Entre as brumas de Manchester dos anos 1980, uma banda emergiu com uma proposta que desafiaria as convenções do rock britânico. The Smiths não apenas criaram música; eles construíram um universo sonoro onde a melancolia encontrava a ironia, onde letras literárias se casavam com melodias que oscilavam entre o doce e o amargo.
Em apenas cinco anos de existência, o quarteto formado por Morrissey, Johnny Marr, Andy Rourke e Mike Joyce conseguiu algo que poucos artistas alcançam: transformar-se em uma referência cultural que transcendeu gerações.
A história dos Smiths é, paradoxalmente, tanto sobre união quanto sobre separação. É sobre como quatro jovens de Manchester conseguiram capturar o zeitgeist de uma década marcada pela política conservadora de Margaret Thatcher, oferecendo uma alternativa sonora que falava diretamente aos corações dos jovens desiludidos.
Mais do que uma banda, The Smiths representaram uma filosofia estética que questionava os valores estabelecidos através de uma combinação única de sofisticação musical e provocação intelectual.
História
1982: Formação e primeiras apresentações
A gênese dos Smiths pode ser rastreada até um encontro aparentemente casual em maio de 1982, quando Steven Patrick Morrissey, então um jovem de 23 anos obcecado por literatura e música, conheceu Johnny Marr (nascido John Martin Maher) em Stretford, Manchester. Marr, guitarrista precoce de apenas 18 anos, havia ouvido falar sobre Morrissey através de círculos musicais locais e decidiu procurá-lo após descobrir que ambos compartilhavam uma paixão pela música que ia além do mainstream.

O primeiro encontro entre os dois aconteceu na casa de Morrissey na Stretford Road. Marr, carregando sua guitarra, tocou algumas melodias que havia composto, enquanto Morrissey, impressionado com a sofisticação musical do jovem guitarrista, começou a improvisar letras. A química foi imediata e reveladora. Como Marr recordaria anos depois em entrevistas à imprensa musical britânica, “havia algo na voz do Morrissey que transformava qualquer melodia em algo cinematográfico”.
A formação da banda se completou com a chegada de Andy Rourke no baixo e Mike Joyce na bateria, ambos amigos de Marr dos tempos de escola. Rourke, em particular, trouxe uma abordagem melódica ao baixo que se tornaria uma das características distintivas do som dos Smiths. Joyce, por sua vez, oferecia uma base rítmica sólida que permitia que as experimentações de Marr florescissem.
As primeiras apresentações aconteceram em pequenos pubs de Manchester, incluindo o lendário The Ritz, onde a banda começou a desenvolver uma base de fãs dedicada. Essas performances iniciais já revelavam elementos que se tornariam marcas registradas: Morrissey dançando de forma peculiar no palco, frequentemente balançando flores ou gladíolos, enquanto Marr criava paisagens sonoras que misturavam influências do pós-punk com melodias pop sofisticadas.
1983–1984: Rough Trade, “Hand in Glove” e álbum de estreia
O ano de 1983 marcou a transição dos Smiths de uma promessa local para um fenômeno nacional. A banda assinou com a Rough Trade Records, uma gravadora independente londrina conhecida por trabalhar com artistas alternativos. A escolha pela Rough Trade não foi acidental; ela refletia o desejo da banda de manter controle criativo e evitar as pressões comerciais das grandes gravadoras.
O primeiro single, “Hand in Glove”, foi lançado em maio de 1983 e imediatamente estabeleceu o template sonoro dos Smiths. A música apresentava a guitarra jangly de Marr, reminiscente dos Byrds mas com uma urgência pós-punk, enquanto Morrissey cantava sobre amor e alienação com uma vulnerabilidade que era simultaneamente confessional e universal. A letra “Hand in glove / The sun shines out of our behinds” exemplificava a capacidade da banda de misturar romantismo com ironia mordaz.
Embora “Hand in Glove” não tenha alcançado sucesso comercial imediato, ela chamou a atenção da crítica musical e do DJ John Peel, da BBC Radio 1, que se tornaria um dos primeiros e mais importantes defensores da banda. As sessões para o programa de Peel, gravadas em maio e setembro de 1983, ajudaram a expandir significativamente a base de fãs dos Smiths.
