Todo fã de música já experimentou aquela sensação de conexão instantânea com uma canção, uma obsessão que leva à repetição incessante. Para Lars Ulrich, baterista do Metallica, essa experiência está ligada a uma faixa do Deep Purple: “Child in Time”.
O fascínio começou cedo, quando, aos nove anos, ele foi levado por amigos de seu pai para assistir à banda ao vivo em Copenhague. “Eles provavelmente têm sido a espinha dorsal musical do meu corpo desde a primeira vez que os ouvi”, revelou Ulrich em entrevista. Décadas depois, esse mesmo fascínio culminou na honra de ser o responsável por introduzir a banda ao Rock and Roll Hall of Fame, durante cerimônia em 2016, no Barclays Center, em Nova York.
Ao iniciar seu discurso, Ulrich relembrou a noite que mudou sua vida. “Era uma noite fria de fevereiro de 1973. Meu pai me levou para ver o Deep Purple, e tudo parecia maior do que a vida: o som, o espetáculo, as músicas, os músicos – todos fazendo coisas com seus instrumentos que eu nunca tinha visto antes e nem sabia que eram possíveis.” Ele descreveu a banda como uma “contradição bela”, uma combinação de improviso apaixonado e precisão técnica que encantava tanto os espectadores na arena quanto eles mesmos no palco.
O baterista do Metallica também enfatizou a importância do Deep Purple na história do rock. Para ele, junto a Led Zeppelin e Black Sabbath, a banda forma a trindade fundamental do hard rock. “Com quase nenhuma exceção, toda banda de hard rock dos últimos 40 anos, incluindo a minha, traça sua linhagem de volta a esses três nomes”, afirmou. Ele lamentou, no entanto, a demora para que o Deep Purple fosse reconhecido pelo Hall da Fama, já que a banda era elegível desde 1993.
Lars Ulrich e Child in Time
Durante os anos mais intensos da Guerra do Vietnã, a resistência cultural encontrou uma aliada poderosa na música. Enquanto os Estados Unidos viviam um conflito interno entre a violência do governo e a contracultura pacifista, as bandas britânicas assumiram um papel crucial ao denunciar a guerra sem as amarras impostas pela opinião pública local. Foi nesse contexto que o Deep Purple lançou “Child in Time”, uma peça épica que se tornou símbolo da oposição à violência.
Escrita por Ian Gillan e seus colegas de banda, a faixa é uma obra-prima dramática, que combina lirismo crítico com uma construção musical arrebatadora. Inspirada diretamente pelo absurdo do conflito, “Child in Time” reflete o espírito de sua época. “A música basicamente refletia o clima do momento, e é por isso que se tornou tão popular”, explicou Gillan em entrevistas. Com vocais poderosos e uma instrumentalização grandiosa, a faixa evoca uma sensação de urgência comparável à força de uma “Abertura 1812” em tempos de napalm
Ulrich, na mesma entrevista, considera “Child in Time” uma de suas maiores influências: “Este é o momento mais icônico deles”, disse Ulrich à Rolling Stone. “Eu já ouvi 92 mil vezes, e nunca soa nada menos que ótimo.”
Você pode ver uma versão de Child in Time ao vivo de 1994.
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