Antes da virada que colocaria o Nirvana no centro das atenções mundiais, Kurt Cobain e Dave Grohl atravessaram um inverno interno. Mesmo recém-contratados pela gravadora Geffen, os dois músicos viveram dias de pobreza quase invisível, presos a um pequeno apartamento sem conforto em Los Angeles.
“Foi o período mais depressivo que tive em anos”, contou Kurt, em um dos raros momentos em que falou diretamente sobre aquele tempo. Entre ensaios diários e refeições improvisadas, os instrumentos foram penhorados e até a televisão virou moeda de sobrevivência.
Apesar do contrato com uma gigante da indústria, a vida seguia à margem. O entusiasmo inicial com a nova fase dava lugar à exaustão. A repetição dos ensaios, única válvula de escape, aos poucos também perdia o efeito. Naquela rotina silenciosa, a heroína se apresentava como um alívio.
O uso começou com discrição, em doses semanais. Era discreto, quase imperceptível para quem convivia. “Alguém como o Kurt, que já é meio letárgico por natureza… como você saberia?”, questionou Dave Grohl, anos mais tarde, ao relembrar o momento.
Krist Novoselic, por outro lado, sentiu o peso mais cedo. A preocupação veio numa ligação inesperada, feita por Kurt numa noite qualquer. O baixista desligou com pressa, mas ligou de volta pouco depois, acompanhado da companheira Shelli. Disseram que o amavam. Pediram que ele parasse.
“Eu disse a ele que ele estava brincando com dinamite”, relatou Krist, em tom de quem ainda carrega a angústia daquele aviso. A conversa não causou mudança imediata. Kurt agradeceu, mas seguiu adiante, em silêncio.
Krist notava os sinais. Sabia dos novos círculos, das companhias que se aproximavam. Não enxergava naquela escolha nada além de ruína. “Não havia nada ali. Só destruição”, afirmou, ao lembrar da relação do amigo com a droga.
Esses dias antecederam o lançamento de “Nevermind”, em setembro de 1991. O disco redefiniria o papel do Nirvana na história da música alternativa, mas, antes disso, o grupo atravessou momentos que permanecem ocultos nas entrelinhas de sua discografia.
A luta interna de Kurt Cobain, em meio à ascensão profissional e ao esgotamento emocional, se manteve como pano de fundo da criação artística que o mundo viria a conhecer pouco tempo depois.
Deixe um comentário