O número nove é tido como o maior algarismo numérico, após ele, não há nada a não ser o recomeço. Pode ser tido aqui como um ponto de equilíbrio, assim como mencionou Ihsahn em algumas de suas entrevistas em relação a esse trabalho durante seu lançamento no último ano que fechava a década de noventa, o que seria um tanto curioso também pelas circunstâncias: masterizado em 9 de Janeiro de 1999, em 9 horas e possuí nove faixas. Talvez, é claro, possamos relacionar esse nono equilíbrio com o sucesso e a nova página em que a banda, Emperor, se encontrava naquele mesmo ano, afinal de contas, já não eram mais os mesmos rapazes que vieram de uma panelinha obscura há alguns anos atrás.

Fechar um ciclo de turnês depois de 1 ano e meio em apoio ao álbum anterior Anthems To The Welikin At Dusk (1997) trouxe algumas lições significativas, afinal de contas, os noruegueses estavam passeando pela Europa de forma geral pela primeira vez a trabalho e tinham aterrissado em 1998 pela primeira vez no continente americano para o famoso Milwaukee Festival. porém, era hora de um novo capítulo criativo emergir naquele núcleo e bem, digamos que algumas mudanças de última hora teriam de ser mais um teste de resiliência, como se já não estivessem acostumados a tanta porrada dos últimos anos. Primeiramente, o baixista Alver pedia as contas e segundo Samoth, em entrevista ao Karsmakers.nl em Maio de ’99, a saída foi de forma amigável e se deu por conta da demanda que não poderia cumprir na agenda geral deles, teria sido um senso mútuo e o melhor para os dois lados. A segunda, é a mudança de estúdio, digamos que Pytten já não entregava mais os mesmos aparatos necessários que precisavam para que evoluíssem o seu som, e o Grieghallen Studios se tornou mais um capítulo na história da cena local do que um ponto de permanência para algumas daquelas bandas depois de um tempo. Se formos colocar na balança, aquele som necro já não combinava nem com o trabalho anterior, e digamos que a mixagem estourada já não favorecia muito os objetivos com o grupo. Talvez o Akkerhaugen Lydstudio pudesse ajuda-los ali com o que precisavam, e segundo o próprio Ihsahn, o resultado foi mais que satisfatório.
Se você procura similaridades com aquele som estourado em IX Equilibrium, talvez seja melhor ficar com os trabalhos anteriores, ou pelo menos com outras bandas similares como Darkthrone que continuarem fazendo um som lo-fi com o passar do tempo. É uma junção de um “thrashfest” com alguns dos poucos elementos do black metal que os fizeram famosos, talvez entrando um pouco naquela categoria do norsecore ? Realmente é um tanto debatível, se permite, aquela mesma evolução musical que vimos no trabalho anterior aqui se repete e vai para outros horizontes, e diria que acaba sendo mais do paladar de audiências opostas, então julgar fazer ou não parte dessa classificação não seria tão errado, o que não significa que seja ruim, como muitas pessoas tendem a colocar em uma simbologia negativa essa categoria de álbuns de metal extremo escandinavo. Da mesma forma que a pessoa chegou ao black metal, talvez de mente aberta, para o ouvinte do gênero, talvez seria uma questão de ouvir esse mesmo dessa forma, especialmente porque a banda nunca deixou seus ideais de lado quando se trata do trabalho lírico.

