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Frank Zappa e sua admiração por “Paint It Black”, dos Rolling Stones

Com uma impressionante discografia que inclui 163 álbuns – entre 52 registros ao vivo, 39 de estúdio, 33 coletâneas e até trilhas sonoras –, Frank Zappa consolidou-se como um dos nomes mais versáteis e provocadores da música.

Multi-instrumentista, cantor, guitarrista, satírico e artista de cabaré, Zappa era um apaixonado pela música clássica, mas ao mesmo tempo um crítico ácido de Beethoven e Mozart.

Ele também defendia a edição de vídeos como meio de levar a música “culta” ao mesmo destaque midiático do rock e do pop. Conhecido pelo rigor com que se apresentava e gravava, Zappa mantinha sua trajetória longe de álcool e drogas.

Em 1980, Zappa participou de uma edição especial do programa Star Special, na BBC Radio 1, onde músicos eram convidados a tocar seus discos favoritos e comentar suas escolhas.

Entre as faixas apresentadas pelo roqueiro de Baltimore, estavam trabalhos de nomes como Black Sabbath, Captain Beefheart e o compositor vanguardista Edgard Varèse, mas foi uma canção dos Rolling Stones que ganhou o destaque. Ao apresentar “Paint It Black”, lançada pelos Stones em 1966 como parte do álbum Aftermath, Zappa não poupou elogios.

A música, interpretada sob a perspectiva de um narrador sombrio e melancólico, trouxe aos fãs dos Stones um lado mais obscuro da dupla de compositores Mick Jagger e Keith Richards. Com referências a temas fúnebres e tons góticos que lembram as narrativas de Edgar Allan Poe, a faixa ainda ousou em sua sonoridade psicodélica, introduzindo arranjos orientais que criaram uma atmosfera única.

Zappa se mostrou particularmente impressionado com a estrutura da faixa, destacando a linha de baixo marcante. “Você sabe o que há de realmente bom nesse disco? É como a linha de baixo surge e depois vai ‘wooom, wooom’ dessa forma – é realmente emocionante. Provavelmente uma das melhores criações do rock britânico”, afirmou ele no programa.

A faixa inovou ao incorporar a cítara, um instrumento indiano que Brian Jones, guitarrista dos Stones, trouxe para o estúdio após a descoberta da sonoridade exótica durante uma viagem a Fiji. Para Zappa, Jones parecia “nascido para tocar aquele instrumento”. O uso da cítara, somado a overdubs estratégicos, conferiu a “Paint It Black” uma dimensão sonora experimental e ousada para a época.

Zappa também refletiu sobre o papel das drogas na criação musical, aludindo ao impacto que substâncias psicodélicas exerceram sobre o rock da década de 1960. Ele citou álbuns como Revolver, dos Beatles, como exemplo de obras que, sem essa influência, talvez jamais tivessem surgido.

Em seu comentário, Zappa destacou não apenas a habilidade técnica dos Stones, mas o espírito inventivo de uma era em que os limites da música pop e rock eram desafiados constantemente – uma característica que ele, como artista e admirador da vanguarda, prezava profundamente.

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