampliou ainda mais o espectro sonoro do artista e lhe rendeu grande sucesso comercial, especialmente com a faixa “Fame” um parceria com John Lennon, que atingiu o topo das paradas nos Estados Unidos.
Durante essa época, Bowie também deu vida a outro personagem icônico: o Thin White Duke. Este alter ego surgiu no álbum “Station to Station” de 1976 e representou uma figura arquetípica, fria e elegante, que se tornaria emblemática de sua persona artística. O Thin White Duke é frequentemente associado ao estilo mais experimental e europeu de Bowie, refletido em músicas como “Golden Years” e “TVC 15”. Além disso, a influência deste personagem se estendeu ao álbum ao vivo “David Live”, gravado durante a turnê de 1974, que consolidou a imagem do artista como um camaleão musical.
A incorporação do soul e do funk, juntamente com a criação do Thin White Duke diversificou seu repertório e solidificou sua reputação como um inovador incansável. A capacidade de Bowie de transcender gêneros musicais e reinventar sua imagem artística influenciou profundamente a música da época, inspirando inúmeros artistas.
A Trilogia de Berlim, New Romantic e a Era Pop Oitentista
A fase experimental de David Bowie na Trilogia de Berlim, composta pelos álbuns “Low”, “Heroes” e “Lodger”, marcou um período de tentativa de manter-se longe das droghas. Em colaboração com Brian Eno, Bowie mergulhou em um som mais eletrônico e ambiental, diferenciando-se significativamente de seus trabalhos anteriores. “Low” (1977) estabeleceu o tom dessa nova direção, com uma mistura de instrumentais atmosféricos e letras introspectivas. “Heroes” (1977), talvez o mais icônico dessa trilogia, apresentou a faixa-título que se tornou um hino de resistência e esperança. “Lodger” (1979), por sua vez, concluiu essa fase com uma abordagem mais eclética e de vanguarda.
Iggy Pop foi outro que apoiou Bowie em sua carreira da fase Berlim, servindo como uma aprendiz, nessa época amizade entre os dois tornou-se mais profunda, Bowie foi responsável pela produção dos dois primeiros trabalhos solos de Iggy.
O impacto dessa trilogia foi profundo e duradouro, influenciando o movimento New Romantic que emergiu no início dos anos 80. Bandas como Duran Duran e Spandau Ballet foram claramente inspiradas pela estética e pelo som inovador que Bowie ajudou a popularizar. O uso de sintetizadores e a fusão de estilos musicais foram elementos que se tornaram centrais para o New Romantic, refletindo a influência de Bowie nessa cena emergente.
Com a chegada dos anos 80, David Bowie fez uma transição notável para uma era mais pop, sem perder sua capacidade de reinventar-se.
Com “Scary Monsters” de 1990, Bowie atingiu o que o biógrafo David Buckley chamou de “o equilíbrio perfeito” de criatividade e sucesso. Aclamado pela crítica, o disco alcançou o primeiro lugar nas paradas britânicas e restaurou o suporte comercial de Bowie nos EUA.
O álbum “Let’s Dance” (1983) marcou essa mudança, apresentando sucessos comerciais como a faixa-título “Let’s Dance”, “China Girl” e “Modern Love”. Produzido por Nile Rodgers, o álbum combinava elementos de funk e dance com a sensibilidade pop, garantindo a Bowie um sucesso tanto crítico quanto comercial. A era pop oitentista consolidou Bowie como um artista versátil, capaz de dominar múltiplos gêneros e estilos.
Hiato da Carreira Solo e Tin Machine
Durante o final da década de 1980, David Bowie tomou a decisão audaciosa de pausar sua prolífica carreira solo para se aventurar em um novo projeto musical. Essa pausa resultou na formação da banda Tin Machine, composta por Bowie como vocalista principal, Reeves Gabrels na guitarra, e os irmãos Tony e Hunt Sales no baixo e bateria, respectivamente. A decisão de se juntar a uma banda foi motivada pelo desejo de Bowie de se afastar da imagem de estrela solo e explorar uma dinâmica mais colaborativa.
O Tin Machine lançou seu álbum de estreia homônimo em 1989, que apresentou uma mudança significativa no estilo musical de Bowie. O som da banda era notavelmente mais cru e agressivo, incorporando elementos do hard rock e do punk, contrastando com o trabalho mais experimental e glam de Bowie até então. Apesar de ser um desvio de sua sonoridade habitual, o álbum alcançou um sucesso moderado e despertou a curiosidade tanto do público quanto da crítica. O segundo álbum, “Tin Machine II”, lançado em 1991, manteve o mesmo direcionamento musical, porém com uma recepção mais mista.
A interação entre os membros da banda proporcionou a Bowie uma nova visão criativa, permitindo-lhe experimentar sem as pressões associadas à sua identidade solo. No entanto, a reação da crítica foi variada; enquanto alguns elogiaram a audácia de Bowie em reinventar-se, outros consideraram o projeto menos impactante comparado aos seus trabalhos anteriores. A recepção do público também refletiu essa divisão, com muitos fãs sentindo falta do estilo icônico que Bowie havia estabelecido ao longo dos anos.