O álbum de estreia, simplesmente intitulado “The Smiths”, foi lançado em fevereiro de 1984. Produzido por John Porter, o disco capturava a energia crua das apresentações ao vivo da banda enquanto revelava camadas de sofisticação que se tornavam mais aparentes a cada audição. Faixas como “This Charming Man” e “What Difference Does It Make?” demonstravam a capacidade da banda de criar pop songs que eram simultaneamente acessíveis e subversivas.
“This Charming Man”, em particular, tornou-se o primeiro hit genuíno da banda, alcançando o número 25 nas paradas britânicas. A música apresentava um dos riffs de guitarra mais distintivos de Marr, inspirado parcialmente por “A Hard Day’s Night” dos Beatles, mas filtrado através de uma sensibilidade pós-punk que era inteiramente original. As letras de Morrissey, que falavam sobre encontros românticos em termos ambíguos, desafiavam as convenções da música pop mainstream.
1985–1986: “Meat Is Murder” e “The Queen Is Dead”
O segundo álbum dos Smiths, “Meat Is Murder”, lançado em fevereiro de 1985, marcou uma evolução significativa na abordagem da banda. Mais político e experimental que seu predecessor, o álbum refletia as preocupações sociais crescentes de Morrissey, particularmente em relação aos direitos dos animais e à política conservadora de Margaret Thatcher.
A faixa-título, “Meat Is Murder”, apresentava uma das composições mais pesadas de Marr até então, com um riff de guitarra que evocava o metal industrial enquanto Morrissey denunciava o consumo de carne com uma paixão quase evangélica. A música dividiu críticos e fãs, mas estabeleceu os Smiths como uma banda disposta a usar sua plataforma para questões sociais controversas.
“How Soon Is Now?”, originalmente lançada como lado B em 1984 mas posteriormente incluída em reedições de “Meat Is Murder”, tornou-se uma das composições mais celebradas da banda. A música apresentava um dos riffs de guitarra mais distintivos da década de 1980, criado por Marr através de uma combinação de efeitos de tremolo e reverb que criavam uma atmosfera quase hipnótica. As letras de Morrissey, “I am the son and the heir / Of a shyness that is criminally vulgar”, falavam diretamente à experiência de alienação social que ressoava com uma geração inteira de jovens britânicos.
“The Queen Is Dead“, lançado em junho de 1986, é amplamente considerado a obra-prima dos Smiths. O álbum representava a síntese perfeita entre as ambições artísticas da banda e sua capacidade de criar música pop acessível. Desde a faixa de abertura, que compartilhava o nome do álbum, até o encerramento melancólico de “Some Girls Are Bigger Than Others”, o disco demonstrava uma banda no auge de seus poderes criativos.

A faixa-título abria com uma amostra de “Take Me Back to Dear Old Blighty” cantada por Cicely Courtneidge, antes de explodir em um dos riffs mais poderosos de Marr. As letras de Morrissey, que incluíam a linha provocativa “The Queen is dead, boys / And it’s so lonely on a limb”, foram interpretadas como uma crítica tanto à monarquia quanto ao estado da sociedade britânica sob Thatcher.
“There Is a Light That Never Goes Out” emergiu como uma das baladas mais amadas da banda, combinando uma melodia irresistivelmente romântica com letras que falavam sobre amor e morte com uma honestidade brutal. A música exemplificava a capacidade dos Smiths de encontrar beleza na melancolia, transformando sentimentos de desesperança em arte transcendente.
1987: “Strangeways, Here We Come” e separação
O quarto e último álbum de estúdio dos Smiths, “Strangeways, Here We Come”, foi lançado em setembro de 1987, apenas um mês após a banda anunciar sua separação. O título, uma referência à prisão de Strangeways em Manchester, sugeria tanto um retorno às origens quanto uma sensação de confinamento que refletia as tensões internas crescentes.
As sessões de gravação para “Strangeways” foram marcadas por conflitos entre Morrissey e Marr sobre a direção musical da banda. Marr, influenciado pelo house music e pelos desenvolvimentos tecnológicos na música dance, queria incorporar elementos eletrônicos e samples, enquanto Morrissey preferia manter a abordagem mais orgânica que havia caracterizado os álbuns anteriores.

