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Kraftwerk em Sydney e em uma galáxia ainda muito distante

Passados absurdos 53 anos desde o lançamento de seu primeiro álbum, o homônimo Kraftwerk de 1970, o quarteto alemão é responsável por toda e qualquer estética vanguardista posterior aos anos 70 quando o assunto é música eletrônica e todas as suas vertentes, do New Wave ao Hip-Hop. Sim, é isso mesmo que você que esteve em Marte nas últimas 5 décadas está lendo!





Mensurar sua relevância e influência na música é uma tarefa um tanto quanto inglória, sabe aquela expressão “era tudo mato?” Acho que era um pouco pior, era o movimento Hippie e suas flautas tocadas com calças boca de sino. O Rock passava por uma transição um tanto quanto esquisita, Os Beatles se dissolveram poucos anos antes, o movimento Hippie ganhava força, as bandas que ditaram a tendência dos anos 60 penduram seus terninhos, as bandas psicodélicas se multiplicavam e nenhum solo de guitarra com menos de 20 minutos era mais aceito no Mainstream, enquanto a Funk Music buscava seu espaço em meio à muitos narizes torcidos.





A Alemanha Ocidental em meio à Guerra Fria era um roteiro perfeito para um filme de Ficção Científica das madrugadas de domingo, uma esperança de futuro em uma Terra Prometida inspirada em algum canto do Sistema Solar onde os carros dariam lugar para espaçonaves e onde famílias inteiras desfrutariam de conforto e segurança muito bem servidas por robôs ultra inteligentes e altamente . Tudo isso era mais que suficiente para servir de inspiração para mentes criativas e geniais o suficiente para mudar o rumo da História, o Mundo precisava de outros Beatles, e eles ressurgiram com alguns Synths e em 4 bits (até rimou).

O Cinema em 1968 apresentou ao mundo o épico 2001: Uma Odisséia no Espaço, Stanley Kubrick já daria sinais de que nosso futuro seria controlado pelas máquinas e que no final das contas, no alto de nossa vaidade e estupidez, ao achar que nós quem estariamos no poder, na verdade, estaríamos sob o domínio total da tecnologia, soterrados por atualizações 2.0 e carros elétricos vendidos por lunáticos bilionários que nos prometem vida em outros planetas após destruir este em que habitamos.

O Kraftwerk conseguiu sintetizar isso em suas músicas e foi muito mais além, trouxe uma estética visual e uma textura sonora tão densa capaz de te levar onde nem mesmo Dr. Manhattan chegaria. O Quarteto Alemão é diretamente responsável por tudo que surgiu na música eletrônica e alternativa nos últimos 50 anos, lembra da icônica introdução de “Sweet Dreams” do Eurythmics? Ou de todos os Hits do Daft Punk até o último suspiro da música eletrônica da cena Clubber dos anos 90 com Prodigy? Ou o magnífico ”Maxinquaye” do Tricky de 1995? É improvável que qualquer um destes citados existisse sem o Kraftwerk.

Kraftwerk ao vivo em Sydney

O concerto em Sydney foi uma celebração, foi algo muito além de uma apresentação musical, foi mais uma vez a confirmação de que o futuro que eles previram 50 anos antes, já aconteceu, e muito mais ainda por vir foi mostrado pra um público de 9 mil pessoas, que lotaram o Super Aware Theatre, um teatro magnífico e moderno no coração de Sydney. Uma plateia totalmente abduzida e empolgada acompanhou quase incrédula tamanha perfeição em cada detalhe nas projeções visuais, nas luzes, nos teclados e synths, tudo absurdamente impecável. O Espetáculo foi iniciado de cara com  “Number/Computer World” não muito depois veio “The Man-Machine” levando o público a ficar de pé e dançar todas as músicas dali em diante até o final do show, sem deixar de observar os detalhes e tecer comentários sobre os efeitos visuais perfeitos, reproduzidos em uma tela gigantesca atrás dos quatro integrantes e seus teclados. O show ainda contou com todas as músicas clássicas do grupo, “Autobahn”, “The Model”, “Tour De France”, encerrando com  “Trans-Europe Express” e depois retornado ao palco a pedido da plateia para mais três músicas entre elas “The Robots” em uma homenagem emocionante à Florian Schneider, falecido em 2020.

Foi uma noite que absolutamente ficará na memória de quem viu com seus próprios olhos e sentiu de perto uma parte da História, do futuro que ainda veremos e do futuro que já vivemos, a Música é um acontecimento da Natureza capaz de unir gerações em um mesmo lugar para compartilhar sentimentos, jovens de 60 anos dançando com a mesma animação de uma geração que se renova, inexplicavelmente. 

Ver de perto adolescentes de 16, 17 anos empolgados e deslumbrados com um som que atravessou gerações e ainda assim é capaz de despertar emoções e sentimentos a quem pertence a uma galáxia ainda tão distante é algo indescritível e motivo de esperança para quem ainda acredita que nem tudo está perdido, que sementes estão sendo plantadas em meio a superficialidade de quem chama Música de produto e se denomina Consumidor. 

A viagem ainda é longa e o futuro já está ultrapassado.

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2 respostas para “Kraftwerk em Sydney e em uma galáxia ainda muito distante”

  1. Avatar de Rodrigo Lopes da silva
    Rodrigo Lopes da silva

    Incrível o que aprendi ao ler o texto, texto Incrível parabéns.

  2. Avatar de Taiara Paim
    Taiara Paim

    Ótima leitura 🤗

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