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O show de um homem só. Rick Wakeman abre a turnê brasileira em noite mágica

Quando se fala em Rick Wakeman e Brasil, são duas conexões de grande proximidade. Afinal, foi dele uma das primeiras apresentaçõesde rock na história do show business brasileiro. Em 1975, ele tocou para mais de 100 mil pessoas, em várias capitais, com o aclamado Journey to the Centre of the Earth.

De lá pra cá, foram várias turnês que o mago dos teclados desfilou nas terras tupiniquins, onde conhece apenas as palavras obrigado, Pelé e Rivelino, em portugues, como ele brincou no show.

No início deste ano, a Abstratti Produtora anunciou a vinda do músico inglês, nomeado como The Final Solo, como a turnê de sua despedida dos palcos, confirmando 4 apresentações em solo brasileiro que culminou com a abertura da turnê em Porto Alegre, no dia 11 de abril, no salão de atos da PUCRS.

O dia da apresentação chegou, sob clima de chuva e frio, mudança radical na meteorologia, algo muito comum no Rio Grande Do Sul, assim como as mudanças de viagens climáticas sonoras brilhantemente tocadas pelo Rick em sua vasta discografia solo.

Nada disso afetou as 800 pessoas presentes no show, não chegou a lotar o teatro, metade de sua capacidade total de 1630 lugares, enquanto em outras capitais, como São Paulo, teve sold-out. Mas nem isso tirou o brilho do público presente na noite fria na capital gaúcha, para testemunhar a apresentação do músico de 74 anos e sua extensa carreira com mais de 80 álbuns lançados, entre trabalhos de estúdio e trilhas sonoras.

Rick e Porto Alegre tem uma conexão que vem desde 1975, quando o mago dos teclados esteve na capital no auge de sua carreira para tocar a sua obra prima Journey to the Centre of the Earth, ele trouxe 19 toneladas de equipamentos de som e luz ao Ginásio Gigantinho, e apresentou um espetáculo com banda, orquestra e coral, além da condução do maestro brasileiro Isaac Karabtchevsky. Entre outras apresentações esteve na cidade em 2001, 2012 e 2014. 

No vídeo abaixo, registros históricos da vinda do tecladista ao solo gaúcho, primeiro grande show internacional em Porto Alegre, justamente com Rick Wakeman

O show estava marcado para o início das 21h, mas, antes disso, as 20h, o músico gaúcho Rodrigo Nassif, violonista com uma carreira sólida na música instrumental brasileira, com passagens pela Europa, abriu os trabalhos, apenas ele e seu violão, foi uma novidade para ele, normalmente faz as suas apresentações como trio, sempre bem acompanhado dos músicos Juliano Pereira (contrabaixo) e Leandro Schirmer (bateria). Sua sonoridade mescla ritmos gaúchos como chamamé, conectados com outras brasilidades como chorinho, numa virtuosidade e versatilidade que chamam atenção logo nas primeiras notas. O público ainda estava na parte de fora do teatro, mas, os poucos ali presentes na abertura foram bastante receptivos e receberam o músico com calorosos aplausos durante os 30 minutos de sua apresentação.

Após o encerramento, o teatro começou a encher, as pessoas abrigaram-se em seus assentos para atentamente assistir um dos grandes responsáveis pela popularização do rock progressivo. Com sua poderosa sonoridade vinda de vários teclados ao seu redor que o acompanham desde os tempos áureos do Yes em álbuns antológicos nos quais moldaram o gênero como Close to The Edge (1972), e seus trabalhos solo como a tríplice coroa The Six Wives of Henry (1973), Journey to the Centre of the Earth que completa 50 anos em 2024 e o The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table  (1975) até o mais recente álbum, o interessante A Gallery Of The Imagination, lançado no ano passado, que mescla elementos de sua fase setentista com conexões voltadas para o pop, mostrando claramente que segue muito ativo.

As luzes se apagam lentamente, um holofote ilumina se acende em direção a um senhor de cabelos brancos, vestidos num belo terno preto com detalhes brilhantes que faz jus as roupas clássicas de seus shows, figurando como um grande mágico, e assim aparece o Sir. Rick Wakeman, sendo imensamente aplaudido, com relatos de terem visto algumas pessoas de joelhos com disco de vinil em mãos para receber o músico. Confesso que gostaria de ter visto ele com sua roupa de mago clássica, isso sempre mexeu comigo, assim como aos demais apreciadores da obra do músico que sempre soube fazer do teclado um grande show.

