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Do chiado à nova era: o renascimento da Rozenblit na Rozenbeat

Fundada em 1954 no bairro de Afogados, em Recife, a Fábrica de Discos Rozenblit marcou época como um dos pilares da indústria fonográfica brasileira. Nos anos 1960, a empresa alcançou o status de maior produtora de discos de vinil do país, sendo responsável por impressionantes 22% da produção nacional. Com um parque gráfico integrado e um estúdio de gravação de ponta para a época, a Rozenblit não só fabricava discos como criava capas e encartes que se tornaram símbolos de uma era de ouro da música brasileira.

Um legado em vinil

No catálogo da Rozenblit encontram-se obras que ultrapassam o tempo. Entre elas, o primeiro álbum de Tom Zé, o cultuado Paêbiru, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, e uma vasta gama de discos e compactos que hoje são cobiçados por colecionadores e DJs ao redor do mundo. Essa produção diversificada não apenas abasteceu o mercado nacional como também projetou a música brasileira além das fronteiras.

O impacto cultural da Rozenblit está gravado no imaginário dos amantes de vinil, em parte graças à qualidade sonora e ao cuidado gráfico de suas edições. Para muitos, o som do chiado característico da agulha nos sulcos dos discos representa não apenas nostalgia, mas uma conexão profunda com a história da música.

A Fábrica de Discos Rozenblit – Foto: reprodução.

Documentos históricos da história da gravadora Rozenblit

O acervo, composto por aproximadamente mil títulos, está cuidadosamente armazenado em uma sala no estúdio Somax, situado na Rua Imperial, no bairro de São José. Entre as relíquias preservadas, encontram-se as fitas originais de gravações realizadas por artistas pernambucanos, nacionais e até internacionais, além de antigos contratos artísticos que ajudam a contar parte da história da música no Brasil.

É o caso do contrato assinado por Reginaldo Rodrigues dos Santos, membro do grupo The Silver Jets, que mais tarde alcançaria grande sucesso em carreira solo como Reginaldo Rossi. O acervo também guarda documentos que revelam as restrições impostas pela censura durante a ditadura militar, incluindo liberações de canções que precisavam ser submetidas à aprovação do regime antes de serem lançadas.

Um novo capítulo: a chegada da Rozenbeat

Agora, décadas depois, a tradição renasce com a criação da gravadora Rozenbeat. Inspirada no legado da Rozenblit, a nova empresa promete resgatar a magia do vinil com um toque contemporâneo. Mais do que uma homenagem, a Rozenbeat se posiciona como uma continuação simbólica do que a Rozenblit representou: um elo entre o passado e o presente da música brasileira.

Com um nome que carrega uma enorme carga emocional para os fãs do formato, a Rozenbeat se propõe a conquistar não apenas os saudosistas, mas também as novas gerações que descobriram o prazer de ouvir música em vinil.

Como escreveu certa vez um colecionador anônimo em um fórum especializado: “O chiado do vinil não é imperfeição, é alma. E a Rozenblit tinha muita.” A Rozenbeat, ao que tudo indica, quer honrar esse espírito.

O primeiro lote de discos da nova gravadora já está em produção, e a expectativa é de que o chiado das agulhas encontre, mais uma vez, ouvidos ávidos por experiências musicais atemporais.

Rozenblit na Europa

Há dois anos, o selo inglês Mr. Bongo tem relançado discos da Rozenblit na Europa. As obras saem em LP e CD e incluem títulos raros e cultuados a exemplo do Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho; Flaviola e o Bando do Sol; Marconi Notaro no Sub Reino dos Metazoários; Grande liquidação, de Tom Zé; o EP Aratanha Azul, da banda pernambucana homônima, do pioneiro da bossa nova Johnny Alf, entre muitos outros.

Rosa de Sangue

Em 1998, a jornalista e produtora cultural Melina Hickson lançou o documentário Rosa de Sangue, uma obra que resgata parte da história da gravadora Rozenblit por meio de depoimentos de figuras importantes como José Rozenblit, Zé da Flauta, Claudionor Germano, José Teles, Leonardo Dantas, Kátia Mesel, Lula Côrtes e Zé Ramalho.

Outro trabalho relevante sobre a memória da gravadora é a monografia Eco da Rozenblit – Memórias de uma Fábrica de Discos, escrita por Érica Lucena. O texto está disponível para consulta na plataforma Academia.edu e oferece uma análise detalhada sobre o impacto e o legado da gravadora.

Entre os fatores que levaram ao encerramento das atividades da Rozenblit, além das dificuldades econômicas, destacam-se as recorrentes enchentes que atingiram Recife durante as décadas de 1960 e 1970. Esses desastres naturais prejudicaram significativamente as operações da fábrica, localizada na Estrada dos Remédios, no bairro de Afogados, até o fechamento definitivo, ocorrido em meados da década de 1980.

O documentário pode ser visto em duas partes no Youtube clicando neste link aqui (parte 1) e neste outro aqui (parte 2).

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