O imperador ainda está lá nas letras, a verdade, é que a banda começa e termina sua tragetória criativa com ele, então, nada mais justo do que um monarca tentando encontrar um ponto de equilíbrio em sua existência, não é mesmo? Ao ouvir Curse You All Men, fica evidente ao ouvinte que “narciso” está mais vivo e imponente do que nunca, afinal de contas, quem ousa derrubar a hegemonia de meu reino? Amaldiçoado sejam todos esses homens que o maldizem, cuja a espiral é forte! Seu inimigo é exposto e fraco, e aquele que lhe tira o protagonismo ei de sofrer, assim como cantado em An Elegy Of Icaros, uma das músicas mais populares e diferenciadas na discografia da banda. Inspirada na tragédia de Icaro, é um relato sobre os limites da humanidade e as consequências de darem passos maiores do que a própria perna, ou pelo menos sem uma garantia de segurança caso tudo dê errado. Para a figura que permeia o álbum, não há limite que o pare, só atesta ainda mais de sua grandeza. É, entretanto, um padrão no lado B, como no álbum anterior, de questões idealistas como a busca do propósito se tornarem o foco dos pensamentos desse poderosíssimo ser. De onde começa e terminam seus limites, músicas como The Warriors of Modern Death e Of Blindness & Subsequent Seers são passagens interessantes a esse pensamento, e as que antecedem, The Source Of The Icon E e Sworn, são a garantia dessa determinada e cega devoção que seus aliados tem sobre ele.
Como dito anteriormente, o som é mais palatável para um público abrangente que já possuí contado com gêneros extremos do metal, é capaz até de dizer que esse, se não pelos anteriores, foi uma porta de entrada para muitos a banda tanto quanto para o gênero. É curioso notar a precisão em que Trym Torson conduz a bateria, um blast beat a cada 30 segundos, literalmente uma máquina. Não a toa conseguia executar as linhas de bateria em sua época no Enslaved com tanta precisão, e trazer isso a uma banda cuja a precisão diante das habilidades musical de cada membro é grande, caiu obviamente como uma luva desde 1997. As guitarras agora conseguem ter uma sonoridade nítida como o brilho de um cristal, aquele aspecto abafado agora consegue ser, literalmente, um alívio para o ouvinte que já se encontrava em outra quando se tratava da cena escandinava, com metalzone gritando até o talo. Influências de outrora ainda são notadas aqui, principalmente com a performance vocal de Ihsahn, novamente em The Source Of Icon E, na qual em um trecho, personifica a mesma técnica vocal utilizada por King Diamond, e é bem comum, digamos, que com o passar do tempo, algumas pessoas menos informadas jurassem de pé junto que o vocalista dinamarquês tivesse colaborado nessa música. Diversos tempos quebrados e riffs cadenciados ainda fazem da abordagem progressiva, e uma que mais representa desse lado “Thrash”, assim digamos, seja a Sworn em seus 4 minutos e meio de reprodução.
Durante essa mesma época, trabalharam também em diversas colaborações, uma delas era com a banda Thorns, lançando em Julho daquele mesmo ano o disco Thorns Vs Emperor, no qual as duas bandas retrabalhavam mixagens e composições alternativas para o trabalho da que permeia o conteúdo da matéria. É interessante notar que parte dos samples de uma dessas músicas, Exördium, era utilizado na abertura de shows da turnê em suporte ao IX Equilibrium. Alguns covers foram trabalhados durante o processo de composição do álbum de estúdio foco, um de Funeral Fog do Mayhem, que tinha ninguém menos que o vocalista da gravação original Attila, performand-a novamente nos vocais, e um inusitado e cheio dos efeitos cover de Cromlech, dos Darkthrone. Esses foram gravados com o objetivo de fazer parte de coletâneas que homenageiam o legado de cada uma dessas bandas. Uma visão diferente de cada uma dessas por óbvias razões, afinal, não seriam covers, e interessante nesses notar em que página estavam em termos de produção e musicalidade como dito antes, até por deixa-las um tanto melhor do que suas bandas originais.

