Nos anos 80 tivemos o nascimento do hardcore agressivo e rápido de bandas como Black Flag, Circle Jerks, Dead Kennedys, The Minutemen, Minor Threat, Mission of Burma e Husker Dü, apenas para citar algumas.
Eles foram responsáveis não só pela criação e desenvolvimento do estilo mas também por desbravar os caminhos do mercado independente musical em solo norte-americano, infelizmente essas bandas, hoje reconhecidas pela sua importância para história da música, não saíram do circuito independente mesmo sendo responsáveis por criar este que até então não existia.
Porém, como em muitos estilos, as gerações seguintes aos pioneiros de algum estilo encontram uma forma de fazer com que sua música alcance o mainstream, e desta vez não foi diferente com as bandas de hardcore melódico ou o punk rock californiano como se costumou chamar por aqui no Brasil.
A invasão do hardcore melódico e punk rock californiano nos 90
Tomei conhecimento do estilo lá pelo ano de 94 com a chegada do Recipe for Hate do Bad Religion ao mercado brasileiro. Muitos dos amigos eram skatistas e essa onda pegou em cheio esse público.
Quanto ao Bad Religion, o caso deles é bem estranho pois a banda foi formada em 1979 por Jay Bentley, Greg Graffin, Brett Gurewitz e Jay Ziskrout. ainda no high school norte-americano, equivalente ao ensino médio por aqui no Brasil.
A banda teve seu primeiro EP lançado pelo próprio selo, hoje já consagrado o Epitaph Records em 1981, portanto é uma das bandas que contribuíram para desbravar a cena independente. Seu primeiro disco é de 1982, How Could Hell Be Any Worse? menos melódico que os álbuns da década seguinte.
O mais curioso é que após mudanças em sua formação, a banda lançou um disco de rock progressivo, bem, ao seu estilo, mas ainda assim um progressivo encharcado de teclados.
E nessa mesma leva, começaram a pipocar em solo tupiniquim Pennywise, Rancid, Down By Law, NOFX, Offspring e na sequência o Green Day, bem este último, eu credito como pop punk, mesmo tendo vindo de arrasto e ter arrastado essa galera para o mainstream.
Aliás, o Offspring entra nessa mesma leva de pop punk após o lançamento de Smash, e mesmo que tenhamos algumas bandas que utilizam dos mesmo elementos, esse movimento é bem diferente entre si.
Por exemplo, o Rancid parece ter bebido na fonte do The Clash acelerado, misturando o punk com ska, Pennywise é hardcore acelerado na veia, porém como Bad Religion, utiliza de arranjos mais melódicos e com alguns solos curtos, mas eles estão lá.
Mas engana-se que por ser melódico, eles perderam o lado político e contestador e foram para uma linha mais emocore, pelo contrário, lá estão a visão ácida da sociedade dos pioneiros como The Minutemen ou Dead Kennedys.
Epitaph Records e o domínio sobre o hardcore melódico
Nove em cada 10 bandas do estilo eram da Epitaph Records e foi assim que o selo cresceu, apostando no estilo do próprio Bad Religion, ganhando os corações e mentes de mais fãs dos anos 80 para os 90.
O selo foi criado pelo guitarrista Brett Gurewitz que além da sua própria banda acabou mostrando ao mundo muitas outras do estilo.
Afora as bandas citadas acima, ainda assinaram com a gravadora outros ícones como Millencolin, L7, Descendents, Operation Ivy, Social Distortion e Transplants. O selo a partir dos anos 2000 começa a flertar com outras vertentes como rap e metal.
Em 94 o Bad Religion saiu da Epitaph para assinar com a major Atlantic Records e logo em seguida Brett sai da banda levando a rumores sobre o mal estar entre os integrantes sobre a troca de selo.
Em 2001 não só a banda retorna a Epitaph como Brett Gurewitz retoma seu lugar nas guitarras e lançam The Process of Belief.
5 clássicos do hardcore melódico dos anos 90 para conhecer o estilo
Bad Religion: Recipe for Hate
Impossível não citar o clássico Recipe for Hate, aqui a banda mostra a mistura perfeita de velocidade hardcore com arranjos melódicos, os vocais de Greg Graffin ganham todo refinamento que o estilo necessita com backing vocals bem construídos influenciados por Beach Boys.
Eles também começam experimentar outros elementos como country e folk em faixas como o single Struck a Nerve que foge do padrão de velocidade acelerada do hardcore e Man with a Mission.
Esta última com a participação de Johnette Napolitano do Concrete Blonde e slide guitar sobre a aceleração e galope clássico da banda.
Não podemos deixar de citar a música que fez eles estourarem mundo afora, o single American Jesus, um claro protesto ao modo de vida norte-americano e como eles enxergam o mundo.
De diferenciais sonoros vale ressaltar a música All Good Soldiers que tem um toque de ska cambaleante, liricamente contestam quanto a maneira com que os soldados são utilizados em nome de Deus pelo poder do presidente.
