50 anos de “Tonight’s the Night” de Neil Young | RD #061

Nesse episódio do Redação DISCONECTA, Luis Fernando Brod, Marcelo Scherer e Julio Mauro falaram sobre os 50 anos de um álbum que é um verdadeiro discasso. Lançado em 1975, mas gravado lá em 1973, “Tonight’s the Night” de Neil Young é considerado o último disco da famosa “trilogia fossa” ou trilogia ditch, que na ordem de lançamento veio depois de “Times Fade Away” (lançado primeiro) e “On the Beach”.

O álbum é profundamente marcado pela melancolia e fala muito sobre morte, perda e depressão. Essa “fossa” toda se deu principalmente pela morte de dois amigos próximos de Neil Young: Danny Whitten, guitarrista do Crazy Horse, que morreu de overdose em 1973, e Bruce Berry, roadie da banda, que também faleceu de overdose poucos meses depois. Bruce Berry é, inclusive, mencionado no início e no fim do disco. Há um peso de culpa em Young sobre a morte de Whitten, especialmente por tê-lo demitido pouco antes de sua morte, dando-lhe uma passagem de ônibus e 50 dólares. Danny Whitten participa da faixa “Come On Baby Let’s Go Downtown”.

Apesar dos temas pesados, o que é sensacional é o contraste do som: o instrumental em muitos momentos alegres, totalmente o inverso das letras. Luis Fernando Brod e os outros participantes notaram essa dualidade, comparando-a com a depressão, onde a pessoa pode parecer bem por fora (“a casca que tá bonita”), mas estar “destruída por dentro”. Ouvir as letras com atenção é o que revela a “paulada” que Young estava passando.

A sonoridade do disco é crua, suja e com pouquíssima produção. É o “Neil Young na sua forma mais pura”, gravado como se fosse ao vivo, capturando o feeling do momento da banda. Essa falta de polimento foi o que fez a gravadora hesitar em lançá-lo antes, já que queriam algo mais produzido como “Harvest”, o grande sucesso de Young na época. Quem ouve com fones de ouvido de qualidade pode perceber detalhes como Neil Young batendo no pedestal do microfone ou a voz se afastando dele. A presença do pedal steel guitar ou slide guitar também contribui para a sensação de melancolia.

As gravações aconteceram no Studio Instrument Rentals (SIR), um local indicado por Bruce Berry. O ambiente de gravação era intenso, com o pessoal se reunindo no final da tarde, consumindo maconha e tequila, e começando a gravar por volta da meia-noite, quando estavam “muito chapados mas com a sensibilidade a flor da pele”. Young descreveu essa experiência como “assustador” e disse sentir “esse álbum mais do que qualquer outro que eu já fiz”. Foi mencionado também o uso de “Honey Slides”, uma combinação de mel e maconha que induzia a uma euforia próxima à da heroína e que teria colocado Young em contato com seu “eu mais depressivo”. Em uma entrevista de 1975, Young falou que “Tonight’s the Night” é como uma “carta de overdose”, girando “em torno da vida da droga e da morte”.

Os hosts do Redação Desconecta destacaram a atitude anti-rockstar de Neil Young, que nunca quis ser um rockstar tradicional, lutava contra a fama e tinha opiniões fortes. Sua turnê pós-Harvest, tocando músicas inéditas em vez dos sucessos, é vista como uma atitude “anti-herói”. Sua discografia é considerada confusa porque ele grava álbuns e só os lança anos depois, fora da ordem cronológica de gravação, o que torna mais lógico entender sua obra pelos momentos de gravação.

Musicalmente, além da crueza e do pedal steel, o disco tem influências de blues e algumas levadas que lembram bandas dos anos 60 como o Creedence Clearwater Revival. A faixa “Borrowed Tune” é curiosa por “chupar” a melodia de “Lady Jane” dos Rolling Stones; Young inclusive canta na letra que pegou emprestado porque estava muito chapado para escrever a própria melodia. Entre as músicas que se destacam para os hosts estão “Mellow My Mind”, a faixa-título (“Tonight’s the Night” Parte 1 e 2), e “Come On Baby Let’s Go Downtown”. Foi notado que em uma música Young parece cantar com falta de fôlego, como se não conseguisse atingir o tom. A faixa “Speakin’ Out” é vista como um pouco fora dos padrões de Young, com uma baladinha de piano que parece um blues de cabaré.

A sonoridade mais suja e o tipo de composição deste álbum são vistos como uma antecipação do que Young faria depois em discos como “Rust Never Sleeps” e, de forma mais ampla, no movimento grunge que estourou nos anos 90. Young é considerado o “padrinho do Grunge”. Ele influenciou muitos artistas, como Bruce Springsteen e Nando Reis, sendo este último um grande admirador de Young.

Detalhes da capa original também foram comentados: ela é em preto e branco com alto contraste. Nas primeiras edições, era impressa em papel de mata-borrão, criando um efeito único e interessante. Nessas edições, havia uma mensagem embaixo: “sinto muito você não conhece essas pessoas né mas isso não e isso não significa nada para você né”, referindo-se aos amigos falecidos em homenagem aos quais o disco foi feito.

No fim das contas, “Tonight’s the Night” é visto mais do que um disco sobre depressão e morte, mas sim sobre luto, que pode ser confuso e descontrolado. A mistura de sentimentos, euforia com crise depressiva, transborda no álbum, que começa em uma alegria e vai deprimindo, para depois dar uma levantada no final. É um álbum visceral, autêntico e emocionalmente carregado que capturou um momento sombrio na vida de Neil Young.

Ouça abaixo o Redação DISCONECTA #061 sobre os 50 anos de Tonight’s The Night do Neil Young

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