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Pink Floyd – Live at Pompeii: o show sem público que reinventou os filmes de concerto

Em outubro de 1971, o Pink Floyd gravou um dos projetos mais ousados e inovadores de sua carreira: **Live at Pompeii**. Filmado no anfiteatro romano da antiga cidade italiana, o trabalho introduziu uma abordagem inusitada para a época: um show completamente desprovido de público. A ideia, concebida pelo jovem diretor Adrian Maben, contrastava fortemente com os filmes de concerto tradicionais, que geralmente exaltavam multidões vibrantes e interações entre artistas e fãs. O conceito pioneiro de Maben combinava a música introspectiva da banda com o silêncio quase palpável das ruínas históricas, criando uma experiência audiovisual única e marcante.

A inspiração para esse projeto singular veio de um momento pessoal do diretor. Maben, um britânico vivendo em Paris, teve a ideia durante uma viagem à Itália, quando acidentalmente perdeu seu passaporte no anfiteatro de Pompeia. Ao retornar ao local para encontrá-lo, foi impactado pela atmosfera mágica e mística das ruínas ao entardecer. Ele descreveu o momento como “uma epifania”, acreditando que o cenário silencioso e atemporal era o palco perfeito para a música do Pink Floyd. “A vastidão do espaço vazio e o eco natural do lugar pareciam se conectar diretamente ao som da banda”, relembrou Maben anos depois.

Fase de transição

Quando a proposta foi apresentada ao Pink Floyd, a banda estava em um momento de transformação. Eles haviam deixado para trás o estilo psicodélico liderado por Syd Barrett e estavam gradualmente consolidando uma sonoridade mais madura e conceitual. Sem a pressão de promover um álbum específico ou agradar gravadoras, o projeto foi visto como uma oportunidade de experimentação criativa. Contudo, a ideia de tocar em um anfiteatro vazio, sem a energia de uma plateia, gerou certa hesitação inicial entre os membros do grupo.

O apoio de um professor da Universidade de Nápoles, que era um grande fã do Pink Floyd, foi essencial para destravar o projeto. Ele mediou as negociações entre a banda, as autoridades italianas e os responsáveis pelo sítio arqueológico. O resultado foi uma decisão rara e ousada: fechar o anfiteatro ao público durante seis dias para as filmagens.

Desafios da produção

As gravações enfrentaram inúmeros desafios logísticos. A infraestrutura das ruínas romanas, preservadas desde a erupção do Monte Vesúvio em 79 da era comum, era limitada — não havia eletricidade nem facilidades básicas. A equipe precisou improvisar, instalando cabos elétricos que percorriam mais de um quilômetro desde a moderna Pompeia até o anfiteatro. Esse processo consumiu um precioso tempo de filmagem e colocou a equipe sob pressão constante para aproveitar ao máximo cada momento disponível.

Além disso, o cenário em si apresentou desafios inesperados. O calor intenso durante o dia e as noites frias exigiam adaptações rápidas, e a acústica natural do anfiteatro, embora fascinante, obrigava a banda a ajustar seu equipamento e execução para se adequar ao ambiente. Mas foi exatamente essa interação com o espaço que tornou o filme tão especial. O silêncio histórico do anfiteatro, interrompido apenas pelos sons das músicas, quase se transformou em um personagem do filme.

Expansão e críticas

A versão original de Live at Pompeii, lançada em 1972, tinha cerca de 60 minutos. No entanto, Adrian Maben percebeu que o material poderia ser expandido para oferecer uma visão mais ampla da banda. Ele sugeriu adicionar cenas do Pink Floyd em estúdios de gravação, explorando o processo criativo por trás de suas músicas. As filmagens adicionais ocorreram no Europa-Sonor, em Paris, e no Abbey Road, em Londres, e incluíram trechos das sessões de The Dark Side of the Moon, que viria a ser lançado em 1973.

Embora essas adições tenham aumentado a duração do filme para 80 minutos, também dividiram opiniões. Críticos como a Melody Maker consideraram a edição final inconsistente, enquanto a Billboard classificou o filme como “lento demais para sua própria proposta”. Apesar disso, Live at Pompeii encontrou um público dedicado, especialmente no circuito de cinemas universitários da América do Norte, onde se tornou um clássico cult.

Uma experiência única na história do Pink Floyd

Para os fãs do Pink Floyd, Live at Pompeii vai além de um simples registro musical. Ele captura a banda em um momento crucial de sua trajetória, explorando novas possibilidades criativas em um ambiente que amplifica a atmosfera de suas músicas. A decisão de gravar em um anfiteatro vazio, rodeado por um cenário histórico tão carregado de significado, reforça o caráter experimental do grupo. Mais de cinco décadas depois, o filme permanece como uma peça única e intrigante, que ainda desperta a curiosidade daqueles que buscam entender uma das fases mais inventivas do Pink Floyd.

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH. Sua carreira na música não foi como ele esperava, mas ele se destacou na TI, onde já soma 26 anos de experiência. Conhecido por ser franco e por um senso de humor afiado que nem sempre é entendido por todos, Júlio também teve uma fase como co-apresentador do programa Gazeta Games na Rádio Gazeta de São Paulo, onde mostrou seu lado gamer. E a música? Continua sendo uma de suas grandes paixões.

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