The Monks: A banda que inspirou Jack White, Radiohead e Nirvana

O rock and roll está cheio de bandas que passaram despercebidas quando ativas, mas que tiveram um impacto muito maior do que se imaginava. Entre esses casos, os The Monks se destacam.

A origem e o som singular

A banda surgiu em 1964, na Alemanha Ocidental, formada por cinco soldados americanos que começaram a tocar juntos enquanto serviam no exército dos Estados Unidos. Em um período em que o rock ainda estava se consolidando, eles criaram um som que fugia completamente dos padrões. Com guitarras distorcidas, baixo, banjo, órgão e bateria, sua música era barulhenta e agressiva, muito distante do pop radiofônico da época. O vocal de Gary Burger tinha um timbre peculiar, frequentemente comparado a um grito áspero e descontrolado, o que reforçava a intensidade do grupo.

The Monks em frente ao Top Ten Club em Hamburgo, Alemanha
The Monks em frente ao Top Ten Club em Hamburgo, Alemanha

Contraponto aos Beatles e letras provocativas

Enquanto os Beatles encantavam o mundo com canções acessíveis, os Monks seguiam uma direção oposta. O visual também chamava atenção: usavam laços finos como gravatas e raspavam o topo da cabeça, adotando uma estética que remetia a monges. O nome da banda e sua aparência podem ter sido uma forma sutil de crítica ao contexto militar em que foram formados. Sua música era repleta de energia crua e descontrolada, quase como se estivessem pregando um sermão furioso contra o sistema.

Suas letras abordavam temas diretos e incômodos. Em “Monk Time”, por exemplo, questionavam a Guerra do Vietnã de maneira provocativa:

“Sabe, nós não gostamos do exército. Que exército? Quem se importa com qual exército? Por que vocês matam todas aquelas crianças lá no Vietnã? Viet Cong louco! Meu irmão morreu no Vietnã!”

Vindo de um grupo de ex-soldados americanos, essas palavras ganhavam ainda mais peso. Enquanto o movimento da contracultura florescia com mensagens de paz e amor, os Monks se colocavam como uma voz de insatisfação e fúria diante da realidade da guerra.

Reação do público e fim precoce

A recepção do público foi incerta. Muitos não sabiam como reagir a um som tão diferente, especialmente no cenário musical alemão. Ao mesmo tempo, a banda teve pouca oportunidade de se consolidar nos Estados Unidos, onde o governo considerou seu único álbum, “Black Monk Time” (1966), politicamente sensível demais para ser amplamente distribuído. A censura acabou impedindo que a banda ganhasse mais visibilidade e, somado à falta de retorno comercial, isso levou à sua dissolução no ano seguinte.

O punk antes do punk

Mesmo sem o devido reconhecimento imediato, o som dos Monks foi uma antecipação do que viria a se tornar o punk rock. Seu uso de feedback e distorção, os vocais raivosos e a energia crua podem ser vistos como uma prévia do que Ramones e The Clash fariam anos depois. Antes mesmo da explosão da cena de garage rock ou da chegada do Velvet Underground, os Monks já estavam trilhando um caminho de experimentação e confronto sonoro.

O impacto do grupo também pode ser percebido na forma como elevaram a agressividade do rock a um novo patamar. Bandas de garagem como The Sonics já brincavam com sons mais crus, mas os Monks levaram isso a um nível ainda mais intenso e provocador, criando um disco que, até hoje, soa como um grito de revolta.

Redescoberta e influência tardia

Apesar do breve período de atividade, o impacto dos Monks seria redescoberto anos depois. Nos anos 1990, artistas do rock alternativo passaram a reconhecer sua importância. Entre os admiradores estavam Krist Novoselic do Nirvana, Johnny Greenwood do Radiohead, Iggy Pop e os Beastie Boys. Seu estilo percussivo e repetitivo influenciou diversas bandas posteriores, incluindo Jack White, que chegou a lançar gravações perdidas da banda de 1967 pela Third Man Records, em 2017.

A trajetória dos Monks mostra como algumas ideias podem estar adiantadas para seu tempo. Seu único álbum pode parecer caótico e agressivo, mas, por trás de toda a barulheira, há uma expressão genuína de inquietação e inconformismo. A energia visceral da banda, combinada com sua postura desafiadora, ajudou a pavimentar o caminho para a revolução do punk e para a ideia de que o rock não precisa seguir regras – ele apenas precisa ser sincero.

The Monks – foto por Eddie Shaw


Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH.

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