45 anos do autointitulado do Iron Maiden

Há 45 anos, nascia uma lenda. Um disco que não apenas abriu caminho para uma das maiores bandas de heavy metal da história, mas também ajudou a redefinir o gênero para toda uma geração. No episódio especial do podcast Redação DISCONECTA, Marcelo Scherer, Luis Fernando Brod e Julio Mauro se reuniram para celebrar o icônico álbum de estreia do Iron Maiden, lançado em 14 de abril de 1980. Um trabalho que, mesmo em seus primeiros acordes, já deixava claro: algo novo estava surgindo.

Naquela época, o cenário musical britânico estava dividido. O punk dominava as ruas de Londres, enquanto o hard rock tradicional parecia ter perdido o fôlego. Foi nesse vácuo criativo que uma nova leva de bandas começou a emergir dos pubs enfumaçados do Reino Unido, gravando fitas caseiras e apostando tudo na força das composições. Entre elas, o Iron Maiden, liderado pelo visionário Steve Harris — um baixista obcecado por futebol, cinema e música progressiva — que, mesmo sem grandes recursos, já projetava algo grandioso.

O som daquele disco de estreia soava cru, direto e urgente. Era mais raiva do que técnica, mais atitude do que polimento. Mas ali estavam todas as sementes do que o Maiden viria a se tornar: uma potência global do metal. Para os apresentadores, esse álbum é a raiz do heavy metal tradicional como se conheceu nos anos 80. Influenciou gerações e se tornou referência para bandas como Helloween, Metallica e até os brasileiros do Angra.

Esse movimento, conhecido como New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), foi impulsionado por bandas como Def Leppard, Saxon, Angel Witch e Diamond Head. Mas o Maiden se destacou. Não só pela sonoridade, mas pelo carisma, pela postura de palco e, claro, pela figura mítica que estreava na capa: Eddie, o mascote que se tornaria um ícone.

Durante o episódio, os apresentadores mergulharam nas músicas, nos bastidores da produção e nas curiosidades que cercam esse disco histórico. “Prowler”, por exemplo, já mostrava a potência das guitarras e a urgência da voz de Paul Di’Anno, vocalista da época. Sua presença trazia uma aura punk, mas a espinha dorsal era puramente heavy metal. Com ele, vieram também “Running Free”, um relato juvenil da vida de Di’Anno, e “Phantom of the Opera”, que revelava o lado progressivo da banda — um indício da direção que ela tomaria nos anos seguintes.

“Charlotte the Harlot” apresentou ao mundo a personagem Charlotte, uma prostituta do East End londrino cuja história se estenderia em outras faixas futuras do Maiden. A composição foi assinada por Dave Murray, um dos pilares sonoros do grupo.

“Remember Tomorrow”, lembrada com carinho por Luis Fernando Brod como a primeira música da banda que aprendeu a tocar no violão, aparece como uma das mais melódicas. Já “Sanctuary”, embora não tenha figurado na versão original do álbum, tornou-se um hino do grupo — e uma peça importante da versão americana do disco.

As gravações aconteceram em apenas 13 dias, no Kingsway Studios. Um estúdio modesto, mas que já havia recebido nomes como Rolling Stones e Jimi Hendrix. O processo foi turbulento: o primeiro produtor, Andy Scott, foi demitido após sugerir que Harris usasse palheta no baixo — heresia para o baixista. Entrou então Wil Malone, que pouco interferiu, permitindo que Harris mantivesse o controle criativo. Estima-se que a produção tenha custado algo entre 200 e 300 libras.

Essa liberdade criativa foi essencial para construir o som distinto do Iron Maiden. O baixo de Harris, com seu timbre estalado e médio, tocado com quatro dedos em uma técnica batizada por Luis Fernando Brod de “velocidade pizzicato”, já era uma marca registrada. A banda conseguia equilibrar peso, velocidade e melodia como poucas na época.

A formação responsável por esse feito incluía Paul Di’Anno nos vocais, Dave Murray e Dennis Stratton nas guitarras, Clive Burr na bateria e Steve Harris no comando criativo e no baixo. Antes do álbum, o grupo já havia lançado a lendária demo Soundhouse Tapes, em 1979, com apenas 500 cópias em vinil — hoje, um verdadeiro tesouro para colecionadores.

O episódio também discutiu a eterna divisão entre os fãs: Di’Anno ou Dickinson?. Se por um lado a voz grave e suja de Di’Anno representa o início mais agressivo e cru da banda, do outro, a entrada de Bruce Dickinson trouxe técnica e alcance vocal que redefiniriam o som do Maiden. Ainda assim, os apresentadores destacam que a identidade da banda já estava ali, nos dois primeiros álbuns.

E apesar da produção simples, o álbum foi um sucesso imediato, alcançando o quarto lugar nas paradas britânicas. A banda logo caiu na estrada, abrindo shows para gigantes como Kiss e Judas Priest, com mais de 100 apresentações em pouco tempo. O disco viria a ser considerado, pela Rolling Stone, o 13º melhor álbum de metal de todos os tempos — embora os apresentadores do podcast olhem essas listas com uma certa desconfiança.

A capa do álbum também ganhou destaque. Criada por Derek Riggs, é a primeira a apresentar Eddie, com um olhar penetrante e uma aura desafiadora. As reedições mais modernas mudaram sutilmente essa imagem, como a versão de 1998, em que os olhos de Eddie têm uma aparência diferente. As capas dos singles da época também causaram polêmica, como a de Sanctuary, que mostrava Eddie esfaqueando Margaret Thatcher.

O episódio ainda trouxe diversas curiosidades: o Iron Maiden foi a primeira banda em anos a tocar ao vivo no Top of the Pops após o The Who, e manteve o hábito de lançar vários singles com lados B inusitados — muitos deles covers, como I Got the Fire, do Montrose. Foi lembrado também o forte espírito colecionista dos fãs da banda, comparável ao dos beatlemaníacos, e a devoção do público brasileiro, intensificada após o Rock in Rio de 1985.

Por fim, os apresentadores relembraram suas histórias pessoais com o Maiden. Julio Mauro conheceu a banda pelo álbum Seventh Son of a Seventh Son, enquanto Marcelo Scherer começou com Killers, trocado por um disco do Papo é Pop — e até mostrou um single rabiscado à caneta.

O consenso entre eles é claro: o álbum de estreia do Iron Maiden não é apenas um marco do metal, é um dos maiores debutes da história do rock. Um disco que moldou carreiras, influenciou gêneros e segue inspirando fãs ao redor do mundo.

Para ouvir a discussão completa, o episódio está disponível no Spotify e no YouTube. E para quem quer transformar sua experiência com a música em algo ainda mais pessoal, conheça a Velut (velut.com.br) — o clube de discos de vinil personalizável que patrocina o Redação DISCONECTA.

Ouça abaixo episódio o podcast sobre os 45 anos do álbum auto intitulado do Iron Maiden

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