A busca por respostas na partida de Mark Lanegan

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Mark Lanegan. Foto: David Levene/Reprodução The Guardian

No mês em que Mark Lanegan completaria 61 anos, novas informações vieram à tona sobre seus últimos dias. Quem lança essa luz é Paolo Bicchieri, sobrinho do músico, em um artigo publicado no The Irish Times. No texto, ele compartilha conclusões, memórias e dúvidas que continuam sem resposta desde a morte do tio, em fevereiro de 2022. A família — especialmente a irmã de Lanegan e mãe de Paolo — nunca conseguiu compreender totalmente o que aconteceu, o que levou o jovem a viajar até a Irlanda, onde o cantor vivia, em busca de alguma clareza.

Nascido em 25 de novembro de 1964, em Ellensburg, Washington, Lanegan construiu uma carreira sólida tanto à frente dos Screaming Trees quanto como artista solo, além de colaborações marcantes com bandas como Queens of the Stone Age. Sua mudança para a Irlanda aconteceu por um conjunto de motivos: o avanço da pandemia, o clima político nos Estados Unidos e a chance de alugar uma casa em Killarney, oferecida por um amigo. Havia também o carinho dos fãs irlandeses, algo que ele reconhecia.

A vida no novo país, porém, não foi simples. Segundo Bicchieri, Lanegan passou a sofrer surtos paranoicos que colocaram sua segurança em risco. A recusa em tomar a vacina contra a covid-19 acabou levando-o a contrair a variante Delta. Internado no Dia de Saint Patrick, entrou em coma por um mês. Os enfermeiros o consideravam um caso terminal, e sua esposa chegou a receber autorização para se despedir.

Então veio aquilo que Paolo descreve como “a ressurreição de Mark”. No Domingo de Páscoa, seus sinais vitais começaram a melhorar de forma inesperada. Profissionais do hospital afirmaram que ninguém ali estava tão doente quanto ele e que a recuperação beirava o improvável. Essa experiência extrema resultou no livro Devil in a Coma, no qual Lanegan narra sua luta para sobreviver.

Mesmo assim, as sequelas da doença foram severas. O sobrinho relata um episódio em que o músico caiu ao descer as escadas — algo que, segundo ele, antes não teria grandes consequências, dada a força física que Lanegan sempre teve.

Em 2024, o laudo do médico legista concluiu que sua morte foi causada por complicações da chamada “covid longa”, agravadas pelo azar da queda em casa. Antes de um show em homenagem ao tio, realizado em Londres no mesmo ano, Paolo conversou com fãs que contaram que Lanegan estava planejando uma nova turnê pouco antes de morrer. Em Portugal, suas últimas apresentações ocorreram em 2019, no Hard Club, no Porto, e no Lisboa ao Vivo.

A crônica de Paolo Bicchieri oferece um retrato íntimo e humano dos últimos capítulos da vida de Mark Lanegan — um artista sempre em busca de sentido, cuja partida permanece marcada por complexidades que ainda desafiam a própria família.

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