Apesar das tensões, o álbum continha algumas das melhores composições da banda. “I Started Something I Couldn’t Finish” apresentava um dos riffs mais cativantes de Marr, enquanto “Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me” oferecia uma das performances vocais mais emotivas de Morrissey. A música, que começava com sons de uma multidão em protesto antes de se transformar em uma balada devastadora, capturava perfeitamente o sentimento de desilusão que permeava o álbum.
A separação dos Smiths foi anunciada oficialmente em agosto de 1987, através de um comunicado à imprensa que citava “diferenças musicais” como a razão principal. No entanto, entrevistas posteriores revelaram que as tensões iam além das questões criativas, incluindo disputas sobre royalties e o controle criativo da banda.
1989: Disputa sobre royalties
Dois anos após a separação, os ex-membros dos Smiths se encontraram envolvidos em uma disputa legal complexa sobre royalties e créditos de composição. A controvérsia centrava-se principalmente na divisão dos lucros entre Morrissey e Marr, que eram creditados como os principais compositores, e Rourke e Joyce, que reivindicavam uma participação maior nos royalties.
A disputa chegou aos tribunais em 1989, quando Joyce processou Morrissey e Marr por uma divisão mais equitativa dos royalties. O caso revelou tensões que haviam existido durante toda a carreira da banda, incluindo acordos verbais sobre a divisão de lucros que nunca haviam sido formalizados por escrito.
O tribunal eventualmente decidiu a favor de Joyce, determinando que ele e Rourke tinham direito a uma participação de 25% cada nos royalties da banda, em oposição aos 10% que vinham recebendo. A decisão estabeleceu um precedente importante na indústria musical britânica sobre os direitos dos músicos de apoio em bandas de sucesso.
Carreiras solo
Após a separação dos Smiths, cada membro seguiu caminhos distintos que refletiam suas personalidades e ambições artísticas individuais. Morrissey lançou-se em uma carreira solo que manteve muitos dos elementos estilísticos que o haviam tornado famoso com os Smiths, mas com uma liberdade criativa expandida que lhe permitiu explorar temas e sonoridades que talvez não coubessem no contexto da banda.
O primeiro álbum solo de Morrissey, “Viva Hate”, lançado em 1988, foi tanto uma continuação quanto uma evolução de seu trabalho anterior. Produzido por Stephen Street, que havia trabalhado com os Smiths em “The Queen Is Dead”, o álbum apresentava colaborações com Vini Reilly do Durutti Column e demonstrava que Morrissey poderia manter sua relevância artística fora do contexto dos Smiths.
Johnny Marr, por sua vez, embarcou em uma jornada musical mais eclética, colaborando com uma variedade de artistas que incluía The The, Electronic (seu projeto com Bernard Sumner do New Order), Modest Mouse e The Cribs. Sua abordagem pós-Smiths revelou um músico interessado em explorar diferentes gêneros e tecnologias, desde o rock alternativo americano até a música eletrônica experimental.
Andy Rourke e Mike Joyce mantiveram perfis mais baixos, mas continuaram ativos na cena musical de Manchester. Rourke trabalhou com bandas como Freebass e The Pretenders, enquanto Joyce formou várias bandas locais e eventualmente se tornou um DJ respeitado na cena club de Manchester.
Especulação sobre reunião
Ao longo das décadas seguintes à separação, a possibilidade de uma reunião dos Smiths tornou-se um dos tópicos mais discutidos na música popular britânica. Ofertas milionárias de promotores, incluindo uma proposta reportada de £5 milhões para uma série de shows em 2005, foram consistentemente rejeitadas, principalmente devido à relação deteriorada entre Morrissey e Marr.
Em entrevistas ao longo dos anos, tanto Morrissey quanto Marr expressaram posições aparentemente irreconciliáveis sobre uma possível reunião. Morrissey, em particular, tem sido vocal sobre sua falta de interesse em reviver o passado, frequentemente declarando em entrevistas que “os Smiths estão mortos e enterrados”. Marr, embora mais diplomático, também expressou ceticismo sobre a viabilidade de uma reunião, citando as diferenças pessoais e criativas que levaram à separação original.
