Em 1995, o The Smashing Pumpkins não queria apenas lançar um álbum; eles queriam criar um universo. No auge do rock alternativo, quando o grunge dominava com sua estética crua e direta, Billy Corgan e sua banda decidiram seguir o caminho oposto: a grandiosidade. O resultado foi “Mellon Collie and the Infinite Sadness”, um álbum duplo épico sobre a dualidade da vida, do amor e da dor. E para um projeto tão ambicioso, a porta de entrada precisava ser igualmente memorável.
A capa do álbum, com sua enigmática mulher estrela flutuando em um céu noturno, tornou-se um dos visuais mais reconhecíveis da década de 90. Mas de onde ela veio? Longe de ser uma fotografia ou uma pintura original, a imagem é uma genial colagem que reflete perfeitamente a essência do disco.
A visão partiu diretamente de Billy Corgan. Ele imaginou uma estética que misturasse o vitoriano com o celestial, algo que parecesse antigo e atemporal. Para executar essa ideia, ele procurou o artista e ilustrador John Craig, que trabalhava com colagens.
Baseado em esboços e conceitos de Corgan, Craig mergulhou em livros de arte clássica para encontrar as peças perfeitas para seu quebra-cabeça visual. A composição da figura feminina é uma fusão de duas obras distintas:
O rosto foi retirado da pintura “The Souvenir (Fidelity)” (c. 1787-89), do artista francês Jean-Baptiste Greuze. A pintura original mostra uma jovem com um olhar de saudade e melancolia, contemplando o retrato de um ente querido. Esse olhar captura a “tristeza infinita” do título do álbum, a sensação de perda e anseio.

O corpo pertence à pintura “Santa Catarina de Alexandria” (c. 1507), do mestre renascentista Rafael. A santa é retratada em um momento de contemplação divina, olhando para os céus. Isso confere à figura da capa uma aura espiritual, de transcendência e esperança.

A união dessas duas figuras — a saudade terrena e a transcendência espiritual — criou um ser completamente novo, a “garota estrela” que se tornaria o símbolo do álbum.
A capa foi crucial para comunicar a complexidade do disco antes mesmo de a primeira nota ser ouvida. O álbum é dividido em dois discos, “Dawn to Dusk” (Amanhecer ao Anoitecer) e “Twilight to Starlight” (Crepúsculo à Luz das Estrelas). A arte reflete essa dualidade: a figura flutua em um cenário cósmico, um ponto de luz e emoção na imensidão, encapsulando tanto a melancolia quanto a beleza sonhadora da música.
Para o público, a imagem foi um sucesso imediato. Ela se destacava completamente das capas de guitarras quebradas ou flanelas rasgadas da época. Sugeria profundidade, arte e uma sensibilidade que dialogava diretamente com a angústia e os sonhos de uma geração. A “garota estrela” não era agressiva; ela era contemplativa, triste mas resiliente, exatamente como as canções do álbum.
Curiosidades
O trabalho de John Craig não se limitou à capa. Todo o encarte do CD é preenchido com suas colagens de estilo vitoriano, criando um mundo visual coeso que expande a narrativa do álbum.
Reconhecimento Oficial: A excelência do trabalho foi reconhecida pela indústria, rendendo uma indicação ao Grammy de 1997 na categoria de gravação do ano.
Quem é a Modelo? Por anos, houve boatos sobre a identidade da mulher na capa. Em 2012, Billy Corgan finalmente esclareceu que a figura nunca foi uma pessoa real, mas sim a colagem de pinturas que John Craig criou.
O Símbolo da Estrela: A pequena estrela no peito da figura tornou-se um símbolo recorrente para a banda e seus fãs, representando a identidade única e sonhadora do projeto.
No fim, a capa de “Mellon Collie and the Infinite Sadness” é muito mais do que uma bela imagem. É uma declaração de intenções artísticas. Ela provou que o rock alternativo podia ser grandioso, poético e visualmente sofisticado, e conseguiu capturar e transmitir a complexa tapeçaria de emoções do álbum, tornando-se um ícone inseparável da música que representa.