O vocalista do The Cure, Robert Smith, tem se mostrado um crítico feroz das práticas de venda de ingressos que vêm dominando o mercado nos últimos anos. Em uma recente entrevista ao Times, o músico criticou o uso dos chamados “preços dinâmicos”, um sistema da Ticketmaster que ajusta os valores dos ingressos conforme a demanda, elevando consideravelmente os custos para os fãs. Smith não poupou palavras ao classificar essa prática como um “golpe motivado pela ganância”, direcionando suas críticas não apenas às empresas, mas também aos próprios artistas que, segundo ele, fazem vista grossa para o problema.
“Não permitimos preços dinâmicos porque é um golpe que desapareceria se cada artista dissesse: ‘Não quero isso‘”, afirmou o vocalista ao Times. Para Robert Smith, muitos músicos preferem não se responsabilizar e se escondem atrás de seus gerentes. “A maioria diz que não sabia, mas todos eles sabem. Se dizem que não, ou são muito estúpidos ou estão mentindo”, disse ele, enfatizando que a decisão de aderir a esse modelo é consciente.
No ano passado, quando o The Cure anunciou sua primeira turnê nos Estados Unidos em sete anos, a banda fez questão de se distanciar do modelo de preços dinâmicos. Em vez disso, optou por ingressos não transferíveis, uma tentativa clara de evitar a ação de cambistas e proteger os fãs dos aumentos exorbitantes de preços, tanto na venda original quanto no mercado secundário.
As preocupações de Smith com a comercialização excessiva da música não se restringem aos ingressos. Temas como ganância e desigualdade permeiam o próximo álbum do The Cure, Songs of a Lost World, o primeiro trabalho da banda em 16 anos, com lançamento previsto para 1º de novembro. O disco reflete as inquietações do artista com a forma como a indústria musical se transformou ao longo das últimas décadas. “É fácil cair na nostalgia de um mundo que não existe mais, mas às vezes é melhor deixar essa porta fechada“, disse ele.
Smith também mencionou uma memória marcante de sua juventude que o fez repensar o tratamento dado aos fãs. Aos 19 anos, ele assistiu a um show de David Bowie que durou apenas 42 minutos, algo que o deixou decepcionado. “Eu comprei o ingresso, fui ao show, e o que recebi foi muito pouco em troca”, relembrou. Esse episódio influenciou a filosofia do The Cure em suas performances ao longo dos anos. Conhecidos por shows longos, que frequentemente ultrapassam as três horas de duração, a banda mantém o compromisso de oferecer uma experiência completa ao público.
Mesmo próximo de seus 70 anos, idade em que Robert Smith acredita que provavelmente encerrará sua carreira em turnês, o vocalista mantém uma postura crítica sobre os altos preços cobrados por alguns artistas. “Fiquei surpreso com a quantidade de lucro gerada. Pensei: ‘Não precisamos ganhar todo esse dinheiro’. Minhas discussões com a gravadora sempre foram sobre como podemos reduzir os preços”, revelou.
Para ele, o segredo está na confiança de que os fãs retornarão se o show for bom, sem a necessidade de explorar o máximo do mercado. “Se você economiza no preço dos ingressos, as pessoas acabam gastando em outras coisas, como cerveja ou produtos. Existe uma boa vontade, e elas voltarão no próximo show. É uma energia positiva que se retroalimenta, e eu realmente não entendo por que mais artistas não seguem esse caminho”, concluiu.
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