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O retorno calculado do The Strokes com Comedown Machine

Lançado em 25 de março de 2013, Comedown Machine marca o quinto álbum de estúdio do The Strokes e talvez o mais intrigante da banda até então. Este disco é um registro que reflete um momento delicado na trajetória do grupo, com relações aparentemente tensas entre os membros e um contrato com a gravadora RCA prestes a ser concluído. Dentro deste cenário, a banda se afastou de qualquer expectativa convencional, entregando uma coleção de faixas que expandem suas fronteiras sonoras enquanto desafiam a fórmula que os tornou famosos.

Na época do lançamento, o The Strokes ainda carregava o peso de ser uma das bandas mais importantes do revival do garage rock dos anos 2000, catapultada pelo sucesso estrondoso de Is This It (2001).

No entanto, o cenário musical já havia mudado drasticamente até o início da década de 2010. Bandas como Arctic Monkeys e Tame Impala exploravam novos territórios, enquanto o indie rock tradicional passava por transformações que privilegiavam produções mais elaboradas e experimentações sonoras.

A gravação de Comedown Machine aconteceu no Electric Lady Studios, em Nova York, sob a produção de Gus Oberg, que já havia trabalhado com a banda anteriormente. O som do disco é nitidamente marcado pela busca por texturas, com uma produção que enfatiza sintetizadores, elementos eletrônicos e um enfoque mais sofisticado nas linhas melódicas, elementos estes encontrados música synth-pop dos anos oitenta, incluindo experimentação com teclados elétricos e samples eletrônicos MIDI. Um flerte com o Dream Pop. Diferentemente dos discos anteriores, aqui o The Strokes se distancia dos riffs crus e enérgicos que definiram seu início para se aventurar por um campo mais introspectivo e polido.

Se em álbuns como Room on Fire (2003) e First Impressions of Earth (2006) a banda explorava nuances do pós punk revival e do garage rock, Comedown Machine é uma ode ao pop e à new wave dos anos 1980. Há ecos claros de influências como A-Ha, Talking Heads e até Prince em faixas como “One Way Trigger” e “Tap Out”. A voz de Julian Casablancas assume um papel central nessa transição, alternando entre falsetes ousados e interpretações melancólicas que capturam um clima de estranheza e urgência.

Em entrevistas realizadas na época, Casablancas sugeriu que o álbum foi um espaço para a banda experimentar sem se preocupar com críticas ou pressão comercial. “Nós apenas queríamos nos divertir no estúdio”, ele declarou ao NME em 2013. Essa liberdade, no entanto, não esconde a sensação de que o disco também funciona como um ato final no contrato da banda com a RCA, algo que pode ter influenciado sua estrutura descontraída e despretensiosa.

Comedown Machine é aberto com “Tap Out”, uma faixa que imediatamente estabelece o tom do disco. Com linhas de guitarra dançantes e uma produção limpa, a música parece uma comemoração do pop eletrônico característico dos anos 80. Em seguida, “All The Time” remete a um som mais clássico do The Strokes, mas com uma energia mais contida.

“One Way Trigger”, talvez a faixa mais “contraditória” do disco, traz sintetizadores brilhantes e vocais em falsete que dividiram opiniões. Para alguns, foi um movimento ousado; para outros, um afastamento brusco da identidade da banda. “Welcome to Japan”, com seu groove relaxado e letras irônicas, é uma das canções mais memoráveis do álbum, demonstrando a capacidade do grupo de explorar novas direções sem perder sua essência.

Já “50/50” apresenta uma energia mais agressiva, lembrando o The Strokes do início da carreira, enquanto “Chances” se destaca pela melodia introspectiva e minimalista. O disco se encerra com “Call It Fate, Call It Karma”, uma balada nostálgica que parece uma despedida não apenas do álbum, mas talvez de um ciclo na carreira da banda.

Na época de seu lançamento, Comedown Machine recebeu críticas mistas. Enquanto alguns elogiaram a coragem da banda em se reinventar, outros sentiram falta da energia e do estilo característico que marcaram os primeiros trabalhos. Apesar das opiniões divididas, é inegável que o álbum expandiu os horizontes criativos do The Strokes e mostrou o caminho para experimentações futuras.

A influência de Comedown Machine pode ser vista em artistas que surgiram posteriormente, especialmente na cena indie que abraça o uso de sintetizadores e estruturas mais fluidas nas composições. Embora não seja o trabalho mais celebrado do The Strokes, ele representa um capítulo importante na história da banda, que demonstra a capacidade de se adaptar a tempos e contextos diferentes sem perder sua relevância.

Comedown Machine é um registro que desafia fáceis categorizações. Em vez de entregar um álbum que atende às expectativas dos fãs ou da indústria, o The Strokes optou por um caminho de experimentação e liberdade criativa. Para além de suas qualidades musicais, o disco é um reflexo de um momento particular na trajetória da banda e no estilo de sua época, permanecendo como um trabalho digno de revisitação e reavaliação com o passar dos anos.

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