Supergrupos sempre carregam consigo grandes expectativas. Afinal, quando músicos de destaque se reúnem, é natural que o público espere um nível de genialidade à altura de seus talentos individuais. Isso certamente se aplicava a Crosby, Stills, Nash & Young (CSNY), grupo que se tornou sinônimo de músicas marcadas por harmonias impecáveis e mensagens poderosas. No entanto, mesmo para os próprios membros da banda, certos momentos foram além do esperado, como revelou David Crosby ao relembrar o processo criativo por trás de “Ohio”.
Crosby admitiu que, ao trabalhar na faixa, não tinha ideia do impacto que ela teria. “Para mim, ‘Ohio’ foi um ponto alto da banda, um momento de grande validade“, afirmou o músico. “Estávamos reagindo à realidade de forma direta, relevante e imediata. Ela nomeava nomes, apontava culpados. Quando cantamos ‘Nixon’, eu fiquei tão comovido que perdi o controle no final da música“, contou Crosby em uma entrevista. Essa confissão ilustra o quanto a canção mexeu não apenas com o público, mas também com seus próprios criadores.
Para entender o impacto de “Ohio”, é necessário olhar para o contexto em que a música foi criada. O CSNY surgiu em uma época em que suas canções iam além do entretenimento, abordando de forma crítica os grandes problemas políticos e sociais da época. Se Graham Nash contribuía com baladas introspectivas e emocionais, Neil Young, com sua visão mais cínica e crítica, sempre contrabalançava o tom do grupo.
Foi essa mistura que permitiu que o CSNY navegasse entre faixas de protesto intensas e canções profundamente sentimentais. Um exemplo claro foi a transformação de “Woodstock”, de Joni Mitchell, em uma versão muito mais feroz e politizada. No entanto, nada poderia ter preparado o grupo para a força de “Ohio”.
A música foi inspirada pelos trágicos acontecimentos de Kent State, em 1970, quando quatro estudantes foram mortos por soldados da Guarda Nacional durante um protesto contra a Guerra do Vietnã. Esse evento trouxe a violência política para mais perto do que nunca, afetando profundamente Young, que viu na música a melhor forma de dar voz a essa indignação.
Em “Ohio”, Young não faz rodeios. Em vez de tentar suavizar a mensagem ou buscar um lado otimista, a canção é uma explosão de frustração e revolta. O vocal de Young, acompanhado pelos lamentos harmônicos do CSNY, transmite uma sensação de desespero por aquelas vidas jovens que foram brutalmente tiradas por exercerem seu direito de protesto.
Embora a música tenha marcado um momento de forte união criativa dentro do grupo, também serviu como um dos últimos grandes sucessos do CSNY. Neil Young, conhecido por sua postura independente, não permaneceu muito tempo confinado ao supergrupo e, logo após esse período, iniciou sua prolífica carreira solo, com álbuns como Harvest e Rust Never Sleeps.
Ainda assim, “Ohio” permanece como um marco na carreira de Young e na história do rock de protesto. A canção capturou o espírito de uma época de agitação política e continua a ressoar até hoje. Mesmo que Young a toque em seus shows solo, a música nunca terá o mesmo impacto sem as harmonias que a transformaram em um grito coletivo de resistência.
Deixe um comentário