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Em O Jogador, Dostoiévski mostra mais uma vez por que entende como poucos o comportamento humano

Lançado em 1867, logo após sua obra clássica Crime e Castigo, O Jogador foi uma forma de o autor saldar suas dívidas adquiridas após a morte de sua esposa e irmão.

A temática de O Jogador não poderia ser mais atual. Sendo Dostoiévski um jogador compulsivo, ele explora com maestria a psique humana em torno da atividade do jogo de roleta.

Nele, o personagem principal, Alexei Ivánovitch, um jovem professor, se depara com sua labuta dentro de uma família atolada em dívidas, mas que não perde a pose por nada. O General, Nikolai Ivánovitch, para quem Alexei trabalha, vive com sua família em um hotel, sendo bancado por um francês agiota, Monsieur de Grieux. Este último tem segundas intenções: objetiva casar-se com a enteada do General, Polina Aleksándrovna, e, mais que isso, recuperar parte de seu dinheiro hipotecado através da herança da mãe do militar.

A mãe do General, Antonida Vassílievna Tarassiévitcheva, conhecida também como a “vovó”, aparece de surpresa na cidade onde todos vivem, a imaginária Roletemburgo. Porém, todos acreditavam que a matriarca estava com um pé na cova, o que facilitaria não só o pagamento das dívidas do General com o francês, mas também o casamento de Polina com de Grieux e a exploração de parte da herança.

A partir daí, ocorre uma série de acontecimentos. A vovó se vicia no jogo após um dia de vitória, mas acaba gastando não só os ganhos do dia anterior, mas também suas economias. Adicione a esse ingrediente o desprezo que ela tem pelo filho, o General, e o apreço, em grande parte do tempo, por Alexei, misturado a ataques de fúria durante os jogos, nos quais o jovem tutor a acompanha.

O enredo cresce muito até a partida da vovó de volta a Moscou. Sua relação de ternura com a neta Polina, o respeito pelos empregados e o drama de seu descontrole na mesa de jogo são elementos que dão profundidade à narrativa. Esse mesmo descontrole acontece com Alexei, que tem uma queda por Polina. Em um momento crucial, Polina demonstra uma saúde mental frágil e é acolhida por outro personagem, o inglês Mr. Astley, não menos importante.

A reviravolta da história acontece no final, quando praticamente todos os personagens estão distantes uns dos outros. Há um encontro entre Mr. Astley, e Alexei, no qual este último descobre que o amor por Polina é recíproco. No entanto, o destino dos personagens parece marcado por suas escolhas e vícios, deixando um gosto amargo de desilusão e reflexão.

Dostoiévski é o mestre das relações humanas, e fica muito claro nessa obra como ele consegue dar vida aos seus personagens. A vovó é uma figura complexa, oscilando entre a autoridade e a fragilidade. O francês, Monsieur de Grieux, representa a ganância e a manipulação, enquanto Mr. Astley surge como uma figura mais equilibrada, quase um contraponto aos excessos dos demais.

O Jogador é uma leitura envolvente sobre o comportamento humano frente ao vício do jogo, às paixões e aos amores entre os personagens. Dostoiévski mostra mais uma vez por que entende como poucos a alma humana, criando uma obra que, mesmo escrita no século XIX, continua atual e impactante.

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