Responsável por impulsionar o blues elétrico de Chicago nos anos 1950, a Chess Records moldou parte da base do rock moderno. O selo, fundado em 1950 pelos irmãos Phil e Leonard Chess, funcionou como ponto de encontro entre tradição negra e novos formatos da indústria fonográfica nos Estados Unidos.
Com sede em Chicago, a gravadora se tornou referência ao reunir nomes como Etta James, Howlin’ Wolf, Chuck Berry e Muddy Waters. Também se destacaram artistas como Little Walter, Bo Diddley e John Lee Hooker, muitos deles influentes em formações britânicas dos anos 1960.
Entre os grupos e músicos que buscaram referências no catálogo da Chess estão Rolling Stones, Led Zeppelin, Cream e Janis Joplin. O repertório da gravadora também influenciou bandas como The Yardbirds e The Paul Butterfield Blues Band, que reinventaram o blues para públicos mais jovens.
Nos primeiros seis anos, a Chess concentrou suas edições em compactos de 7 polegadas, formato comum entre os selos independentes da época. O primeiro LP saiu apenas em 1956. Desde então, a gravadora começou a consolidar obras de peso dentro da discografia de cada artista.
A rádio Futuro, do Chile, listou os 10 álbuns que considera essenciais dentro do catálogo do selo. A seleção cobre obras lançadas entre as décadas de 1950 e 1970, período de maior relevância do selo no mercado internacional. A lista conta com discos que atravessaram gerações e continuam sendo redescobertos.
Little Walter – Best of Little Walter (1958)
O álbum compilatório da Chess Records reuniu dez singles de Little Walter que entraram no Top 10 da parada R&B da Billboard entre 1952 e 1955. Foi o primeiro LP dedicado a um harmonicista de blues.
Em 1991, a obra foi incluída no Hall da Fama da Blues Foundation na categoria “Clássicos do Blues”. A coletânea permanece como porta de entrada ideal para conhecer o trabalho do músico.
Chuck Berry – Chuck Berry Is On Top (1959)
Lançado em julho de 1959, “Chuck Berry Is on Top” reúne os maiores sucessos do artista até então. O terceiro álbum de estúdio incluía clássicos como “Maybellene”, “Johnny B. Goode” e “Roll Over Beethoven”.
Apenas “Blues for Hawaiians” foi gravada especialmente para o projeto. As demais faixas eram singles já conhecidos, muitas com seus lados B originais.
Considerada uma antologia bem organizada, a obra sintetiza o melhor da fase inicial de Berry. O disco consolida seu papel como um dos criadores do rock’n’roll
Howlin’ Wolf – Moanin’ In The Moonlight (1959)
A Chess Records reuniu os maiores sucessos de Howlin’ Wolf no LP “Moanin’ in the Moonlight”, lançado em 1959. O trabalho compilava singles como “How Many More Years” e “Smokestack Lightnin’”, já consagrados no circuito blues de Chicago.
A Rolling Stone incluiu o álbum na posição 153 da lista dos 500 melhores de todos os tempos. O reconhecimento solidificou o disco como marco na carreira do músico e no catálogo da lendária gravadora.
O projeto destacou a voz poderosa e o estilo inovador de Wolf, influência decisiva para o rock britânico dos anos 1960. Sua abordagem crua do blues urbano redefiniu parâmetros para o gênero.
Mais que coletânea, o álbum tornou-se documento histórico, capturando a essência do blues elétrico em sua fase de maturidade criativa.
Etta James – At Last! (1960)
Gravado em 1960 e produzido pelos irmãos Phil e Leonard Chess, fundadores da Chess Records, “At Last!” apresentou ao mundo a voz poderosa de Etta James. O álbum combinou soul e blues com arranjos orquestrais, buscando alcançar o público pop.
Com dez faixas, o trabalho se tornou um dos mais conhecidos do catálogo da Chess Records, alcançando o 12° lugar na parada Billboard Top Catalog Albums. Originalmente lançado pelo selo Argo, subsidiário da Chess, recebeu relançamento em 1999.
A performance vocal de James no álbum consagrou-se como referência, unindo diferentes públicos e estabelecendo novos padrões para o gênero. Sua interpretação da faixa-título permanece como uma das mais celebradas da história da música.
Bo Diddley – Bo Diddley In The Spotlight (1960)
O álbum “Bo Diddley In The Spotlight”, lançado originalmente em 1960 pela Checker (selo da Chess) e relançado em 1987, reúne gravações fundamentais do artista. Entre as doze faixas, destacam-se “Love Me”, “Deed and Deed I Do” e os clássicos “Road Runner” e “The Story of Bo Diddley”.