A especulação sobre reunião intensificou-se em momentos específicos, como durante a indução dos Smiths no Rock and Roll Hall of Fame em 2023, quando apenas Marr compareceu à cerimônia. A ausência de Morrissey foi amplamente interpretada como uma confirmação de que as diferenças entre os ex-parceiros permanecem irreconciliáveis.
Estilo musical
A sonoridade dos Smiths representou uma síntese única de influências que iam desde o pop dos anos 1960 até o pós-punk dos anos 1980. A guitarra de Johnny Marr era o elemento central dessa equação sonora, combinando o jangle pop dos Byrds com a urgência do punk rock e a sofisticação harmônica que revelava influências do jazz e da música clássica.
Marr desenvolveu uma abordagem à guitarra que era simultaneamente melódica e rítmica, frequentemente sobrepondo múltiplas camadas de guitarra para criar texturas sonoras complexas. Sua técnica incluía o uso extensivo de cordas soltas, arpejos e uma abordagem percussiva que transformava a guitarra em um instrumento tanto harmônico quanto rítmico. Influências específicas incluíam guitarristas como Roger McGuinn dos Byrds, Neil Young e Bert Jansch do Pentangle.
O baixo de Andy Rourke proporcionava uma fundação melódica que ia muito além do papel tradicionalmente rítmico do instrumento. Influenciado por baixistas como Paul McCartney e John Entwistle, Rourke criava linhas de baixo que funcionavam como contrapontos melódicos às guitarras de Marr, adicionando uma dimensão harmônica que enriquecia significativamente as composições.
A bateria de Mike Joyce oferecia uma base rítmica sólida mas nunca dominante, permitindo que os outros elementos da banda brilhassem. Sua abordagem era influenciada tanto pelo punk rock quanto pelo funk, criando grooves que eram simultaneamente diretos e sofisticados.
Vocalmente, Morrissey desenvolveu um estilo que era inconfundivelmente seu. Sua voz, que oscilava entre o crooning suave e a urgência emocional, era capaz de transmitir ironia e sinceridade simultaneamente. Suas influências vocais incluíam cantores como David Bowie, Marc Bolan e cantores de música popular britânica dos anos 1960 como Sandie Shaw e Dusty Springfield.
As composições dos Smiths frequentemente apresentavam estruturas que desafiavam as convenções do pop rock. Marr e Morrissey desenvolveram um método de composição onde as melodias instrumentais eram criadas primeiro, com as letras sendo adicionadas posteriormente. Esse processo resultava em canções onde a música e a letra se complementavam de forma orgânica, criando uma unidade artística que era maior que a soma de suas partes.
Imagética
A identidade visual dos Smiths foi tão cuidadosamente construída quanto sua música, refletindo as sensibilidades estéticas de Morrissey e sua obsessão por ícones da cultura popular britânica. As capas dos álbuns, invariavelmente apresentando fotografias em preto e branco de figuras culturais obscuras ou semi-esquecidas, tornaram-se tão distintivas quanto a música em si.

A escolha de usar fotografias de atores, escritores e personalidades culturais nas capas dos álbuns refletia a fascinação de Morrissey pela história cultural britânica e sua tendência a encontrar beleza no esquecimento. A capa de “The Smiths” apresentava Joe Dallesandro, ator de filmes de Andy Warhol, enquanto “Meat Is Murder” mostrava uma cena do filme “Emile de Antonio”. “The Queen Is Dead” apresentava uma foto de Alain Delon do filme “L’Insoumis”.
Essa abordagem à imagética visual criava uma narrativa paralela à música, sugerindo conexões entre a obra dos Smiths e uma tradição cultural mais ampla. As escolhas visuais funcionavam como uma forma de educação cultural, introduzindo os fãs a figuras e obras que talvez não conhecessem de outra forma.
A estética dos Smiths estendia-se também às apresentações ao vivo, onde Morrissey frequentemente aparecia com flores, gladíolos ou outros objetos que desafiavam as convenções da masculinidade no rock. Essa teatralidade visual complementava as letras que frequentemente exploravam temas de vulnerabilidade emocional e alienação social.
