A história da guitarra poderia ter tomado outro rumo se não fosse por uma única corda. Foi a percepção de que podia tocar como seus heróis que impulsionou Jimmy Page. No início de seu aprendizado, enquanto se aprofundava no instrumento que o tornaria um mestre, o cenário musical era dominado por artistas de blues e R&B. Músicos como Muddy Waters inovavam ao dobrar cordas, alcançando notas antes impensáveis para os jazzistas. O som resultante era poderoso e expressivo.
Para Page, replicar essas sonoridades parecia distante. Ele começou em um violão acústico desgastado, herdado. Embora o violão acústico tenha seu valor, não era o ideal para quem buscava a expressividade dos blues. Page se esforçava, mas o som que produzia não se assemelhava ao de seus ídolos, limitado pela natureza do instrumento.
Tudo mudou quando ele decidiu substituir a corda Sol (G) por uma corda Si (B). Mais fina, a corda Si, apesar de mais frágil, permitiu que Page dobrasse as notas como seus heróis faziam. A partir daquele momento, o universo da guitarra se abriu. Page dedicou anos a dominar diversos gêneros e estilos, construindo sua própria linguagem musical.
Embora conhecido como guitarrista de rock, Page é reconhecido por sua versatilidade. Ao formar o Led Zeppelin, ele queria uma banda que unisse as várias vertentes musicais que explorava desde jovem e como músico de sessão. Essa bagagem foi fundamental para a sonoridade única do Zeppelin.
“Eu tinha muitas ideias dos meus dias com o The Yardbirds. O The Yardbirds me permitiu improvisar muito ao vivo, e comecei a construir um ‘livro-texto’ de ideias que usei no Zeppelin”, revelou Page (via Far Out). Ele desejava que o Led Zeppelin fosse “um casamento de blues, hard rock e música acústica, com refrões marcantes — uma combinação inédita”. Sua visão era criar uma música com “muita luz e sombra”, explorando dinâmicas e texturas além das categorias musicais da época.
Em sua busca por diferentes formas de tocar guitarra, Jimmy Page encontrou inúmeras inspirações. Cada uma delas contribuiu para seu desenvolvimento como instrumentista e apreciador da música. Ele não tem um estilo favorito; são as diversas abordagens que o fascinam, pois ele admira como cada músico imprime sua identidade no instrumento. Essa abertura define sua carreira.
“Eu realmente amo todo tipo de tocar guitarra”, afirmou. “É isso, ouvir a guitarra quando eu era criança e já apreciar que, embora sejam seis cordas de uma guitarra elétrica, cada um coloca sua personalidade. Isso é o mais legal.” Sua paixão e respeito pela individualidade artística transparecem nessas palavras.
Apesar de seu amor universal pelo instrumento, Page tem solos que prefere. Um deles, que ele descreveu como “mais que perfeito”, é o trabalho em “Reelin’ In The Years” do Steely Dan. Ao ser questionado sobre uma nota de 0 a 10 para o solo, Page foi além.
“Ah, eu conheço essa, é legal, eu gosto dessa”, disse ele. “Steely Dan, clássico, essa tem que ser um 12.” Essa declaração, vinda de um guitarrista de seu calibre, destaca a qualidade e o impacto duradouro de um solo que, para muitos, representa a perfeição técnica e emocional no rock e no pop. A capacidade de Page de reconhecer a excelência em diferentes contextos musicais demonstra sua amplitude como artista.



