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Rush Através Das Décadas, de Martin Popoff

Originalmente eram três livros separados, Anthem, Limelight e Driven, cada um falando sobre uma década da banda, sendo que o último avançaria para os últimos álbuns, mas a edição da Belas Letras uniu os três em um volume apenas. Disponível em duas versões, uma mais simples e a edição de colecionador, com um box rígido simulando um case de equipamentos e rodinhas para montar neste box, além marcadores temáticos para cada década e uma cartela de adesivos.

Martin Popoff fez um trabalho incrível de pesquisa, além de entrevistas inéditas com os três integrantes da banda e nos brinda com detalhes incríveis sobre os bastidores e gravações de cada álbum, abordando também as tragédias pessoais pelas quais Neil Peart passou. Realmente impressionante.

Em Anthem, que cobre os anos 70, o grande destaque é o quanto Popoff focou no início da banda, com John Rutsey ainda. Em como este praticamente liderava a banda e o quanto era uma pessoa difícil de lidar. Sua saúde precária e desinteresse em turnês acabaram sendo os fatores que levaram a banda a seguir sem ele. Rutsey faleceu em 11/05/2008 de ataque cardíaco, e sofria com diabetes desde o início da banda.

Lee e Lifeson em muitos momentos parecem perdidos, mas a banda foi tomando identidade e a chegada do “Novato” (como chamaram Peart até os seus últimos dias) tudo se amalgamou perfeitamente e desencadeou uma mudança de direcionamento drástica na banda. Neil Peart faz seu teste e é confirmado como baterista do Rush apenas algumas semanas antes de abrirem shows do Uriah Heep. A leitura segue com detalhamentos incríveis sobre a produção de cada álbum, as mudanças de direcionamento e intransigência da banda em seguir as regras do mercado, tornando o compromisso com sua arte a pedra fundamental do Rush.

Crédito: Divulgação / Belas Letras

Limelight retrata os anos 80, que é indiscutivelmente o mais controverso, e que levou a uma intensa polarização entre os fãs. Como o Rush nunca foi uma banda que ficava se repetindo os elementos de New Wave, muito presentes nesta época, foram sendo abraçados cada vez mais e os sintetizadores tomando cada vez mais espaço. Para muitos fãs foi uma traição às raízes do rock progressivo da banda, e muitos deixaram de acompanhar a banda. Se em 2112 a banda conquistou sua liberdade artística, em Moving Pictures lhes deu a liberdade financeira, e a saída das dívidas que tinham com os adiantamentos da gravadora.

Esta mudança de direcionamento também não agradou Terry Brown, o produtor que estava com eles desde o início, que deixou a banda. A forma como eles escolhiam os produtores seguintes são bem interessantes, vale conferir e diz muito sobre a banda. Mas nem tudo estava tão bem assim, apesar dos álbuns terem vendidos bem. Lifeson estava cada vez mais soterrado pelos teclados e, mesmo que não expressasse claramente, descontente com a representação da guitarra no som da banda, o que começaria a ser reconquistado no álbum Presto, graças à mão de Rupert Hine na produção.

Driven retrata dos anos 90 até a banda baixar as cortinas. É visível que Popoff não é grande fã desta fase da banda, se mostrando em alguns momentos pouco entusiasmado, principalmente com Roll The Bones e Test For Echo. Influenciados pelo Grunge, temos o excelente Counterparts com algumas músicas mais pesadas, mas ainda mantendo uma zona segura com os álbuns anteriores em outras. E muito deste peso se deve a Kevin Shirley, o engenheiro de gravação, que batia o pé em leva-los ao conceito de power trio (guitarra, baixo e bateria). Mas o álbum era do Rush e não do Shirley, e na mixagem Geddy e Neil não abriram mão de ter um som menos agressivo. Test For Echo também foi um álbum que gerou conflitos. Lifeson tinha gravado seu projeto Victor e as influências deste o deixou em dúvida sobre querer voltar ao que era o “antigo Rush”. Mas isto se resolveu com as primeiras semanas de composições.

Crédito: Alamy

E então temos um hiato.

Em 10 de agosto de 1997 a filha de Peart faleceu em um acidente de carro, e menos de um ano após, sua esposa faleceu de câncer. Assim, Peart declarou que estava efetivamente aposentado, mesmo que nada tenha sido anunciado oficialmente, tendo durante um longo período apenas o ao vivo Different Stages para trazer algo aos fãs. Lee também se aventurou e lançou o ótimo My Favorite Headache em 2000, momento em que Peart também se sentiu pronto para retornar à bateria.

Depois de 14 meses de estúdio, surge um álbum mais denso, falando sobre luto, tragédia, medo e superação. Vapor Trails é um álbum quase sem solos, com mais texturas e com uma produção que não agradou nem banda e fãs. O álbum ganhou uma remixagem que o deixou mais palatável. Também fica claro como se divertiram e elevaram como músicos nos dois últimos álbuns.

E então vem o choque com o falecimento de Peart, por câncer cerebral. E aqui preciso deixar de lado a tentativa de neutralidade. Essa banda realmente mudou minha vida, quis aprender bateria por causa deles. Quis entender o que as bandas falavam por causa deles. Me parece uma injustiça muito grande com um cara que escreveu letras tão incríveis, tocou como poucos e, mesmo sendo considerado um dos melhores decidiu que precisava reaprender tudo novamente. Uma força tão imensa que assim que chegou conseguiu levar a banda ao som que eles tentavam e não conseguiam (Anthem já era uma composição que não andava, porque a bateria não se encaixava). Se reergueu após duas tragédias inimagináveis, escreveu livros, se expondo durante seu luto e luta, nos mostrando que sempre há um caminho. Você só precisa não se deixar vencer.

É uma leitura maravilhosa para os fãs, e para todos uma verdadeira história de amizade, força de vontade, dignidade e resiliência.

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Autor

  • Apaixonado por música desde que me lembro de estar vivo, comecei a discotecar aos 16 anos e a música se tornou uma grande obsessão. Baterista, trabalho na área de tecnologia, consumidor ferrenho de biografias, primeiro na família a se aventurar a tocar um instrumento, seguido por vários sobrinhos e agora pela filha, que levam a música para os seus, sendo um dos meus maiores orgulhos. Ainda aprendendo muito, sempre procurando novas bandas e sendo surpreendido por todo o maravilhoso mundo da música que temos.

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    2 respostas para “Rush Através Das Décadas, de Martin Popoff”

    1. Avatar de Marcus Ribeva
      Marcus Ribeva

      Não sou um rushmaníaco como o Pedro Miguel Jr., mas “Caress Of Steel” é pra mim um dos melhores discos de rock progressivo do sistema solar e além.

      Valeu!

      1. Avatar de Pedro Miguel Jr
        Pedro Miguel Jr

        Fala Marcus!

        Esse álbum é incrível, também gosto demais dele.
        Comercialmente quase matou a banda, mas foi a partir dele que o embrião do que seria o estouro da banda, 2112, se formou. Já estava tudo ali.

        Obrigado por comentar!
        Precisamos retomar isso ao vivo qualquer hora destas.

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