A tipografia usada nos materiais promocionais da banda também se tornou parte de sua identidade visual. A fonte simples e elegante usada nos logos e capas dos álbuns refletia uma estética minimalista que contrastava com o excesso visual que caracterizava muito da música pop dos anos 1980.
Herança cultural
O impacto dos Smiths na música popular transcendeu amplamente sua breve existência, influenciando gerações de músicos e redefinindo as possibilidades do rock independente. Sua abordagem à composição, que combinava sofisticação musical com acessibilidade pop, estabeleceu um template que seria seguido por inúmeras bandas nas décadas seguintes.
Bandas como Radiohead, Oasis, Blur, Suede e Pulp citaram os Smiths como uma influência fundamental, não apenas musicalmente mas também em termos de atitude e abordagem à indústria musical. A decisão dos Smiths de trabalhar com uma gravadora independente e manter controle criativo inspirou uma geração de artistas a buscar alternativas ao sistema das grandes gravadoras.
A influência dos Smiths pode ser ouvida em movimentos musicais subsequentes como o Britpop dos anos 1990, onde bandas como Oasis e Blur adotaram elementos da sonoridade dos Smiths enquanto adaptavam-na para uma nova geração. O indie rock dos anos 2000 também deve muito aos Smiths, particularmente em termos de abordagem à guitarra e à estrutura das canções.
Além da influência musical direta, os Smiths também impactaram a cultura popular britânica de formas mais amplas. Suas letras, que frequentemente faziam referências à literatura, ao cinema e à cultura popular, elevaram o nível de sofisticação esperado das letras de rock. Morrissey, em particular, demonstrou que era possível ser simultaneamente intelectual e popular, abrindo espaço para uma geração de letristas mais literários.
A abordagem dos Smiths às questões sociais e políticas também estabeleceu um precedente para o ativismo musical. Suas posições sobre direitos dos animais, política conservadora e questões sociais demonstraram como uma banda poderia usar sua plataforma para promover mudança social sem sacrificar a qualidade artística.
O culto que se desenvolveu em torno dos Smiths nas décadas seguintes à sua separação demonstra a profundidade de seu impacto cultural. Fãs continuam a fazer peregrinações a locais associados à banda em Manchester, e suas músicas continuam a encontrar novas audiências através de streaming e reedições.
Membros
Steven Patrick Morrissey (Vocais)
Nascido em 22 de maio de 1959, em Davyhulme, Manchester, Steven Patrick Morrissey tornou-se uma das figuras mais polarizadoras e influentes da música popular britânica. Antes dos Smiths, Morrissey era conhecido principalmente como um fã obsessivo de música, escrevendo para fanzines e correspondendo-se com músicos. Sua paixão pela literatura, particularmente pelos trabalhos de Oscar Wilde, James Dean e escritores da classe trabalhadora britânica, moldaria profundamente sua abordagem às letras.
A voz de Morrissey, que combinava vulnerabilidade emocional com ironia mordaz, tornou-se a assinatura sonora dos Smiths. Sua capacidade de transmitir múltiplas camadas de significado em uma única linha vocal permitia que as canções da banda funcionassem tanto como pop songs diretas quanto como comentários sociais complexos.
Como letrista, Morrissey desenvolveu um estilo que era simultaneamente pessoal e universal, falando sobre experiências de alienação e desilusão que ressoavam com uma ampla audiência. Suas letras frequentemente apresentavam referências literárias e culturais que elevavam o nível de sofisticação esperado da música pop.
Johnny Marr (Guitarra)
Nascido John Martin Maher em 31 de outubro de 1963, em Ardwick, Manchester, Johnny Marr tornou-se um dos guitarristas mais influentes de sua geração. Sua abordagem à guitarra, que combinava técnica sofisticada com sensibilidade melódica, redefiniu as possibilidades do instrumento no contexto do rock alternativo.
Marr era o principal arquiteto sonoro dos Smiths, criando os arranjos instrumentais que forneciam a base para as melodias vocais de Morrissey. Sua técnica incluía o uso de múltiplas camadas de guitarra, efeitos cuidadosamente escolhidos e uma abordagem harmônica que revelava influências do jazz e da música clássica.
