Você pode se perguntar: Quem é Cheekface?
O Cheekface é uma banda de indie rock de Los Angeles formada em 2017 pelo guitarrista e vocalista Greg Katz, a baixista Amanda Tannen e o baterista Mark Edwards. Com um estilo que mistura o talk-singing a um senso de humor seco e letras que flertam com o absurdo e a crítica social, a banda construiu uma base de fãs fiel – os chamados Cheek Freaks – e já lançou cinco álbuns de estúdio, além de diversos EPs e um disco ao vivo.

A sonoridade do Cheekface remete a nomes como Lou Reed, Stephen Malkmus e Jonathan Richman, além de referências modernas como LCD Soundsystem e Jeff Rosenstock. Além disso, suas músicas costumam ser curtas e diretas, carregadas de trocadilhos e um olhar irônico sobre ansiedade e caos sociopolítico. O trio também se destaca por sua postura despretensiosa. Como a própria Amanda Tannen afirmou, a ideia era “estar em uma banda que não fosse legal”. Essa identidade peculiar fez com que o grupo se tornasse uma espécie de cult no cenário indie americano.
O Cheekface se autodenomina “America’s Local Band“, uma referência às bandas de garagem que fazem sucesso em nichos locais sem alcançar o mainstream. Assim, eles lançam suas músicas pelo selo independente New Professor Music, comandado pelo próprio Greg Katz, e mantêm uma estética visual marcante, com Amanda cuidando da arte dos álbuns.
Agora, em 2025, o trio retorna com seu quinto disco de estúdio, “Middle Spoon”, um álbum que mantém o espírito irreverente e traz algumas experimentações dentro da fórmula que tornou o grupo tão querido pelos seus fãs.
“Middle Spoon”: Cheekface segue divertido e afiado
O Cheekface está de volta com “Middle Spoon”, seu mais novo álbum. Se você já conhece a banda, sabe exatamente o que esperar: grooves pós-punk minimalistas, letras sarcásticas e aquele tom de quem está comentando a vida cotidiana com um meio sorriso e uma dose de ansiedade.
Para quem ainda não conhece, pense em um cruzamento entre They Might Be Giants, Cake e Weezer, mas com um vocal falado no estilo Stephen Malkmus e uma produção que rejeita qualquer excesso.

Identidade sonora e humor afiado
A identidade sonora do grupo segue intacta. Katz e Tannen continuam explorando letras absurdas e cheias de referências inesperadas, enquanto Edwards mantém a bateria seca e precisa, sem firulas. O álbum parece abraçar a ideia de resistência à mudança, como fica claro em faixas como “Growth Sucks”, que brinca com a ideia de que crescer é inevitável, mas isso não significa que você tem que gostar disso.
Além disso, o álbum também traz faixas que exploram novas direções, como “Don’t Dream”, que flerta com o ska-pop, e “Rude World”, que mergulha de cabeça no reggae branco – mas, claro, com uma autoconsciência afiada. A banda se diverte ao pisar nesses territórios musicais, transformando esses gêneros em veículos para seu humor peculiar e comentários sociais.
Experimentações e colaborações
“Military Gum” é uma das surpresas do disco, uma fusão inesperada de hard rock e rap, com participação de McKinley Dixon. A faixa consegue unir guitarras exageradas a versos rápidos e bem-humorados, resultando em um dos momentos mais energéticos do álbum.
No entanto, nem tudo são experimentações. Faixas como “Art House” e “Living Lo-Fi” reafirmam o som característico da banda. “Art House”, por exemplo, soa como um hit perdido dos anos 90, algo que poderia facilmente ter entrado na trilha sonora de uma comédia romântica esquecida da época. Já “Living Lo-Fi” brinca com a ideia de um estilo de vida “lo-fi”, onde se aceita viver na bagunça, entre dores crônicas e distrações autoimpostas.

Letras afiadas e reflexões sociais
As letras continuam afiadas e cheias de observações sarcásticas sobre o cotidiano. Em “Flies”, Katz canta: “O mercado está inundado de pessoas como eu / Nosso valor está despencando / Agora somos inúteis e livres”, um comentário ácido sobre o mundo do trabalho e a precarização profissional. Já “Content Baby” transforma um relacionamento em uma analogia com o consumo de conteúdo na internet: “Você tem meu consentimento para me compartilhar / Eu quero ser seu conteúdo”.
Além disso, o encerramento do álbum, “Hard Mode”, traz uma estrutura mais ousada, com pianos rítmicos que remetem ao LCD Soundsystem. É um fechamento adequado para um disco que, embora mantenha o Cheekface dentro de sua zona de conforto, ainda encontra espaço para pequenas subversões.
Conclusão: O que esperar de “Middle Spoon”?
No geral, “Middle Spoon” não é uma grande reinvenção do Cheekface, mas talvez nem precise ser. O trio encontrou sua identidade e parece mais interessado em lapidar sua fórmula do que em abandoná-la. Embora haja momentos em que a falta de variação possa soar como uma armadilha criativa, a qualidade das composições e o humor peculiar ainda fazem do álbum uma experiência divertida e cheia de personalidade.
Se você já é fã, “Middle Spoon” vai te entregar exatamente o que espera. Por outro lado, se nunca ouviu Cheekface antes, este é um bom ponto de partida para entrar no universo da “banda local da América”.
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