Apesar das opiniões divergentes, o período com o Tin Machine foi um catalisador para David Bowie. A experiência de trabalhar em um ambiente de banda rejuvenescido e energizado o influenciou profundamente, levando-o a retornar à sua carreira solo com renovado vigor.
Experimentos com Música Eletrônica nos Anos 90 e Era Neoclássica dos Anos 2000
Nos anos 90, David Bowie embarcou em uma nova fase de sua carreira, marcada por uma forte experimentação com a música eletrônica. Em 1995, ele lançou o álbum “Outside”, uma obra conceitual que explorava temas de arte e assassinato, com uma sonoridade densa e industrial. Este álbum foi um marco na carreira de Bowie, mostrando sua disposição em mergulhar em territórios musicais desconhecidos e colaborar com artistas como Brian Eno. A sonoridade de “Outside” combinava elementos de rock industrial, ambient e música eletrônica, desafiando as expectativas de fãs e críticos.
Em 1997, Bowie continuou sua exploração eletrônica com o lançamento de “Earthling”. Este álbum incorporava drum and bass, jungle e outros estilos de música eletrônica que estavam emergindo na época. Faixas como “Little Wonder” e “I’m Afraid of Americans” destacaram a capacidade de Bowie de absorver e reinterpretar novas tendências musicais, mantendo sua assinatura única.
Na década de 2000, Bowie entrou em uma era que muitos chamam de sua fase neoclássica. Com álbuns como “Heathen” (2002) e Reality (2003), Bowie retornou a uma sonoridade mais tradicional, mas ainda imbuída de sua capacidade de inovação. “Heathen” foi aclamado pela crítica por sua profundidade emocional e produção refinada, enquanto Reality apresentou um Bowie introspectivo, refletindo sobre sua carreira e vida.
Últimos Anos, Álbuns e Sua Morte
Nos últimos anos de sua vida, David Bowie continuou a surpreender e a inovar no mundo da música. Em 2013, após uma década sem lançar novos trabalhos, Bowie reapareceu com o álbum “The Next Day”. Este trabalho foi aclamado pela crítica e marcou um retorno triunfal, mantendo a essência experimental que sempre caracterizou sua carreira. O álbum, que reflete sobre a passagem do tempo e a mortalidade, foi recebido como um testemunho da longevidade artística de Bowie.
Em 2015, Bowie revelou ao mundo seu último projeto, “Blackstar”, lançado apenas dois dias antes de sua morte, é frequentemente considerado um dos mais complexos e enigmáticos de sua discografia. “Blackstar” explora temas de mortalidade e renascimento, e foi interpretado como um adeus premeditado ao seu público. Com influências do jazz e do rock experimental, Bowie demonstrou mais uma vez sua capacidade única de reinventar-se e desafiar as convenções musicais.
Durante a produção de Blackstar, Bowie enfrentava uma batalha privada contra o câncer. Sua morte em 10 de janeiro de 2016, às vésperas de completar seu 69º aniversário, chocou o mundo. A maneira como ele lidou com sua doença, canalizando suas experiências pessoais em sua arte até os últimos momentos, reforçou sua imagem de artista visionário e incansável.
O impacto de David Bowie na música e na cultura popular é sem igual. Sua habilidade de se reinventar constantemente, de quebrar barreiras de gênero e estilo, e de abordar questões profundas e complexas em suas letras, deixou um legado para a humanidade. Bowie não apenas influenciou diversas gerações de músicos, mas foi além e desafiou o público a ver a arte e a vida de uma maneira nova e mais ampla.
Perguntas Frequentes sobre a carreira de David Bowie
David Bowie nasceu como David Robert Jones em 8 de janeiro de 1947, em Brixton, Londres. Ele adotou o nome artístico “Bowie” nos anos 1960 para evitar confusão com Davy Jones, do The Monkees. O nome “Bowie” foi inspirado no pioneiro americano Jim Bowie, famoso por sua faca Bowie.
Bowie é mais conhecido por seu alter ego Ziggy Stardust, que ele apresentou em 1972 com o álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Esse personagem, um rockstar alienígena andrógino, tornou-se um ícone do glam rock. A decisão de Bowie de “aposentar” Ziggy em um show de 1973 surpreendeu os fãs, mas refletiu sua constante reinvenção ao longo da carreira.
Embora Bowie tenha muitas músicas icônicas, “Space Oddity” e “Heroes” estão entre as mais populares. Lançada em 1969, “Space Oddity” foi um grande sucesso e coincidiu com o pouso da Apollo 11 na lua, tornando Bowie famoso internacionalmente. “Heroes”, lançada em 1977, tornou-se um hino de resiliência e uma de suas faixas mais queridas.
A aparência marcante de Bowie, incluindo seus olhos de cores diferentes, se deve a uma condição chamada anisocoria. Isso ocorreu após uma briga na adolescência que deixou uma de suas pupilas permanentemente dilatada, dando a impressão de que um olho era mais escuro que o outro. Esse traço aumentou sua imagem enigmática e de outro mundo.
Em 1986, David Bowie interpretou Jareth, o Rei dos Duendes no filme de fantasia Labirinto, dirigido por Jim Henson. Sua atuação, junto com suas contribuições musicais para o filme, deixou um impacto cultural duradouro, e Labirinto se tornou um clássico cult.
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