Rancid: …And Out Come The Wolves
Rancid é Rancid desde sempre, os vocais de Tim Armstrong são únicos e inimitáveis, mas em seu terceiro álbum de estúdio …And Out Come The Wolves eles conseguem acertar na mistura hardcore punk com ska e se dão muito bem, principalmente com o hit, sim, eles estão no mainstream, Time Bomb, tocando incessantemente em rádios e na MTV.
O álbum foi lançada em 1995 pelo selo Epitaph, a banda é daquelas para pra você curtir e cantar junto as músicas, mesmo com letras menos contestadoras que Bad Religion e um som mais “pop”, a banda mistura ska em seu caldeirão repleto de hardcore punk dando um sabor especial em sua música.
Prova disso é a faixa citada acima e outras que não fogem dessa linha como Roots Radical e Ruby Soho.
Offspring: Smash
Mais um lançamento da Epitaph Records, Smash é um álbum que segue a receita de Bad Religion, ou seja, o puro hardcore melódico, rápido e com muita melodia, seja nos arranjos instrumentais como no vocal muito bem construídos.
Fez a cabeça da molecada com o hino Gotta Get Away, Come Out and Play, Self Esteem e Bad Habit, esse último o mais hardcore melódico dos singles.
Smash é o álbum mais vendido de um selo independente e a partir daqui nunca mais vimos a mesma musicalidade do Offspring, eles cresceram e aprenderam a fazer hits como poucos.
Aliás, é inegável a capacidade de Dexter Holland e sua turma. Liricamente, menos política, o músico expõe as angústias adolescentes de sua época.
Pennywise: Pennywise
O primeiro álbum do Pennywise sai em 1991 e mantém a tradição de letras políticas de contestação vinculados a velocidade e a melodia do hardcore melódico.
Neste álbum estão as clássicas como Pennywise, Reason Why que começa com um dedilhado envolvente de guitarras até a entrar o baixo hardcore e veloz. Falando em clássica, o hino da banda Bro Hymn também é deste disco, com melodia envolvente e marcante, tem até parte para cantarolar sozinho ou berrar nos shows em catarse coletiva.
Tudo que você quer do estilo está condensado nessas 15 músicas e pouco mais de 30 minutos de som rápido, guitarras metálicas e vocal poderoso.
NOFX- Punk in Drublic
O disco cartão de visita do NOFX, Punk in Drublic, também de 94 e mais um lançado pela Epitaph, é o seu álbum mais vendido até aqui com certificação de ouro.
Impossível não se empolgar com ele, o disco começa com a pedrada melódica Linoleum, precedida de Leave It Alone.
Além disso, tem os hinos Don´t Call Me White falando sobre segregação racial e mostrando que todos somos um, sem a necessidade de preconceito.
Liricamente NOFX faz críticas pesadas a sociedade e ao modo de vida norte-americano.
FAQ sobre Hardcore Melódico
Hardcore melódico, também conhecido como melodic hardcore em inglês, é um subgênero do hardcore punk que incorpora elementos melódicos e muitas vezes emocionais em sua música. Este estilo emergiu nos anos 80 e foi influenciado pelo hardcore punk tradicional, mas com uma abordagem mais melódica, usando estruturas de música mais complexas e muitas vezes letras introspectivas.
Uma das características distintivas do hardcore melódico é a combinação de ritmos rápidos e pesados com melodias mais elaboradas. As bandas desse gênero muitas vezes apresentam vocais gritados ou berrados, porém com refrãos melódicos e harmonias vocais mais elaboradas. Isso cria um contraste entre a agressividade das partes mais rápidas e a emotividade das partes melódicas.
Uma das influências-chave para o surgimento do hardcore melódico foi o próprio punk rock, que já havia introduzido a ideia de músicas curtas e diretas, além de letras que muitas vezes abordavam temas sociais e políticos. No entanto, o hardcore melódico trouxe uma nova abordagem, incorporando elementos melódicos mais complexos e letras emocionais e introspectivas.
Existem várias bandas influentes no gênero do hardcore melódico que contribuíram significativamente para o seu desenvolvimento e popularidade ao longo dos anos. Aqui estão algumas das principais bandas de hardcore melódico: Panny wise, Bad Religion, Offspring, NOFX, Rancid, Rise Against, Strike Anywhere e Ignite são alguns exemplos.
O Bad Religion, formada em 1980 na Califórnia, é frequentemente citada como pioneira do hardcore melódico. O Bad Religion combinou a velocidade e agressividade do hardcore punk com harmonias vocais mais elaboradas e estruturas de música mais complexas. Seu álbum de estreia de 1982, intitulado “How Could Hell Be Any Worse?”, é considerado um marco no gênero.
No que diz respeito às letras, o hardcore melódico aborda uma variedade de temas, desde questões sociais e políticas até questões pessoais e emocionais. Muitas vezes as letras são reflexivas e pessoais, lidando com temas como alienação, amor, perda e auto-expressão.
Deixe um comentário