Lançado em 1979, Unknown Pleasures, álbum de estreia do Joy Division, tornou-se um marco do pós-punk britânico e uma referência que atravessa gerações.
Reconhecido como uma obra seminal que ajudou a redefinir os rumos do rock, o disco é frequentemente comparado a clássicos como The Velvet Underground & Nico ou Raw Power. No entanto, o impacto duradouro do álbum contrasta com a recepção inicial que recebeu da própria banda.
Peter Hook, baixista do grupo, não escondeu a decepção ao ouvir as mixagens finais. “Queríamos que soasse como Sex Pistols, The Clash, porque era isso que amávamos — o poder, o cru, o ‘argh!’. E quando não era, eu fiquei absolutamente de coração partido”, afirmou em entrevista de 2019.
O choque não era sem fundamento: a sonoridade visceral das performances ao vivo, esperada no álbum, foi substituída por algo completamente diferente, graças à visão do produtor Martin Hannett.
Do punk à experimentação sonora
Formado em Manchester, o Joy Division nasceu no contexto da explosão punk britânica, inspirando-se em bandas como Buzzcocks e Sex Pistols.
No entanto, Unknown Pleasures rompeu com a crueza punk tradicional. Em vez de guitarras abrasivas e letras confrontadoras, o álbum apresentou uma abordagem atmosférica, com camadas sonoras que transcendiam as expectativas de uma banda emergente do movimento DIY.
Essa transformação foi conduzida por Hannett, que teve total liberdade criativa na produção. Bernard Sumner, guitarrista do grupo, revelou que o processo foi excludente para os membros da banda. “Ele levou dois dias para mixar, mas não fomos autorizados a estar lá. Então, a primeira vez que ouvimos foi quando o álbum já estava pronto”, contou em um documentário de 2015.
Sumner descreveu a postura do produtor como quase autoritária. “Acho que ele pensava: ‘Esses idiotas escreveram um álbum incrível por acidente, mas não sabem o que estão fazendo. Então, vou tirá-los do meu caminho para fazer o que quero sem seus comentários estúpidos’.”
A mudança radical na sonoridade deixou os integrantes apreensivos. Stephen Morris, baterista, explicou que a diferença entre a expectativa e o resultado final gerou frustração. “Você sempre tem uma ideia de como algo deveria soar, e, quando não soa assim, você fica desapontado”, disse ele no mesmo documentário.
Na época do lançamento, Unknown Pleasures não catapultou o Joy Division para o estrelato comercial nem gerou aclamação imediata. Entretanto, o álbum resistiu ao teste do tempo, tornando-se um divisor de águas para o rock alternativo e influenciando gerações de artistas.
Embora a banda inicialmente rejeitasse o trabalho de Martin Hannett, a visão do produtor foi crucial para o impacto do álbum. Usando as faixas gravadas pelo Joy Division como matéria-prima, Hannett esculpiu um som inédito, caracterizado por atmosferas sombrias e texturas detalhadas. Sua abordagem ajudou a transitar o pós-punk para um patamar mais sofisticado e introspectivo.
Hoje, Unknown Pleasures é amplamente reconhecido como um dos discos mais importantes da história da música. Mesmo que o Joy Division não tenha compreendido a grandiosidade da produção no momento, a obra consolidou-se como um clássico, reverberando entre bandas de indie e pós-punk ao redor do mundo.
Como destacou Peter Hook anos depois, a visão inovadora de Hannett foi essencial para definir o legado do Joy Division. Ainda que inicialmente incompreendido pelos próprios integrantes, o álbum emergiu como um testemunho atemporal da criatividade e da ousadia musical que marcaram uma era.
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