A canção do AC/DC que quase foi apagada da história

Luis Fernando Brod
5 minutos de leitura
AC/DC Highway To Hell.

Imagine a cena: é a década de 1970 e o mundo da música está em plena efervescência. Novos ritmos surgem a cada esquina – o punk com sua rebeldia, o funk com seu groove, a new wave com suas experimentações. Muitas bandas, sentindo a pressão, começaram a mudar de rumo, tentando se encaixar nas tendências. O resultado? Vários álbuns que, embora importantes para a trajetória desses artistas, nem sempre soavam como o melhor deles. Era uma época de transição, e nem todo mundo sabia como navegar por ela.

Mas no meio de toda essa agitação, havia uma banda que parecia ter um mapa diferente: o AC/DC. Os irmãos Angus e Malcolm Young tinham uma ideia bem clara do que queriam fazer. Para eles, a música era sobre guitarras poderosas e um rock ‘n’ roll sem frescuras. Eles viam as ondas de mudança, mas decidiram remar na direção oposta, firmes em sua própria batida. A intenção era simples e direta: fazer um rock que fizesse a cabeça das pessoas.

Angus Young sempre olhou para o álbum “Let There Be Rock” como um momento decisivo. Foi ali que a banda realmente encontrou seu norte, decidindo que não iriam se curvar a modismos. “Achei ótimo porque todo mundo no mundo gostava de outros gêneros, havia música punk, havia new wave; era todo esse outro material que estava surgindo”, contou ele, com transcrição da Far Out. “E eu pensei: ‘Isso é pura magia’. E aquele álbum definiu o AC/DC aos meus olhos. Foi quando eu pensei: ‘Esta é uma ótima banda’.” Era a prova de que, às vezes, a melhor estratégia é simplesmente ser você mesmo.

Se “Let There Be Rock” mostrou o caminho, foi com o álbum seguinte, “Highway to Hell”, que o AC/DC atingiu o ponto máximo de sua sonoridade. Hoje, é um clássico absoluto, com riffs que grudam na mente, vocais que arrepiam e solos de guitarra que são pura energia. A faixa que dá nome ao disco, “Highway to Hell”, é frequentemente considerada a cereja do bolo da banda. Angus Young, inclusive, garante que não mudaria uma única nota dela.

A história por trás da criação dessa canção é quase um roteiro de filme. Angus Young lembra-se bem: “Estávamos em Miami, completamente falidos”. Foi nesse cenário de incerteza que a magia aconteceu. “Malcolm e eu estávamos tocando guitarra em um estúdio de ensaio, e eu disse: ‘Acho que tenho uma boa ideia para uma introdução’, que era o começo de ‘Highway to Hell'”. Malcolm, sem perder tempo, subiu na bateria e começou a ditar o ritmo. Os dois sabiam que tinham algo especial nas mãos.

Mas a jornada dessa música até se tornar um hino quase teve um final trágico. A gravação inicial, feita em uma fita cassete, corria o risco de desaparecer para sempre. Um dos rapazes que trabalhava com a banda levou a fita para casa, e o filho dele, na inocência de criança, acabou desfiando-a. Aquele momento, a essência da canção, estava por um fio.

Felizmente, o AC/DC tinha um herói improvável: o vocalista Bon Scott. Angus Young relembra o episódio com um misto de humor e alívio: “Tinha um cara lá trabalhando com a gente, e ele levou a fita cassete que tínhamos para casa e deu para o filho dele, que a desfiou”. E então, a salvação: “O Bon era bom em consertar fitas quebradas e as colava de volta. Então, pelo menos, não perdíamos a afinação.” Graças à paciência e habilidade de Bon, a melodia foi resgatada, e o mundo não perdeu a chance de conhecer um dos maiores clássicos do rock.

A saga de “Highway to Hell” é um lembrete de que a arte muitas vezes nasce em meio ao caos e à simplicidade. O AC/DC, com sua teimosia em ser autêntico e a sorte de ter um Bon Scott para remendar fitas, nos deu uma canção que continua a incendiar palcos e corações décadas depois. É uma prova de que, às vezes, a estrada para o sucesso é pavimentada com riffs de guitarra e um pouco de cola.

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