Em uma entrevista ao canal do Youtube da Gibson, Tony Iommi revisitou alguns momentos de sua carreira. Entre as várias experiências relatadas, um episódio em particular se destacou: a conturbada relação entre o Black Sabbath e o Kiss durante uma turnê nos anos 1970.
Segundo Iommi, a convivência entre as duas bandas era, no mínimo, desafiadora. O guitarrista relembrou momentos de tensão, incluindo incidentes em que membros do Sabbath alteravam propositalmente os cartazes promocionais do Kiss. A falta de familiaridade com os rostos dos integrantes do Kiss, devido à sua característica maquiagem, também contribuía para o distanciamento entre os grupos.
“A gente não se dava bem com eles. Eu lembro de ver cartazes falando ‘Black Sabbath e Kiss. A gente mudava o ‘K’ para um ‘P’, fazendo ler ‘PISS’ [algo como xixi ruim de forma geral]. Víamos os integrantes nos aeroportos e não sabíamos quem eram por causa da maquiagem.”
Mas além das diferenças pessoais, havia um conflito estético fundamental. Enquanto o Black Sabbath prezava por uma abordagem centrada na música, o Kiss apostava em produções de palco elaboradas e espetaculares, sendo pioneiros no uso de pirotecnia em shows de rock.
Geezer Butler, baixista do Sabbath, em declarações separadas, expressou como a produção extravagante do Kiss os deixou impressionados, mas também inseguros. Segundo Butler, a experiência foi tão impactante que o Sabbath decidiu não mais compartilhar turnês com o Kiss.
“Foi impossível acompanhar o ritmo do Kiss em relação à produção. Quando vi a banda tocar, nem prestei atenção na música. Fiquei simplesmente impressionado com a produção teatral. Nos certificamos de que nunca mais teríamos o Kiss abrindo para a gente.”
É importante notar que esse episódio ocorreu em um momento crucial para ambas as bandas. O Black Sabbath, formado em 1968, já era uma força estabelecida no cenário do heavy metal, tendo lançado álbuns icônicos como “Paranoid” e “Master of Reality”. Por outro lado, o Kiss estava em ascensão meteórica, tendo estreado em 1973 e rapidamente ganhando notoriedade por seus shows teatrais e personagens distintivos.
A divergência entre as duas bandas ilustra uma divisão mais ampla que estava ocorrendo no rock da época. De um lado, havia bandas como o Black Sabbath, que priorizavam a intensidade musical e a autenticidade crua. Do outro, grupos como o Kiss, que abraçavam o espetáculo visual e a teatralidade como parte integral de sua apresentação.
Esta “divisão” refletia mudanças maiores na indústria musical dos anos 70. O avanço tecnológico permitia produções de palco cada vez mais elaboradas, e muitas bandas começavam a incorporar elementos visuais mais complexos em suas performances. No entanto, isso também gerou debates sobre autenticidade e substância musical versus estilo e espetáculo.
Apesar dessas diferenças iniciais, tanto o Black Sabbath quanto o Kiss acabaram se tornando pilares do rock e do metal, influenciando gerações de músicos. O Sabbath continuou a ser reverenciado por sua inovação musical e peso sonoro, enquanto o Kiss se tornou um fenômeno cultural, conhecido tanto por sua música quanto por sua marca visual única.
Além disso, vale mencionar que as tensões entre bandas em turnê não eram incomuns na época. O ambiente competitivo, as longas viagens e o estresse constante muitas vezes levavam a conflitos. No entanto, o caso do Sabbath e do Kiss se destaca pela clara diferença filosófica em suas abordagens à performance ao vivo.
Porém, o tempo sempre sabe como resolver as coisas e todas estas arestas foram aparadas. As bandas souberam deixar as diferenças de lado e hoje Tony Iommi é um grande amigo de Gene Simmons. Os dois até discutiram criar uma banda juntos, projeto que não foi pra frente.
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