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Por trás de “Chinese Democracy”: Axl Rose, Dr. Pepper e uma polêmica improvável

Poucos álbuns na história do rock carregaram tanta expectativa e controvérsia quanto “Chinese Democracy”, do Guns N’ Roses.

Anunciado originalmente no final dos anos 90, o álbum tornou-se sinônimo de promessas adiadas, piadas de internet e uma complexidade desmedida para sua produção.

Quando foi finalmente lançado em 23 de novembro de 2008, o impacto do disco foi imediatamente ofuscado por um inusitado embate jurídico entre a banda e a marca de refrigerantes Dr. Pepper.

Como isso aconteceu? Entre uma promoção desastrosa, críticas ao álbum e declarações inflamadas, a história revela muito sobre os desafios de uma indústria em transformação, o perfeccionismo de Axl Rose e os efeitos colaterais do marketing criativo.

Após o sucesso estrondoso de álbuns como “Appetite for Destruction” (1987) e os duplos “Use Your Illusion I e II” (1991), o Guns N’ Roses consolidou-se como um dos maiores nomes do rock mundial. No entanto, ao longo da década de 1990, a formação original desmoronou.

O guitarrista Slash saiu em 1996, seguido por Duff McKagan e outros membros centrais. Axl Rose permaneceu como o único integrante original, mas não sem controvérsias.

Entre 1994 e 1999, Rose supostamente começou a trabalhar em “Chinese Democracy”, cercado por mudanças constantes de produtores, músicos e arranjos.

A produção do álbum, descrita como uma das mais caras da história, envolveu custos estimados entre 13 e 14 milhões de dólares. A demora para seu lançamento deu origem a brincadeiras na mídia. “Chinese Democracy tornou-se o símbolo de projetos eternamente adiados”, observou a revista Rolling Stone em 2005.

Em março de 2008, a Dr. Pepper entrou na história de maneira inusitada. A marca anunciou que distribuiria uma lata de refrigerante gratuita para cada americano, caso “Chinese Democracy” fosse lançado ainda naquele ano. A proposta era vista como uma provocação leve e bem-humorada, refletindo a incredulidade geral sobre o lançamento do disco.

Curiosamente, a Dr. Pepper excluiu Slash e Buckethead, ex-integrantes do Guns N’ Roses, da promoção. Em resposta, Axl Rose emitiu um comunicado afirmando que compartilharia sua lata de refrigerante com Buckethead, músico cujas contribuições aparecem no álbum. O tom conciliador de Rose destoava da tensão que se formaria meses depois.

Finalmente, “Chinese Democracy” chegou às lojas em 23 de novembro de 2008. Com isso, a Dr. Pepper precisou cumprir sua promessa. No entanto, o planejamento logístico revelou-se desastroso.

A empresa criou um site onde os americanos poderiam se cadastrar para receber o cupom da bebida gratuita. No dia do lançamento, o site sofreu uma sobrecarga de acessos e ficou fora do ar, frustrando consumidores em todo o país.

O problema escalou rapidamente. Consumidores insatisfeitos inundaram redes sociais e canais de atendimento ao cliente. Logo, os advogados de Axl Rose entraram em cena, acusando a Dr. Pepper de prejudicar o lançamento do álbum e “defraudar os consumidores”.

Alan Gutman, representante jurídico da banda, publicou um comunicado em tom duro, descrevendo a promoção como “uma falha clamorosa” que teria “arruinado” a estreia de “Chinese Democracy”.

A Dr. Pepper respondeu com ironia, alegando que a ação promocional havia sido uma iniciativa bem-intencionada. Em nota oficial, a empresa afirmou: “Ficamos desapontados que os advogados do Guns N’ Roses estejam transformando uma ação divertida em uma disputa legal”.

Apesar da confusão, a Dr. Pepper não ofereceu nenhuma retratação pública nem alterou sua posição sobre a promoção.

A polêmica parecia desproporcional, especialmente considerando a recepção crítica do álbum. Para muitos críticos, o disco soava datado e desconectado do cenário musical contemporâneo.

Em resenhas publicadas após o lançamento, The New York Times descreveu “Chinese Democracy” como “uma amálgama de estilos que não se encontra em lugar nenhum”, enquanto a Pitchfork classificou o álbum com uma nota mediana.

Surpreendentemente, Axl Rose se mostrou o mais ponderado no meio de toda a confusão. Em uma entrevista online com fãs, realizada em dezembro de 2008, ele afirmou que não havia autorizado a ação judicial contra a Dr. Pepper. “As ações tomadas até agora não têm nada a ver comigo”, declarou Rose. Ele acrescentou: “Fui pego de surpresa, já que eu disse à nossa equipe: quem se importa com isso agora? Temos um álbum para cuidar”.

Essas palavras revelaram um lado pragmático de Rose, frequentemente ofuscado por sua reputação de personalidade difícil. A situação também destacou o quanto o músico estava mais preocupado em dar atenção ao álbum do que com disputas externas.

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