Um dos álbuns mais importantes da história do Heavy Metal foi gravado na casa de Ringo Starr. E tem som de talheres sacudidos no microfone. É assim que começa a jornada de “British Steel”, obra-prima do Judas Priest que acaba de completar 45 anos — e continua mais relevante do que nunca.
No mais recente episódio do podcast Redação DISCONECTA, os apresentadores Luis Fernando Brod e Marcelo Scherer mergulharam fundo nesse clássico absoluto, desvendando os bastidores, as transformações e o legado de um disco que ajudou a moldar o Heavy Metal como o conhecemos hoje.
Lançado em 14 de abril de 1980, o álbum chegou ao mundo no mesmo dia que o debut do Iron Maiden e semanas antes de Wheels of Steel, do Saxon. Coincidência? Talvez. Mas para os fãs e estudiosos do gênero, essa tríade marca o início oficial da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) — um renascimento do Metal britânico que ecoa até hoje.
“British Steel” não foi apenas o sexto álbum do Judas Priest. Foi um divisor de águas, um marco na história da banda e do gênero. Com músicas curtas, diretas, refrões memoráveis e produção mais limpa, o disco conseguiu o que parecia impossível: popularizar o Metal sem diluir sua essência. Foi considerado mais acessível do que os trabalhos anteriores da banda, e, ainda assim, manteve a agressividade e o peso que fizeram o nome do Judas Priest.
E é impossível entender essa mudança sonora sem falar da influência inesperada do AC/DC. Após abrirem shows para os australianos entre 1978 e 1979, o Priest passou a incorporar estruturas mais simples, batidas retas e riffs 4×4 — uma guinada rítmica que se tornou assinatura do álbum.
Outra mudança decisiva foi na bateria: Les Binks, conhecido por seu estilo técnico e detalhado, deu lugar a Dave Holland, cuja pegada direta e funcional se encaixou perfeitamente no novo som da banda. Curiosamente, a notícia da morte de Binks veio justamente no dia em que o álbum completou 45 anos — um ciclo se fechando.
Por trás das cortinas, o produtor Tom Allom foi peça-chave. Já havia trabalhado com a banda no ao vivo Unleashed in the East (1979), mas foi em British Steel que realmente imprimiu sua marca: refrões em destaque, timbres limpos e uma abordagem mais comercial sem perder a força do Metal. Não à toa, Allom se tornou presença constante na discografia da banda até Ram It Down.
E sim, a gravação ocorreu na casa de Ringo Starr, com um estúdio improvisado e defasado tecnologicamente. Resultado? Criatividade forçada. O som metálico em Metal Gods, por exemplo, foi feito sacudindo uma bandeja de talheres em frente ao microfone e arrastando correntes no chão.
O impacto do álbum foi imediato. Nos Estados Unidos, onde o Metal ainda buscava espaço, o Judas Priest se transformou em headliner de grandes festivais, atingindo popularidade até maior que a do Iron Maiden em alguns momentos. British Steel consolidou Rob Halford como frontman definitivo do Heavy Metal, inclusive com a estreia de sua entrada nos palcos montado em uma Harley Davidson — imagem eternizada e repetida até hoje.
No vocal, Halford começa a explorar com mais intensidade suas capacidades extremas, já antecipando a explosividade que veríamos em álbuns futuros. É o início da fase mais icônica de sua carreira.
O disco emplacou diversos singles poderosos, que viraram hinos definitivos do Metal. Entre eles:
- Living After Midnight
- Breaking the Law
- United
Mas o álbum vai além dos hits. Faixas como Rapid Fire (cotada como embrião do Thrash Metal), Grinder, Metal Gods e Steeler demonstram o alcance e a influência que o disco teve — inclusive em bandas como Metallica, segundo revelou Max Cavalera.
Até a arte da capa é simbólica: uma lâmina de barbear nas mãos, representando com perfeição o espírito do álbum — corte direto, afiado, agressivo.
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