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Stan Rogers: O Trovador do Canadá

Nascido numa noite gelada de novembro de 1949, em Hamilton, Ontário, Stanley Allison Rogers emergiu não somente como um talento musical, mas como uma alma intrinsecamente tecida na trama do folclore canadense. Sua infância, embora passada nos contornos suburbanos de Caledonia, foi impregnada das ricas tradições e melodias marítimas de Nova Escócia, onde passava seus verões. Essas experiências não apenas moldaram o jovem Stan, mas também semearam as raízes profundas de uma carreira que se tornaria um legado inestimável para a música folk.





O jovem Rogers, dotado de uma voz de barítono que parecia evocar as próprias paisagens do Canadá, mergulhou no cenário musical no final dos anos 60. Mas foi na década seguinte que sua estrela realmente começou a brilhar. Com o lançamento de “Fogarty’s Cove” em 1976, Rogers não apenas introduziu um novo som no cenário folk canadense, mas também um novo enredo – um que entrelaçava as histórias e os espíritos das comunidades marítimas com a vasta tapeçaria da identidade canadense.





“Fogarty’s Cove”, com suas baladas comoventes e retratos vívidos da vida costeira, foi apenas o início. O álbum estabeleceu Rogers como um narrador da experiência marítima, mas seu subsequente “Turnaround” de 1978 expandiu seu escopo para incluir reflexões mais introspectivas e universais. A transição de melodias do mar para temas mais profundos e pessoais revelou a versatilidade de Rogers como compositor e sua capacidade de tocar corações além das fronteiras marítimas.

Contudo, foi com “Northwest Passage” de 1981 que Rogers alcançou o pináculo de sua arte. A faixa-título do álbum, uma poderosa mistura de história e reflexão pessoal, tornou-se um símbolo indelével da busca e descoberta, não apenas do Canadá, mas do próprio ser. Este álbum, celebrando tanto a jornada dos exploradores do passado quanto as viagens do coração solitário, solidificou a posição de Rogers como um ícone da música folk, cujas obras se tornaram hinos de uma nação e de sua gente.

Sua jornada, no entanto, foi abruptamente interrompida. Em junho de 1983, a tragédia reivindicou a vida de Rogers em um incêndio a bordo do Voo 797 da Air Canada. Com apenas 33 anos, sua morte não apenas deixou um vazio na música folk, mas também interrompeu uma carreira que ainda tinha muito a oferecer, apesar disso, seu último trabalho, “From Fresh Water”, lançado postumamente, serviu como um testemunho final da profundidade e amplitude de sua visão artística, mergulhando nas histórias e mitos dos Grandes Lagos.

O legado de Stan Rogers transcende suas canções, ele é um símbolo da identidade canadense, um pintor de paisagens sonoras e um arquiteto de memórias coletivas. As histórias que ele cantou e as imagens que ele invocou continuam a ressoar, não apenas dentro dos confins do folk, mas como um eco através das gerações, lembrando-nos das tramas comuns de nossa existência.

Como um verdadeiro trovador, Rogers nos deixou um tesouro de narrativas, uma coleção de canções que servem como um mapa do coração canadense. Através de suas letras, navegamos pelas águas turbulentas da vida, exploramos as vastas planícies da alma e enfrentamos os vendavais da adversidade.

Stan Rogers criou um legado atemporal através de sua discografia, discografia essa que descobri e me foi apresentado pelo meu grande amigo Eri durante minha passagem pelo Canadá. A seguir uma pitadinha da dos discos mais importantes do Stan Rogers

Fogarty’s Cove (1976)

Fogarty’s Cove, o primeiro álbum de estúdio de Rogers, é uma joia da música folk, introduzindo o ouvinte ao mundo marítimo da Nova Escócia. Este álbum encapsula a essência das pequenas comunidades pesqueiras, misturando canções originais com adaptações de clássicos folk. Destacam-se faixas como a homônima “Fogarty’s Cove”, uma evocativa descrição das duras e belas realidades da vida costeira, e “Maid on the Shore”, que ressoa com o misticismo e as lendas do mar. Através destas canções, Rogers não apenas conta histórias, mas também pinta paisagens sonoras que transportam o ouvinte para o coração do Atlântico canadense.

