Nos anos 1960, enquanto o mundo vivia uma revolução cultural sem precedentes, uma banda do Texas emergia como uma das mais influentes e enigmáticas da cena psicodélica.
The 13th Floor Elevators, liderados pelo carismático e problemático Roky Erickson, não apenas ajudaram a definir o gênero, mas também cunharam o termo “rock psicodélico”.
No entanto, foi na década de 1980, com o álbum “The Evil One”, que Erickson mergulhou em um universo sombrio, repleto de monstros, aliens e demônios, criando o que muitos consideram uma das primeiras obras-primas do acid sci-fi.
A ascensão e queda de um ícone psicodélico
Nascido Roger Kynard Erickson em 1947, Roky cresceu em Austin, Texas, cercado por uma família musicalmente inclinada. Sua mãe, Evelyn, era uma pianista talentosa, e seu irmão, Sumner, tocava trompete.
Ainda adolescente, Erickson formou The 13th Floor Elevators em 1965, ao lado de Tommy Hall, que tocava um “jug elétrico”, um instrumento peculiar que se tornaria uma marca registrada da banda.
O álbum de estreia, “The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators”, lançado em 1966, foi um marco. As notas de capa do disco não apenas defendiam o uso do LSD como uma ferramenta para expandir a consciência, mas também refletiam a filosofia da banda. “Tornou-se possível para o homem alterar quimicamente seu estado mental e, assim, mudar seu ponto de vista”, escreveu Tommy Hall.
No entanto, o consumo excessivo de alucinógenos e problemas de saúde mental começaram a cobrar seu preço. Em 1969, Erickson foi preso por posse de maconha e, para evitar uma sentença mais severa, alegou insanidade. Ele foi internado no Hospital Estadual de Rusk, onde passou por terapia eletroconvulsiva e foi submetido a medicamentos antipsicóticos.
Da psicodelia ao horror: o nascimento de “The Evil One”
Após sua libertação em 1972, Erickson começou a compor músicas que refletiam suas experiências traumáticas. Inspirado por filmes de horror e ficção científica, ele abandonou os temas de amor e misticismo cristão que permeavam seu trabalho anterior. “Eu sou um amante do horror, e é nisso que estou agora. Estou tentando assustar, demonizar e ‘possuir’ as pessoas”, disse ele ao Fort Worth Star Telegram em 1981.
Em 1974, Erickson formou o Blieb Alien, uma banda cujo nome era um anagrama para “bible” (Bíblia) e um trocadilho com a palavra alemã “allein” (sozinho). Seu trabalho com a banda foi uma exploração sombria de suas vivências no hospital psiquiátrico. Canções como “Don’t Shake Me Lucifer” e “I Walked with a Zombie” mergulhavam em temas como possessão demoníaca e os efeitos colaterais de medicamentos como o Thorazine.
A gravação tumultuada de “The Evil One”
Produzido por Stu Cook, baixista do Creedence Clearwater Revival, o álbum que viria a ser conhecido como “The Evil One” foi gravado em meio a uma série de crises psicológicas. Erickson, cada vez mais instável, frequentemente faltava às sessões de gravação. Cook e o empresário Craig Luckin tiveram que editar o material disponível e construir o álbum peça por peça.
O lançamento do disco, em 1980, foi marcado por confusão. A versão britânica, lançada pela CBS, foi intitulada simplesmente “Roky Erickson and The Aliens”, enquanto a versão americana, pela 415 Records, adotou o título “The Evil One”, mas incluiu faixas adicionais sem a aprovação de Erickson. Somente em remasterizações posteriores o álbum foi restaurado à sua forma original, com 15 faixas.
“The Evil One” e o acid sci-fi
“The Evil One” é um álbum que combina hard rock cru com letras repletas de monstros, vampiros e aliens. Embora não tenha inventado o acid sci-fi, gênero que mistura elementos de ficção científica com psicodelia, o disco é frequentemente citado como um de seus exemplos mais notáveis.
Bandas como Chrome e Silver Apples podem ter explorado territórios semelhantes, mas Erickson trouxe uma autenticidade única, moldada por suas próprias experiências traumáticas.
O álbum também encontrou ressonância entre bandas punks e experimentais da época, como The Cramps e Butthole Surfers. King Coffey, baterista dos Butthole Surfers, mais tarde produziria o álbum solo de Erickson, “All That May Do My Rhyme”, em 1995.
Roky Erickson foi um artista à frente de seu tempo, cuja vida foi marcada por triunfos criativos e tragédias pessoais. “The Evil One” não é apenas um testemunho de sua genialidade, mas também um retrato sombrio de uma mente brilhante e perturbada. Seu trabalho continua a inspirar novas gerações de músicos e fãs, provando que, mesmo nas profundezas do horror e da loucura, a arte pode florescer de maneira única e inesquecível.
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