Poucos tecladistas como ele soube promover e popularizar o instrumento, aliando a técnica e visual como suas fantasias. Eu estava em plena satisfação apenas com o fato de poder presenciar ao vivo um dos últimos grandes tecladistas da história do rock em atividade.

Ele de forma bem espontânea e humorada dá boa noite ao público e conversa com o público, transmitindo a sensação de estarmos junto em uma sala de estar e seu piano. Wakeman conversa abertamente, criando uma aproximação muito grande com as pessoas, longe das grandes estruturas que sempre se apresentou. Nesta apresentação a proposta era outra, apenas dois teclados Workstations da Korg e um piano de cauda do próprio teatro. Sob luzes suaves, sem nenhum cenário de fundo, apenas o Rick em seus instrumentos.

Abriu a noite com Jane Seymor e Catherine Howard, peças de The Six Wives of Henry VIII (1973), disco que interpreta a célebre história das seis esposas do Rei Henry VIII da Inglaterra, fundador da igreja anglicana. Arrancando aplausos, ele conversa com seu típico humor britânico, mencionando que não sabe falar português, exceto as palavras Pelé, Rivelino e Obrigado.

Na sequência, ele executa lindamente as canções Space Oddity e Life On Mars?, clássicos da carreira do camaleão do rock, o mago foi recrutado para as gravações entre o final dos anos 60 para começo dos 70. Foi uma performance de tamanha sutileza e harmonia que facilmente arrancou lágrimas de várias pessoas presentes no local.

Um medley minimamente selecionado pelo mago, deu vida aos personagens de The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table (1975), este dedicado as histórias medievais do lendário Rei Arthur. Arrancou assim alguns gritos da plateia em momentos mais pesados, seus dedos passeavam entre as teclas do seu Korg, extraindo os efeitos e sonoridades orquestrais que marcaram sua música e especialmente seu álbum conceitual que difundiu o metal sinfônico. A banda Rhapsody On Fire que o diga, pois com certeza, bebeu diretamente da fonte deste disco.

Um dos momentos mais aplaudidos da noite, Yessonata, foi um verdadeiro presente aos fãs. Feita especialmente para esta turnê, a faixa reuniu trechos de 30 canções do Yes, particularmente dos discos Fragile (1971), Close to The Edge (1972) e Tales from Topographic Oceans (1973), os quais as teclas únicas e especiais do mago estão para sempre marcadas em nossas mentes. Algumas seções facilmente reconhecidas foram as de AwakenRoundabout, And You And I e Heart of the Sunrise, gerando novamente alguns gritos fervorosos.

A noite especial estava se aproximando do fim, quando Wakeman executou os clássicos dos 4 rapazes de Liverpool, Help e Eleanor Rigby, unindo camadas “Yessônicas” com orquestrações e efeitos em seus pedais que fez tremer o chão luxuoso coberto de tapete vermelho do salão de atos da PUCRS, empolgando as 800 almas lavadas pelo som extraído de suas teclas, unindo uma música mais alegre dos Beatles com uma mais erudita, uma bela ligação sonora extraída pelo britânico.

Rick ainda voltou para o bis e obteve uma reação ainda mais eufórica da plateia ao anunciar que tocaria trechos de Viagem ao Centro da Terra – resumida nas peças The Journey e Recollection, dando fim a um show de fôlego e excelência musical.

Confesso que gostaria de ter visto o Rick com banda para sentir aquela cozinha rítmica onde o nosso jovem senhor brilhasse em seus oito ou nove teclados ao seu redor. Mas, após assistir a apresentação, eu lhe pergunto: “Pra que banda de apoio quando se tem um Rick Wakeman nos teclados?” Ele é.. a banda.

Set list do show

  • Jane Seymour. (Intro. …
  • Catherine Howard. (From “The Six Wives of Henry VIII”)
  • Space Oddity / Life on Mars? (David Bowie cover)
  • Arthur / Guinevere / Merlin the Magician / The Last Battle. (from “The Myths and Legends… …
  • Sea Horses. (From “Rhapsodies”)
  • Yessonata. …
  • Help! / …
  • The Journey / Recollection.

Momentos do show brilhantemente registrados pelo nosso parceiro, jornalista e fotógrafo Thiago Borba.

Autor

2 respostas para “O show de um homem só. Rick Wakeman abre a turnê brasileira em noite mágica”

  1. Avatar de João Carlos
    João Carlos

    Respeitosa correção:

    Piano de caUda e não piano de caLda

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