Turnaround (1978)

O segundo álbum de Rogers, Turnaround, representa uma expansão temática, explorando mais profundamente as intersecções da vida pessoal e coletiva. A faixa “The Jeannie C.” narra a angustiante jornada de um navio de pesca, simbolizando a luta contra as adversidades. Este álbum reflete um amadurecimento nas habilidades de composição de Rogers, equilibrando o pessoal com o universal. A canção “45 Years” se destaca como uma das mais emotivas, refletindo sobre o amor e o compromisso, mostrando a versatilidade de Rogers como compositor.

Northwest Passage (1981)

Considerado por muitos como a obra-prima de Stan Rogers, Northwest Passage é mais do que um álbum; é uma epopeia musical. A faixa-título é uma poderosa fusão de história e música, uma busca pela mítica passagem do Ártico ligada à jornada de autodescoberta. Este álbum é um mosaico de canções que refletem sobre a identidade canadense, a história e a natureza. Músicas como “The Field Behind the Plow” e “The Idiot” retratam a vida rural e as lutas dos trabalhadores, consolidando o álbum como um marco na cultura folk e nacional.

From Fresh Water (1984)

Lançado postumamente, é uma homenagem às águas interiores e à história dos Grandes Lagos. Canções como “White Squall” e “The Nancy” contam histórias de naufrágios e de coragem humana, enraizadas na história marítima do interior. “Lock-Keeper” oferece uma meditação sobre as escolhas de vida, representando a constante troca entre a estabilidade e a aventura. Este álbum encapsula o amor de Rogers pelos contos e pela geografia canadense, apresentando uma perspectiva íntima sobre a identidade e o patrimônio nacional.

Além destes álbuns principais, a discografia de Stan Rogers inclui gravações ao vivo e compilações que oferecem vislumbres adicionais de seu talento e profundidade como artista. Seus álbuns ao vivo, como “Between the Breaks…Live!” capturam a energia e a paixão de suas performances, enquanto compilações póstumas como “Home in Halifax” (meu preferido) oferecem uma retrospectiva abrangente de sua carreira.

A discografia de Stan Rogers é uma crônica musical da vida, da paisagem e do espírito do Canadá. Cada álbum é uma cápsula do tempo, imortalizando as tradições, as histórias e as emoções de um país e de seu povo. Rogers não apenas deixou um legado de canções, mas também um mapa sonoro que continua a guiar e inspirar, uma verdadeira bússola apontando para o coração da identidade canadense. Ele também foi um pioneiro da indústria musical cujo sucesso como artista independente inspirou outros e contribuiu para o desenvolvimento da próspera cena musical independente do Canadá.

Publicando este texto espero não apenas relembrar a vida e obra de Stan Rogers pela qual aprendi a gostar, mas também inspirar uma nova geração a descobrir suas canções, suas histórias e, por meio delas, explorar as profundezas de sua própria jornada. Stan Rogers, um gigante da música folk canadense.

https://open.spotify.com/intl-pt/album/1AJvWkRAg2pcVkBb5RjVPU?si=Rslibif4RbCS5QgmsxZzfw

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é aquele típico nerd e pai de duas meninas, que tem seu jeito único – um pouco rabugento e com TDA. Não deu certo na música, mas encontrou seu caminho na TI, onde está há uns 26 anos. O cara é conhecido por não ter papas na língua e por um senso de humor bem afiado, que nem todo mundo entende. Já rolou até uma fase de co-apresentador no programa Gazeta Games na Rádio Gazeta de São Paulo, mostrando seu lado gamer. E, claro, a música? Continua sendo uma das suas grandes paixões.

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