O documentário Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil lança um olhar aprofundado sobre a repressão ao movimento punk durante as décadas de 1970 e 1980.
Com direção de Fernando Calderan, Fernando Luiz Bovo, Matheus de Moraes e Renan Negri, o filme já está disponível no YouTube e traz um relato essencial sobre um período de forte vigilância e perseguição.
“A história do Brasil é também uma história da censura”, afirma Calderan. O documentário revela como a repressão estatal tentou calar as vozes do punk rock, um dos gêneros mais contestadores da música nacional.

Relatos e documentos históricos
Com depoimentos de músicos de bandas icônicas como Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Ratos de Porão, Olho Seco e Ulster, a produção detalha como a censura tentou silenciar o movimento. Fruto de uma pesquisa iniciada em 2021, o filme identificou mais de 80 músicas vetadas pela Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) e expõe documentos que demonstram a vigilância policial sobre o punk rock.
“Os documentos foram resgatados da antiga DCDP e mostram as estratégias utilizadas para sufocar o movimento”, explica Renan Negri. No documentário, o foco está na censura ao punk rock, não abordando bandas como Os Replicantes, Camisa de Vênus e Atack Epiléptico, o que indica o desejo de expandir o estudo no futuro.
Expansão do projeto e os personagens
Além do documentário, a investigação resultou em um livro que aprofunda a análise sobre a perseguição ao punk e as estratégias dos músicos para continuar se expressando. Para Fernando Bovo, o projeto vai além do resgate histórico: “Trabalhar com memória, oralidade e documentos é essencial. Temos aqui uma obra que não só resgata, mas também constrói um legado”.

Entre os entrevistados estão Clemente Nascimento (Inocentes), Jão (Ratos de Porão), Mao (Garotos Podres), Val (Cólera / Olho Seco), Ariel Invasor (Inocentes – à época), Pierre (Cólera) e Vlad (Ulster). Eles compartilham suas histórias e como enfrentaram a repressão, reafirmando o papel do punk como ferramenta de resistência cultural.

De acordo com Calderan, o veto a ideias divergentes sempre esteve presente no Brasil, e, nos últimos anos, denúncias e casos de censura voltaram a crescer. “Os europeus trouxeram a censura na bagagem. Mesmo em tempos democráticos, o veto foi usado como ferramenta de repressão. O Brasil ainda não se desvencilhou desse mecanismo para silenciar o pensamento divergente”, destaca.

Música como contestação
Ao revisitar essa história, Não é Permitido reafirma a importância do punk como instrumento de contestação e liberdade de expressão. Financiado pela Lei Paulo Gustavo, o documentário é um registro importante para quem deseja compreender os desafios enfrentados pela cena punk brasileira.
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