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Guerra Civil – uma distopia assustadoramente plausível

Os fãs de filmes de ação hollywoodianos já sabem: Se os EUA sofrerem um ataque ou entrarem em guerra, a ameaça sempre virá de algum grupo terrorista do oriente Médio, da Rússia, da China, de alguma republiqueta latino americana ou, quem sabe, até do espaço, na figura de alienígenas malvados. O que não estamos acostumados de fato, é com o conflito acontecendo em solo americano, com o próprio povo dividido em facções, lutando uma guerra violenta entre si.

Guerra Civil, da aclamada produtora A24, acontece em um futuro distópico e acompanha a jornada dos repórteres Joel (Wagner Moura) e Sammy (Stephen McKinley Henderson) e das fotógrafas Lee Smith (Kirsten Dunst) e Jessie (Cailee Spaeny), saindo de Nova York em direção a Washington D.C., atravessando o conflito, com o intuito de entrevistar o presidente, na iminência de sua deposição do cargo pelas “Forças Ocidentais”, uma coalizão entre os estados do Texas e Califórnia.

Mas, ao contrário do que o título indica, “Guerra Civil”, não é de fato um filme de guerra. Na verdade, ele está mais para um road movie que usa o colapso da sociedade dividida como pano de fundo para mostrar o trabalho dos jornalistas em documentar todo aquele caos. Outro ponto interessante é o fato do diretor Alex Garland sequer se dar ao trabalho de explicar os motivos que levaram a sociedade americana a mergulhar naquele cenário de violência. Salvo algumas linhas de diálogos, onde sabemos que o presidente golpista (que nem tem o nome mencionado) dissolveu o FBI e usou drones contra os próprios cidadãos, nenhum detalhe é dado sobre quem começou a guerra, quem atirou primeiro, muito menos sobre como foram formadas as facções que lutam entre si no país.

Imagem: Diamond Films / Divulgação

O filme se exime também de tomar um viés político para esse ou aquele lado e por mais que isso possa parecer deixar tudo muito raso, talvez tenha sido uma estratégia para não dividir o público e mostrar de fato o que interessa: o que aconteceria se de fato extrapolássemos algumas situações e eventos recentes, não só dos EUA, mas do mundo como um todo. No cenário de polarização extrema em que vivemos, onde a opinião divergente não tem espaço para discussão, e o opositor automaticamente se torna inimigo, tudo aquilo me pareceu totalmente crível. Em um determinado momento do filme por exemplo, um sujeito diz: “aquele cara foi meu colega na escola…”, pouco de pois de tê-lo torturado violentamente.

Com boas performances da dupla principal de protagonistas, ainda há espaço para uma pequena (e assustadora) participação de Jesse Plemons, que fez Wagner Moura “deitar na grama e chorar”, segundo o próprio ator brasileiro, após a filmagem da impactante cena. Guerra Civil conta ainda com uma mixagem de som incrível e uma trilha sonora que dá alívio e fôlego entre os momentos de tensão.

No fim das contas, a despeito da falta de posicionamento político e maiores explicações, o filme cumpre satisfatoriamente o seu papel. Quem está antenado nos acontecimentos mundiais vai entender a mensagem; e o pior de tudo nesse caso, é a constatação de que aquele futuro distópico seja assustadoramente plausível e próximo.

Autor

  • Douglas Gouveia

    Douglas Gouveia é nerd e frequenta os porões da internet desde os bons tempos da conexão discada. Casado, pai de duas filhas e avô (mas já?!), vive o conflito geracional por alguns jovens não entenderem como é possível ele se dizer roqueiro, mas curtir Dua Lipa e outras popzeras. Tecladista semi aposentado, colecionador de discos e outas tranqueiras, apaixonado por música, livros, fotografia e cinema.”

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