Os Beatles são frequentemente lembrados como pioneiros que revolucionaram a música com álbuns inovadores como Revolver (1966) e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967).
No entanto, o caminho para se tornarem ícones culturais foi pavimentado por influências que ajudaram a moldar seu som e estilo nos primeiros anos de carreira. Entre essas influências, destaca-se a contribuição fundamental dos Isley Brothers, que desempenharam um papel crucial no desenvolvimento artístico dos Fab Four.
No início da década de 1960, os Beatles frequentemente recorriam a covers em seus shows e gravações. Em seu álbum de estreia, Please Please Me (1963), metade das faixas eram versões de sucessos de outros artistas. Entre elas, “Twist and Shout” se destacou como uma das mais memoráveis.
A música, originalmente escrita por Phil Medley e Bert Berns, foi gravada sem grande repercussão pelos Top Notes em 1961. Contudo, ganhou nova vida quando os Isley Brothers a regravaram em 1962, imprimindo sua marca com um vibrante arranjo de R&B. Inspirados por essa releitura, os Beatles decidiram incluir a canção em seu repertório, adaptando-a ao seu estilo enérgico e cru, simbolizado pela performance intensa e rouca de John Lennon.
Gravada em uma única tomada no estúdio, “Twist and Shout” foi a última faixa registrada durante um exaustivo dia de sessões para Please Please Me. Lennon, debilitado por um resfriado, deu tudo de si, mas admitiu posteriormente que sua voz nunca mais foi a mesma após aquela gravação. “Achei que poderia ter feito melhor, mas estava no meu limite”, relembrou ele anos depois.
Apesar das dificuldades, o resultado foi explosivo. A interpretação dos Beatles capturou o espírito jovem e desafiador da época, levando a música ao topo das paradas no Reino Unido e consolidando o sucesso da banda nos Estados Unidos. Mais do que um hit, “Twist and Shout” se tornou um dos pilares da Beatlemania, encerrando apresentações emblemáticas, como o Royal Variety Show de 1963.
Os próprios Beatles reconheceram a importância dos Isley Brothers para o sucesso de sua versão de “Twist and Shout”. Em um evento beneficente realizado em 2012, Paul McCartney abordou Ernie Isley para expressar sua gratidão. “Se não fossem os Isley Brothers, os Beatles ainda estariam em Liverpool”, teria dito McCartney, segundo relato do guitarrista à Asbury Park Press.
Naquela noite, Ernie e seu irmão Ron dividiram o palco com McCartney e outros artistas para uma rara apresentação conjunta de “Twist and Shout”. Foi a única vez que um membro dos Beatles e os Isley Brothers interpretaram a música ao vivo juntos, selando uma conexão histórica.
O baterista dos Beatles, Ringo Starr, também reconheceu a influência dos Isley Brothers durante sua introdução ao Rock and Roll Hall of Fame em 2015. “Foi por causa deles que conseguimos dar o nosso melhor”, afirmou ele em agradecimento.
A admiração entre os Beatles e os Isley Brothers transcendeu “Twist and Shout”. Enquanto o quarteto de Liverpool redefinia o rock no Reino Unido, os Isley Brothers solidificavam seu legado no soul americano, influenciando uma geração de músicos que incluía lendas como Jimi Hendrix.
A parceria indireta entre as duas bandas exemplifica como a música é, em sua essência, um diálogo constante entre artistas, estilos e culturas. Os Beatles não só transformaram a música popular, mas também se alimentaram da energia e inovação de nomes como os Isley Brothers, mostrando que grandes legados são sempre construídos em conjunto.
Essa história, entre outras, é contada no documentário Beatles ’64 que estreou na última sexta (29) no Disney+.
Deixe um comentário