IX Equilibrium foi lançado em 27 de Março de 1999, o que seguiu uma campanha de divulgação com grande sucesso: capa de várias revistas do meio, desde as especializadas em divulgação e fofoca, até mesmo as de instrumentos musicais por conta da virtuosidade musical e técnica reconhecida pelos editorais. Uma turnê norte americana de sucesso chamada Kings Of Terror Tour, que reunia nomes como Borknagar, Peccatum (banda de metal avant-garde, liderada por Ihsahn e sua esposa Ihriel, ou Starofash), Witchery e a americana Divine Empire, tendo uma das datas um Shadows Fall já em início de carreira. Além disso, turnês em alguns festivais de verão fizeram parte do itinerário, além de uma turnê tendo Morbid Angel, já há muito sem David Vincent como frontman sendo headliner. Entretanto, dois shows dessa turnê entraram para a história de forma definitiva. Um deles foi no saudoso Astoria 2 em Londres, que foi a gravação do VHS intitulado de Emperial Live Ceremony, lançado em 2000 tamém em CD, e um pouco mais tarde em DVD, incluindo extras a mais nas edições que seguiam após o fim da banda no ano de 2001. Outro, foi um verdadeiro caos, mas que ajudou ainda mais na divulgação de uma banda que já se encontrava em uma boa fase, como se polêmicas já não fossem uma excelente propaganda, que nem nos dias de hoje:
O festival Mystic Festival que acontecia na Cracóvia, e fazia parte da promoção do negócio do selo especializado em fitas cassete na época de mesmo nome, teria os noruegueses como headliners. Como toda mídia conservadora que se prese, não demorou muito que chegasse a novidade até lá e as próprias autoridades começassem a assediar a produção do festival, o motivo talvez não seja necessário explicar para um vigário, porém, convenhamos: se você acompanha os protestos que Nergal da banda Behemoth faz em relação ao problema relacionado a conservadorismo religioso que tem naquele lugar, vai saber do que estou falando. O realizador do evento, Pawel Kaczynski teve de, um dia antes do evento ouvir do chefe de polícia local a possibilidade de um atentado ocorrer, e no dia seguinte durante o evento, ameaçaram com um falso alarme da possibilidade de ter uma bomba ali implantada. Embora o evento tenha ocorrido bem, o pressionaram demais para ali “cooperar” nas investigações e mal conseguiu falar com a banda, a não ser por um breve momento em que chegou em Samoth comentando o caso, na qual o respondeu com uma simples retórica “E você acha mesmo que tem uma bomba”, acompanhado de um lógico “não”, tendo o show rolado por completo numa boa e o público saindo dali satisfeito. Existem alguns rumores sobre o setlist ter sido encurtado ou da possibilidade de terem ali planejado um home-video com as gravações dos shows, que teria sido vetada por conta da confusão, mas nada que passe dessa categoria. Quem vê, quem viu, quem sabe.

Estavam no auge, no calor do momento e levando o som extremo para novas audiências, assim como outras bandas tanto melódicas como sinfônicas do meio que já dispensam apresentações. Entretanto, como já sabemos da história, divergências no direcionamento musical de ambos os lados, tanto de Ihsahn como de Samoth iriam custar na permanência da continuidade das atividades dessa no futuro, satisfazendo os dois lados ao procurarem novos projetos musicais, seja no Peccatum e ao reviver o por curto período o Thou Shalt Suffer por parte de Ihsahn, ou até mesmo com o Zyklon, na qual Samoth e Trym formariam juntos para um som extremo mais voltado para o som extremo, na qual o colega e frontman já não se via mais como parte daquele hemisfério criativo. Na época de lançamento do álbum Resurrection da carreira solo de Rob Halford, o já mencionado selo Mystic Productions estava fazendo o lançamento do álbum na Polônia, e o músico havia pisado nas terras da Varsóvia para uma coletiva de imprensa. Quando Pawel, simplesmente trouxe alguns discos do Judas Priest ao pedir que fossem autografados, de forma gentil e humilde que é, chegou ao rapaz dono do próprio negócio na época e brincou:
“Então quer dizer que você conhece os caras do Emperor, eles tocaram no seu festival e ainda você quer me pedir um autógrafo?”
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