Além de sua contribuição musical, Marr também funcionava como o principal negociador da banda, lidando com questões contratuais e de negócios que permitiam que Morrissey se concentrasse nos aspectos criativos. Sua maturidade profissional, notável considerando sua juventude, foi crucial para o sucesso comercial dos Smiths.
Andy Rourke (Baixo)
Nascido em 17 de janeiro de 1964, em Manchester, Andrew Michael Rourke trouxe uma abordagem melódica ao baixo que se tornou fundamental para o som dos Smiths. Sua técnica, influenciada por baixistas como Paul McCartney e John Entwistle, transformava o baixo de um instrumento puramente rítmico em um elemento melódico central.
As linhas de baixo de Rourke frequentemente funcionavam como contrapontos às guitarras de Marr, criando texturas harmônicas complexas que distinguiam os Smiths de seus contemporâneos. Sua capacidade de criar melodias memoráveis no baixo adicionava uma dimensão extra às composições da banda.
Rourke também contribuía para os arranjos vocais da banda, frequentemente sugerindo harmonias e estruturas que enriqueciam as composições. Sua parceria musical com Mike Joyce criava uma seção rítmica que era simultaneamente sólida e inventiva.
Mike Joyce (Bateria)
Nascido em 1º de junho de 1963, em Manchester, Michael Adrian Paul Joyce proporcionava a fundação rítmica que permitia que os outros elementos dos Smiths brilhassem. Sua abordagem à bateria era caracterizada por uma combinação de solidez técnica e sensibilidade musical que complementava perfeitamente o estilo da banda.
Joyce desenvolveu um estilo de bateria que era influenciado tanto pelo punk rock quanto pelo funk, criando grooves que eram simultaneamente diretos e sofisticados. Sua capacidade de adaptar seu estilo às necessidades de cada canção, desde as baladas melancólicas até as faixas mais energéticas, demonstrava uma versatilidade que era crucial para o sucesso da banda.
A parceria rítmica entre Joyce e Rourke criava uma base sólida que permitia que Marr experimentasse com texturas guitarrísticas complexas enquanto proporcionava o suporte necessário para as performances vocais dramáticas de Morrissey.
Cronologia
1982
- Maio: Morrissey e Johnny Marr se conhecem em Manchester
- Verão: Formação completa da banda com Andy Rourke e Mike Joyce
- Outubro: Primeira apresentação oficial no Ritz, Manchester
1983
- Maio: Lançamento de “Hand in Glove”, primeiro single
- Maio: Primeira sessão para John Peel na BBC Radio 1
- Setembro: Segunda sessão para John Peel
- Novembro: Lançamento de “This Charming Man”
1984
- Fevereiro: Lançamento do álbum de estreia “The Smiths”
- Maio: Lançamento de “Heaven Knows I’m Miserable Now”
- Outubro: Lançamento de “How Soon Is Now?” como lado B
1985
- Fevereiro: Lançamento de “Meat Is Murder”
- Março: “Meat Is Murder” alcança o número 1 nas paradas britânicas
- Julho: Lançamento de “That Joke Isn’t Funny Anymore”
1986
- Junho: Lançamento de “The Queen Is Dead”
- Outubro: Lançamento de “Panic”
- Dezembro: Lançamento de “Ask”
1987
- Abril: Lançamento de “Sheila Take a Bow”
- Agosto: Johnny Marr deixa a banda
- Agosto: Anúncio oficial da separação
- Setembro: Lançamento de “Strangeways, Here We Come”
1988
- Março: Lançamento de “Viva Hate”, primeiro álbum solo de Morrissey
- Dezembro: Lançamento da compilação “Rank”
1989
- Mike Joyce inicia processo legal por royalties
1992
- Lançamento de “Best… I”
1996
- Decisão judicial favorável a Mike Joyce na disputa por royalties
Discografia
Álbuns de estúdio

The Smiths (1984) O álbum de estreia estabeleceu imediatamente a banda como uma força criativa única na música britânica. Gravado nos Pluto Studios em Manchester e produzido por John Porter, o disco capturava a energia crua das apresentações ao vivo enquanto revelava camadas de sofisticação que se tornavam mais aparentes a cada audição.
