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A história por trás de Somebody That I Used to Know

Lançada em 2011, “Somebody That I Used to Know” tornou-se um dos maiores hits da década. A música catapultou o cantor e compositor belga-australiano Gotye (nome artístico de Wouter De Backer) ao estrelato global. O sucesso, porém, veio acompanhado de controvérsias, e a decisão de Gotye de evitar os holofotes após seu auge deixou muitos fãs intrigados.

O sucesso avassalador do hit

A canção, uma parceria com a cantora neozelandesa Kimbra, foi lançada como parte do terceiro álbum de estúdio de Gotye, Making Mirrors. Com uma melodia melancólica e arranjo minimalista, a música relata o fim de um relacionamento sob duas perspectivas — primeiro do ponto de vista de Gotye, depois com o contraponto de Kimbra.

Rapidamente, “Somebody That I Used to Know” dominou as paradas musicais, alcançando o primeiro lugar em mais de 26 países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. A faixa venceu dois Grammy Awards em 2013, incluindo Gravação do Ano, e o videoclipe, com sua estética artística de pintura corporal, tornou-se um fenômeno no YouTube, acumulando mais de 2 bilhões de visualizações até hoje.

Apesar de seu imenso apelo, a música foi tão onipresente que Gotye ficou conhecido como o “rei dos one-hit wonders” modernos. Embora o álbum Making Mirrors também tenha recebido aclamação, nenhuma outra faixa alcançou o impacto cultural do hit.

A polêmica do plágio

No auge da popularidade da música, surgiram acusações de plágio envolvendo “Somebody That I Used to Know”. A melodia principal e o arranjo foram comparados à canção “Seville”, lançada em 1967 pelo músico brasileiro Luiz Bonfá.

O trecho utilizado por Gotye aparece logo no início de “Somebody That I Used to Know” e se mantém como base instrumental ao longo de toda a faixa. Trata-se de um loop retirado diretamente da introdução de “Seville,” que, com sua sonoridade melódica e melancólica, contribuiu significativamente para a atmosfera única da canção.

Gotye nunca negou que o uso do sample foi intencional. Em entrevistas, ele reconheceu o impacto de Luiz Bonfá em sua criação. “Eu estava explorando velhas gravações e encontrei ‘Seville’. Foi como encontrar uma joia. A peça tinha a energia e o tom perfeitos para o que eu queria transmitir”, afirmou o cantor em entrevista ao The Guardian.

Reconhecimento e créditos oficiais

Diferentemente de outros casos de plágio em que os artistas tentam omitir o uso de trechos de obras pré-existentes, Gotye incluiu o nome de Luiz Bonfá nos créditos oficiais de composição desde o lançamento de Making Mirrors, o álbum que contém “Somebody That I Used to Know”. Dessa forma, Bonfá é listado como coautor ao lado de Gotye, garantindo que os direitos autorais fossem devidamente repassados à família do músico brasileiro, falecido em 2001.

A inclusão do nome nos créditos foi uma decisão estratégica e ética de Gotye, evitando possíveis processos judiciais. Apesar disso, a controvérsia sobre o uso do sample repercutiu entre críticos e músicos, muitos questionando se o artista havia explorado um material icônico de forma justa ou apenas comercializado algo alheio.

O valor pago pelo uso do sample

Embora os valores exatos nunca tenham sido oficialmente divulgados, estima-se que uma fatia significativa dos lucros de “Somebody That I Used to Know” tenha sido direcionada aos herdeiros de Luiz Bonfá. A canção gerou dezenas de milhões de dólares em receita, considerando vendas digitais, streamings e execuções em rádio. Como coautor, Bonfá (ou melhor, seus herdeiros) teria direito a até 45% dos royalties autorais da música.

Em 2012, o advogado de Gotye comentou à imprensa que os acordos relacionados ao uso do sample foram feitos de forma antecipada e que todas as partes estavam satisfeitas. Segundo fontes próximas à gravadora, a equipe de Gotye optou por um acordo legal desde o início para evitar disputas que pudessem atrapalhar o sucesso da música.

Impacto da polêmica no legado da canção

Apesar de ter sido tratada com transparência, a controvérsia sobre o uso do sample levantou debates mais amplos sobre a linha tênue entre homenagem e apropriação cultural. Críticos apontaram que Gotye se beneficiou de uma obra quase desconhecida fora do Brasil, trazendo-a para o mainstream sem necessariamente reconhecer o contexto histórico e cultural em que Luiz Bonfá compôs “Seville”.

Ainda assim, muitos enxergam o gesto de Gotye como uma forma de introduzir a música de Bonfá a um público global. O violonista brasileiro, amplamente reconhecido como um dos grandes nomes da Bossa Nova, passou a ter sua obra redescoberta por novos ouvintes, impulsionados pelo sucesso de “Somebody That I Used to Know”.

A polêmica acabou se tornando um exemplo de como a música contemporânea dialoga com o passado. Mesmo sob críticas, Gotye não só garantiu o crédito merecido a Bonfá, mas também contribuiu para que o legado do músico brasileiro ultrapassasse fronteiras, mostrando como um simples sample pode transformar uma obra em algo universal.

Por que Gotye desapareceu?

Após o estrondoso sucesso de “Somebody That I Used to Know”, muitos esperavam que Gotye continuasse a carreira com novos lançamentos e uma agenda movimentada. No entanto, ele surpreendeu ao tomar uma direção oposta, afastando-se dos holofotes e do mercado musical mainstream.

Entre os motivos para esse sumiço, está o fato de Gotye nunca ter buscado a fama. Em várias entrevistas, ele expressou desconforto com a intensa atenção pública gerada pelo hit. Além disso, Gotye revelou que decidiu não monetizar o videoclipe da música no YouTube, que já chega ultrapassou a marca de 2 bilhões de views, renunciando a milhões em royalties.

“Eu não quis transformar a música em um comércio desenfreado. Para mim, a arte deve estar acima do dinheiro”, afirmou Gotye em uma entrevista rara.

Nos anos seguintes, Gotye focou em projetos paralelos, como a banda experimental The Basics, da qual faz parte há décadas. Ele também passou a se dedicar ao estudo e preservação do legado de Jean-Jacques Perrey, pioneiro da música eletrônica, e à composição de obras independentes.

O legado de “Somebody That I Used to Know”

Embora Gotye tenha se afastado do estrelato, a música permanece uma das faixas mais icônicas do século 21. Seu sucesso é frequentemente analisado como um exemplo de como uma música pode transcender fronteiras culturais e linguísticas para se tornar universalmente reconhecida.

O artista pode ter se retirado da cena musical global, mas seu impacto é inegável. Gotye escolheu o anonimato em vez de capitalizar sobre sua fama, deixando a música falar por si mesma e reafirmando sua crença na arte como algo maior do que o mercado.

Assim, a história de Gotye e de “Somebody That I Used to Know” serve como um lembrete de que, para alguns artistas, o sucesso não é um fim, mas apenas uma parte da jornada.

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