Em recente episodio do programa Redação DISCONECTA, os apresentadores Marcelo Scherer, Luis Fernando Brod e Virgílio Migliavacca mergulharam no universo de “Goo”, o icônico álbum do Sonic Youth que celebra 35 anos. Lançado em 1990, este trabalho é um marco absoluto da música alternativa e representou um ponto de transição crucial para a banda, sendo o primeiro lançamento por uma grande gravadora, a Geffen Records. Este disco não apenas bagunçou o cenário musical da época, mas também abriu as portas para a revolução sonora dos anos 90.
A capa de “Goo”, com ilustração de Raymond Pettibon, tornou-se rapidamente um verdadeiro marco da cultura pop. Sua arte em preto e branco, que retrata um casal com uma mulher fumando um cigarro, é tão distintiva que ainda hoje estampa camisetas, rivalizando em reconhecimento com a de bandas como Ramones e Nirvana. É interessante notar que Pettibon já era conhecido por seu trabalho em diversas capas de álbuns do Black Flag, conectando ainda mais a estética punk ao mainstream.
Sonic Youth: Precursores e Influenciadores do Mainstream
O Sonic Youth está em atividade desde 1981 e com seu primeiro disco lançado em 1985, é aclamado por sua originalidade e personalidade sonora inimitável, embora muitos tenham tentado imitá-los. Eles desempenharam um papel fundamental na ascensão do rock alternativo, sendo os primeiros a “dar um tapa no mainstream” com “Goo”. Um exemplo marcante de sua influência é o fato de que foi uma indicação da própria banda para a DGC que levou ao sucesso explosivo do Nirvana com “Nevermind”. Isso ressalta o papel de precursores do Sonic Youth e a forte coesão da comunidade alternativa de Nova York e além.
A música do Sonic Youth é caracterizada por guitarras dissonantes, letras ácidas e uma atitude punk. Embora “Goo” seja considerado mais “palatável” em comparação com trabalhos anteriores, como “Daydream Nation” (1988), tornando-o uma porta de entrada ideal para novos ouvintes, o experimentalismo permanece. O álbum apresenta trocas de vocalistas e momentos de “noise violento”, como a faixa número 10, que é “barulho puro” por 60 segundos.
A banda incorporou uma vasta gama de influências, desde o noise pop, evidente em grupos como Pavement, até elementos do free jazz, com músicas que se transformam em “jam sessions intermináveis”. Suas referências incluem ícones da cena de Nova York dos anos 70, como Velvet Underground, Television, Ramones e Patti Smith, além de bandas de Detroit, como Stooges e MC5. A colaboração com Chuck D do Public Enemy na faixa “Cool Thing” também demonstra a mente aberta da banda para a fusão de gêneros, especialmente em um período em que a divisão entre rock e rap era mais rígida no Brasil. Notavelmente, “Cool Thing” chegou a aparecer na Billboard, um feito significativo para uma banda underground.
A cultura do “do it yourself” (“faça você mesmo”), tão característica do underground e do punk setentista, foi fundamental para o Sonic Youth. A banda se sustentava através de shows em galpões e garagens, e a venda de camisetas e merch era essencial para financiar suas turnês. Essa mentalidade de independência e a forte comunidade que se formou entre as bandas de Nova York e da costa oeste foram cruciais para o surgimento e a consolidação do movimento rock alternativo.
Kim Gordon e o Desfecho do Sonic Youth
O livro “Garota da Banda”, da co-fundadora e baixista Kim Gordon, oferece um mergulho profundo na história do Sonic Youth, revelando o contexto das gravações e o cenário da época. A autobiografia também aborda o fim da banda em 2011, que foi catalisado pela separação de Kim Gordon e Thurston Moore, um casal e parceiros musicais. A infidelidade de Moore foi o estopim para o rompimento. Kim Gordon é descrita como uma figura “muito ativa” e uma “feminista”, e sua letra em “Tunic (Song for Karen)”, que faz referência à trágica história de Karen Carpenter, demonstra seu forte posicionamento.
A formação artística de Kim Gordon, que estudou no Hot College of Art and Design em Los Angeles antes de se mudar para Nova York, é destacada como um fator que contribuiu para a profundidade e a complexidade da banda. Marcelo, Luis Fernando e Virgílio enfatizam que a música do Sonic Youth não é apenas som, mas um “conjunto de coisas” que se afunilam, incluindo a cultura geral e o “estofo musical” dos artistas.
Faixas Destaques de “Goo”
As quatro faixas iniciais de “Goo” são consideradas a “base do álbum”. Elas equilibram experimentação com um som mais acessível, flertando com o punk e o rock puro, e evidenciam a crueza das influências dos anos 70 que a banda vivenciou. A faixa “Tunic (Song for Karen)”, cantada por Kim Gordon, é elogiada por sua sonoridade “etéreo” e a semelhança com a dinâmica do Pixies, além de sua letra impactante, que faz referência à trágica história de Karen Carpenter. Outras faixas mais experimentais e curtas, como “Milder Pierce” e “Scooter and Jinx”, evidenciam o lado barulhento e ruidoso da banda.
O Sonic Youth deixou sua marca em todo o mundo, prova disso é sua influência em países como Brasil, onde bandas como Pin Ups e Ludovic reconhecem sua imprortância como formação musical.. Isso demonstra o amplo alcance e o impacto global de sua sonoridade única. Em suma, “Goo” não é apenas um álbum, mas a prova da genialidade do Sonic Youth, sua capacidade de transitar entre o underground e o mainstream, e seu impacto duradouro na música e na cultura alternativa.
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