Faixas como “Reel Around the Fountain” e “Suffer Little Children” demonstravam a disposição da banda de abordar temas controversos, enquanto “This Charming Man” e “What Difference Does It Make?” mostravam sua capacidade de criar pop songs irresistíveis. O álbum alcançou o número 2 nas paradas britânicas e foi aclamado pela crítica como uma das estreias mais impressionantes da década.
Meat Is Murder (1985) O segundo álbum representou uma evolução significativa na abordagem da banda, tanto musicalmente quanto liricamente. Mais experimental e politicamente engajado que seu predecessor, “Meat Is Murder” refletia as preocupações sociais crescentes de Morrissey e a disposição de Marr de explorar territórios sonoros mais pesados.

A faixa-título apresentava uma das composições mais intensas da banda, enquanto “How Soon Is Now?” (incluída em reedições posteriores) tornou-se uma das suas canções mais celebradas. O álbum alcançou o número 1 nas paradas britânicas, confirmando o status dos Smiths como uma das bandas mais importantes do país.

The Queen Is Dead (1986) Amplamente considerado a obra-prima dos Smiths, “The Queen Is Dead” representava a síntese perfeita entre ambição artística e acessibilidade pop. O álbum foi gravado nos Jacobs Studios em Surrey e co-produzido por Morrissey, Marr e Stephen Street.
Desde a provocativa faixa-título até a melancólica “There Is a Light That Never Goes Out”, o álbum demonstrava uma banda no auge de seus poderes criativos. “Bigmouth Strikes Again” e “The Boy with the Thorn in His Side” exemplificavam a capacidade da banda de criar música que era simultaneamente pessoal e universal.
Strangeways, Here We Come (1987) O quarto e último álbum de estúdio foi lançado após a separação da banda, criando uma atmosfera de despedida que permeava toda a obra. Gravado nos The Wool Hall Studios em Bath, o álbum refletia as tensões internas que levariam ao fim dos Smiths.

Apesar das circunstâncias difíceis, o álbum continha algumas das melhores composições da banda. “I Started Something I Couldn’t Finish” apresentava um dos riffs mais cativantes de Marr, enquanto “Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me” oferecia uma das performances vocais mais emotivas de Morrissey.
Singles principais
A discografia de singles dos Smiths representa um catálogo notável de composições que funcionavam tanto como declarações artísticas quanto como pop songs acessíveis. “Hand in Glove” (1983) estabeleceu o template sonoro da banda, enquanto “This Charming Man” (1983) proporcionou seu primeiro hit genuíno.
“What Difference Does It Make?” (1984) consolidou sua presença nas paradas, seguido por “Heaven Knows I’m Miserable Now” (1984), que exemplificava a capacidade de Morrissey de transformar melancolia em arte pop. “William, It Was Really Nothing” (1984) e “How Soon Is Now?” (1985) demonstraram a versatilidade da banda.
“That Joke Isn’t Funny Anymore” (1985) e “The Boy with the Thorn in His Side” (1985) revelaram uma maturidade crescente, enquanto “Panic” (1986) tornou-se um hino para uma geração desiludida. “Ask” (1986) e “Shoplifters of the World Unite” (1987) mantiveram a qualidade até o final.
Compilações e lançamentos póstumos
Após a separação, várias compilações documentaram a carreira dos Smiths. “Hatful of Hollow” (1984) compilava sessões de rádio e lados B, revelando a consistência da qualidade da banda mesmo em material não destinado aos álbuns principais.
“The World Won’t Listen” (1987) e “Louder Than Bombs” (1987) ofereciam perspectivas diferentes sobre o catálogo da banda, enquanto “Best… I” (1992) e “Best… II” (1992) proporcionavam introduções acessíveis para novos fãs.
“Singles” (1995) compilava todos os A-sides da banda em ordem cronológica, oferecendo uma narrativa clara de sua evolução artística. Reedições posteriores incluíram material adicional, demos e versões alternativas que revelavam o processo criativo da banda.