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Oasis: 30 anos de “Definitely Maybe”

O ano era 1998, e eu que ainda ouvia música despretensiosamente, basicamente o que tocava no rádio, vi na casa de um amigo mais velho um catálogo de venda de CDs da finada Editora Abril. Desde muito cedo, eu lia tudo que caísse na minha mão, e com esse tal catálogo não foi diferente. Por ali eu conheci o Oasis.

Na verdade, já sabia meio por alto da existência da banda. Tinha ouvido ‘Wonderwall’ no CD da trilha de Vira-Lata, e visto uma matéria no fantástico, da época em que viriam tocar no Brasil pela primeira vez. Nessa altura, a banda divulgava o divisivo 3º disco, “Be Here Now” (1997), e ainda gozavam da grande popularidade adquirida com o lançamento do disco anterior “Whats the Story, Morning Glory” (1996), considerado por muitos a grande obra dos irmãos Liam e Noel Gallagher.

Nessa época, o CD era o formato principal para o consumo de música, e era comum existirem vários disquinhos rolando em qualquer casa em que se fosse. Na minha não era diferente, com a predominância das trilhas de novela, e outros discos de sons populares daqueles dias.

Foto: Oasis. Crédito: Paul Slattery.

Não querendo ser o conservador chato, que acha que tudo na “sua época” era melhor, e respeitando as facilidades dos dias atuais, mas, num período com internet ainda não muito acessível e rápida, e sem as plataformas de streaming, a impressão era de que nos anos 90 os discos ainda perduravam um pouco mais na memória das pessoas. Digo isso porque, em 1998, fiquei obcecado por um disco de 1994.

O que nos leva de volta ao tal catálogo. Lembro que lá existia uma coluna com 10 sugestões de discos enviada por algum cliente, e naquela edição constava, dentre as dicas de uma boa alma que infelizmente não lembro o nome, o 1º disco do Oasis: “Definitely Maybe”, com um pequeno textinho. Naturalmente que, àquela altura do campeonato, eu não sabia qual o disco era o melhor, qual era o pior, simplesmente supus que as músicas mais conhecidas estavam ali. Ledo engano. Comprei o CD, de qualquer forma.

Não preciso dizer que, do alto dos meus 14 anos, não entendia nada das letras, mas o som passava uma energia diferente do grunge vigente ali na metade da década, e que ainda tocava bastante nas FMs. Anos depois pude confirmar: era puro hedonismo, embalado em uma gravação propositalmente tosca, e guitarras pesadas como nunca depois a banda repetiria, que encaixavam perfeitamente com a imagem de encrenqueiros dos irmãos que comandavam a trupe.

Com esses predicados todos, a Grã-Bretanha estava conquistada (o resto do mundo só viria depois, e com ressalvas). O disco foi, por muitos anos, a estreia mais vendida na história da ilha da rainha (desbancado muitos anos depois pelo 1º do Arctic Monkeys). Esse clássico do britpop completa neste mês de agosto de 2024, 30 anos de seu lançamento, data que vem acompanhada de um disco de luxo, e uma turnê comemorativa iniciada em junho, onde Liam Gallagher toca o disco na íntegra.

Poderia ficar horas falando sobre cada uma das músicas, mas para não me estender além da conta, deixo aqui um faixa a faixa muito bacana escrito ano passado pelo Ricardo Moscarelli, para o portal Scream Yell:

Faixa a faixa: Relembre “Definitely Maybe”, o disco de estreia do Oasis – SCREAM & YELL (screamyell.com.br)

Certa vez, alguém disse que é necessário descobrir uma banda média primeiro, para depois ser possível descobrir as bandas ótimas, as essenciais. Analisando a discografia completa do Oasis, anos após o seu final, fica a sensação de uma banda média, que entregou tudo o que podia nos dois primeiros lançamentos, e seguiu o restante da carreira entregando boas canções, em discos não mais que regulares. Além disso, considerando toda a reverência que a banda de Manchester sempre teve com os Beatles, é fácil imaginar que ela serviu como uma boa porta de entrada, para muitos moleques noventistas, ao trabalho dos Fab Four de Liverpool.

O que importa para mim é que, desses 52 minutos de som, deriva toda a minha relação com a música, e por que não, boa parte da minha personalidade, das minhas vivências. Não fosse esse disco, não teria ido nos shows que fui, construído amizades que seguem até hoje. Poderia morar dentro do solo de Noel em ‘Live Forever’. Destes 30 anos de “Definitely Maybe” chego aos meus 40 com as mesmas certezas que o título do álbum com o qual convivo há tanto tempo. Ouvi-lo e relembrar dos bons momentos da adolescência, é uma das poucas garantias que tenho. Apenas espero que possamos viver para sempre.

Assista vídeo de Live Forever do Oasis

Autor

  • Virgilio Migliavacca

    Virgilio Migliavacca (@virchico no X – @virgiliomm no Instagram) é servidor público, trabalhou 10 anos na área de financiamento a projetos culturais pelo Governo do Estado do RS. Pai do Théo, apaixonado por quadrinhos, rock alternativo e por uma IPA gelada.

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