Glenn Jones e o soul/boogie em “Everybody Loves a Winner”

Lançado em 1983 pela RCA, Everybody Loves a Winner marcou a estreia solo de Glenn Jones com um álbum cheio de groove, brilho eletrônico e vocais intensos. Antes disso, o cantor já vinha construindo uma reputação respeitável no gospel e no soul contemporâneo, principalmente como vocalista do grupo Modulations, ligado à cena de Miami nos anos 70.

Nascido em Jacksonville, na Flórida, Glenn Jones deu os primeiros passos no circuito gospel, influenciado por figuras como Sam Cooke e Al Green. A transição para o R&B veio com naturalidade, mas sem pressa. A base vocal construída na música religiosa se manteve em evidência, mesmo enquanto suas faixas abraçavam as batidas eletrônicas do boogie e o requinte do soul urbano que definiram os anos 80.

Everybody Loves a Winner foi produzido por Leon Sylvers III, um dos nomes mais prolíficos do R&B moderno naquele período. Sylvers trouxe sua assinatura inconfundível para o disco: grooves quentes, uso expressivo de sintetizadores analógicos e baixo bem marcado — uma combinação que remete ao trabalho que vinha realizando com o grupo The Whispers e com Shalamar.

A faixa de abertura, “I Am Somebody”, é quase um manifesto. Com linhas de baixo em slap, baterias programadas e metais sintetizados, a canção introduz o ouvinte ao universo lírico de Glenn: uma mistura de autoafirmação e romantismo.

O sucesso radiofônico veio com “I’ve Been Searchin’ (Nobody Like You)”, um boogie soul elegante, de refrão grudento e clima noturno. A faixa alcançou boa rotação em rádios de black music nos Estados Unidos e ainda hoje figura em coletâneas de soul retrô.

Além de Leon Sylvers, o disco contou com instrumentistas experientes como Stephen Shockley (da banda Lakeside), Foster Sylvers e Wardell Potts Jr., todos veteranos do selo SOLAR — núcleo criativo por trás de boa parte do R&B de pista da época.

O resultado dessa colaboração é um álbum que mistura momentos de pura festa, como “Winner (Take All)” e “Keep on Doin’”, com faixas de clima mais introspectivo, como “Stay”, marcada por uma melodia melancólica e produção mais contida.

Apesar de ainda relativamente contido em relação a outros álbuns da década, Everybody Loves a Winner consegue dialogar com várias vertentes: é soul contemporâneo, mas com uma pulsação dançante que flerta com o funk eletrônico. Também guarda espaço para interpretações mais delicadas, evidenciando as raízes gospel de Glenn Jones.

Não se trata de um disco revolucionário, mas de uma peça sólida dentro do contexto do R&B dos anos 80 — com produção de qualidade, composições coesas e uma performance vocal que raramente derrapa.

Glenn Jones continuaria ativo ao longo das décadas seguintes, com destaque para o álbum Finesse (1984) e a faixa “Here I Go Again”, que chegou ao topo das paradas de R&B em 1991. Apesar de nunca ter estourado no mainstream, construiu uma carreira estável e respeitada entre colecionadores e apreciadores do soul de pista.

Hoje, Everybody Loves a Winner encontra um novo público em meio aos redescobridores do boogie e do soul digital, sendo presença constante em playlists e reedições em vinil.

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