30 anos do álbum de estreia do Foo Fighters

Em 1995, Dave Grohl trancou-se em um estúdio em Seattle com uma missão silenciosa: seguir em frente. A dor ainda era recente — Kurt Cobain havia morrido, o Nirvana chegava ao fim e Grohl, antes visto apenas como o baterista da banda mais influente dos anos 90, precisava entender quem ele era fora daquele universo. O que nasceu ali, em apenas seis dias de gravação solitária, foi um disco que hoje completa trinta anos e ainda ecoa como um manifesto de liberdade criativa.

O álbum de estreia do Foo Fighters foi tema de um episódio especial do podcast Redação DISCONECTA, apresentado por Luis Fernando Brod, Julio Mauro e Marcelo Scherer, que mergulharam com carinho e precisão nesse momento de transição que deu origem a uma das maiores bandas do rock alternativo moderno.

Grohl não queria apenas fazer música. Ele queria apagar as pistas. Não havia nome estampado na capa. O projeto foi batizado de “Foo Fighters”, uma expressão usada por pilotos da Segunda Guerra Mundial para descrever objetos voadores não identificados. Um aceno à ufologia, uma das paixões de Grohl, que também deu nome ao selo independente criado para o lançamento: Roswell Records. A ideia era se esconder, distribuir algumas fitas para amigos e testar a recepção. Era quase um experimento íntimo, sem pretensão comercial. Mas a resposta foi tão positiva que, de repente, as rádios começaram a tocar as faixas e o projeto tomou forma. Era hora de formar uma banda de verdade.

O disco, essencialmente um trabalho solo, traz Grohl tocando todos os instrumentos e fazendo os vocais. E embora ele fugisse da comparação com o Nirvana, o DNA do grunge ainda pulsava ali. O som é cru, denso, barulhento em alguns momentos, melódico em outros. A faixa de abertura, “This is a Call”, já anunciava que Grohl tinha muito a dizer — e não apenas atrás da bateria. “I’ll Stick Around”, uma das mais intensas, foi interpretada por muitos como uma indireta a Courtney Love. “Big Me” surpreendeu pelo tom quase pop, enquanto “Good Grief” foi apontada pelos apresentadores do podcast como a essência do que o Foo Fighters viria a se tornar. “Winnie Beanie”, quase hardcore, lembra o industrial do Nine Inch Nails, enquanto “Oh, George” é uma homenagem discreta a George Harrison. Já “Exhausted”, a última faixa, encerra o álbum com peso e melancolia, e conta com a participação de Greg Dulli, do Afghan Whigs, na guitarra.

A capa do disco, com a imagem de uma pistola, causou controvérsia. Ainda era recente demais a lembrança da morte de Cobain, e muitos interpretaram a escolha como provocação ou insensibilidade. Mas o que Grohl fazia ali não era tentar apagar o passado — era reconstruir um novo começo. No podcast, os apresentadores lembram que uma demo de “Alone + Easy Target” já existia na época do Nirvana, e que Cobain queria gravá-la. Grohl recusou. Guardou a canção para um outro momento. Talvez já intuísse que precisaria dela para si mesmo.

Com o sucesso inesperado do álbum, Grohl convidou músicos que admirava para compor a nova formação. Pat Smear, ex-Germs e também companheiro de turnê no Nirvana. Nate Mendel e William Goldsmith, ambos do Sunny Day Real Estate. Nate segue até hoje na banda. Já Goldsmith acabou sendo dispensado em meio à transição, um reflexo da dificuldade de Grohl em assumir de vez a liderança e as decisões duras que viriam com ela. Era o preço de deixar de ser coadjuvante para se tornar o centro.

O álbum vendeu mais de um milhão de cópias só nos Estados Unidos, conquistando disco de platina. Foi mais do que um sucesso comercial — foi a inauguração de uma nova era no rock dos anos 90, onde a estética “do it yourself” ganhava um espaço inédito dentro das grandes estruturas da indústria musical. Grohl não apenas sobreviveu ao fim do Nirvana — ele se reinventou. E o que começou como um projeto tímido, quase secreto, tornou-se o ponto de partida para uma carreira que atravessaria décadas e estádios.

Ao longo dos anos, o Foo Fighters foi mudando. O som ficou mais polido, mais épico, mais orientado para multidões. Mas aquela gravação original, feita às pressas, em silêncio e com dor, continua sendo um retrato honesto de um artista em transformação. O episódio do Redação DISCONECTA resgata essa história com olhar cuidadoso e paixão evidente, lembrando que às vezes a arte mais sincera nasce quando ninguém está olhando.

Ouça abaixo episódio do podcast sobre os 30 anos do álbum de estreia do Fo Fighgters

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