O trabalho mostra a versatilidade de Bo Diddley, transitando entre baladas românticas, doo-wop e rock vigoroso. A coletânea preserva o estilo único do músico, conhecido por revolucionar a guitarra elétrica nos anos 1950.
Considerado material essencial para entusiastas do gênero, o álbum documenta a fase criativa do artista que influenciou gerações, dos Rolling Stones a The Clash. Sua reedição garantiu o acesso às novas gerações.
John Lee Hooker – Plays and Sings The Blues (1961)
O selo Chess reuniu em 1961 o melhor do blues cru de John Lee Hooker neste álbum. Com um som minimalista – apenas voz, guitarra e as batidas de Hooker em uma tábua de madeira – o disco mostra seu estilo único e despojado.
Diferente das produções polidas de Muddy Waters, Hooker gravava sem banda fixa, criando estruturas rítmicas livres. Essa abordagem não convencional resultou em peças de blues autênticas e irrepetíveis.
A qualidade variável entre as faixas só reforça o caráter visceral de um trabalho que captura a essência do blues sem concessões. Uma mostra magistral do som mais pessoal de Hooker.
Muddy Waters – Folk Singer (1964)
Lançado em 1964 pela Chess Records, “Folk Singer” destacou-se como o único trabalho totalmente acústico de Muddy Waters. Apesar do título, o álbum manteve raízes no blues, com o músico na guitarra acompanhado por Willie Dixon (baixo), Buddy Guy (guitarra) e Clifton James (bateria).
A escolha do nome refletia estratégia comercial, aproveitando o auge da música folk na época. Gravado em formato desplugado, o disco mesclou versões e composições originais, mostrando a potência vocal e a técnica guitarrística de Waters.
A produção, elogiada por sua qualidade sonora, criou atmosfera intimista como se o ouvinte estivesse no estúdio. Cinco décadas depois, permanece como referência entre entusiastas do gênero.
Diferente da eletrificação característica do artista, esta obra capturou sua essência em arranjos crus, consolidando-se como marco na discografia do músico. A Chess Records relançou o material remasterizado em 1999, ampliando seu alcance para novas gerações.
Buddy Guy – I Left My Blues In San Francisco (1967)
Nos primeiros anos de carreira, Buddy Guy atuou como guitarrista de sessão para a Chess Records, participando de gravações como “Folk Singer” (1964) de Muddy Waters. No final dos anos 1960, assinou como artista solo, mas enfrentou limitações criativas.
A gravadora insistia em suavizar seu estilo ao vivo, considerado “barulho”, buscando um som mais comercial. Essa restrição resultou em apenas um álbum pelo selo: “I Left My Blues in San Francisco” (1967).
O trabalho mesclava influências soul com a essência do blues que marcaria sua carreira. Apesar das interferências da Chess, o LP já apresentava elementos do estilo que BG desenvolveria nas décadas seguintes.
A passagem pela Chess mostrou-se breve, mas fundamental para o amadurecimento artístico do músico, que mais tarde conquistaria liberdade criativa em outros projetos.
Jimmy Rogers – Chicago Bound (1970)
O guitarrista Jimmy Rogers marcou a cena blues de Chicago durante sua passagem pela Chess Records. Apesar de ter alcançado as paradas apenas com “Walking By Myself”, seu catálogo inclui clássicos fundamentais do gênero.
Seus trabalhos contaram com colaborações de peso: Little Walter, Muddy Waters e Willie Dixon, entre outros. A discografia na Chess, especialmente as faixas reunidas em “Chicago Bound”, sintetiza o espírito do blues urbano dos anos 1950.
A combinação de sua voz contida e guitarra precisa, somada ao talento de seus acompanhantes, resultou em gravações que permanecem como referência. Rogers consolidou-se como arquiteto do som que definiu uma era.
Howlin’ Wolf – The London Howlin’ Wolf Sessions (1971)
O lendário bluesman Howlin’ Wolf reuniu grandes nomes do rock britânico em seu álbum de 1971 pela Chess Records. Eric Clapton, Steve Winwood, Bill Wyman e Charlie Watts participaram das gravações, mostrando a influência do músico em sua formação.
O trabalho marcou um encontro entre o mestre do blues e artistas que cresceram ouvindo sua obra. A colaboração resultou em uma reinterpretação energética do gênero, alcançando a posição 79 na Billboard 200.
O álbum representa um diálogo musical entre gerações, com os britânicos prestando tributo a um de seus maiores inspiradores. A Chess Records manteve assim seu papel fundamental na evolução do blues e rock.
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