No episódio mais recente do podcast Amplifica, uma conversa sobre tecnologia chamou a atenção.
Rafael Bittencourt, introduziu a pergunta a Yohan Kisser se ele é mais do analógico que prontamente respondeu que se identifica com analógico mas ao mesmo tempo usa ferramentas digitais como Quad Cortex (modelador de amplificadores).
Yohan complementou a resposta citando o produtor estadunidense Rick Rubin, apontando para Andreas em sinal de que vinham numa discussão sobre isso e usando o produtor de exemplo, “se for pra gravar Adele ou Slayer, no digital ou no analógico, o que mais importa talvez não esteja na ferramenta, mas no que vai ser dito”.
O músico trouxe o contexto do medo generalizado na comunidade ao relembrar o anúncio do Megadeth:
“No dia que eu fechei o clipe (da música “Sound!”) paguei a primeira parcela o Megadeth, eles anunciaram que iam parar com as turnês e com no anúncio ele colocou um vídeo de inteligência artificial e nos comentários, assim a galera não nem fodendo não mexe com essa porra”.
Contudo, a conclusão do debate, endossada por Rafael Bittencourt e Andreas Kisser, é que a ferramenta não é o inimigo. Eles concordam que a IA pode ser “muito bem utilizada” se a autoria e a emoção vierem do artista:
“A música tava ali, a letra tá ali, sabe que foi feita, né, por ele carne e osso e emoção e etc intuição tudo que que a inteligência artificial não tem, né? E e com uma direção humana, né? Aquilo não foi feito sozinho pelo robô”.
Andreas Kisser compartilha dessa visão de que o essencial é a direção humana, apoiando a ideia de que o rock sempre se alimentou de mudanças e desafios. Yohan, reforçando o foco na liberdade artística, declarou fazer parte do “time do foda-se” em relação às críticas sobre sua criação.
Os convidados alertaram, porém, que a verdadeira polêmica da IA não é artística, mas sim legal, focando nos direitos autorais. Yohan Kisser destacou que o “tabu hoje em dia tá mais aí” na questão de “criar conteúdo a partir de outros materiais sem pagar os direitos necessários”. Ele usou um exemplo direto, citando a banda de Andreas Kisser:
“Se eu for fazer uma música hoje, colocar ali que eu queria que tivesse referência thrash metal do Brasil vai ter uma porrada de coisa de referências criadas pelo Andreas pelo Sepultura, né?”.
A discussão jurídica foi aprofundada por Rafael Bittencourt, que mencionou que as leis de plágio no Brasil e nos Estados Unidos são diferentes, sendo o “sound alike” (som parecido) “super permitido” na América, mas considerado “plágio se parece demais” no Brasil.
Apesar dos riscos legais, o consenso entre os músicos é que tentar frear a IA é inútil. A revolução tecnológica foi comparada à chegada do Pro Tools e à histórica “passeata contra guitarra elétrica no Brasil” em 1967. Esteban Tavares, que também participou do debate e falou sobre a necessidade de se desvincular das expectativas dos fãs para buscar a própria felicidade criativa, apoia a filosofia da liberdade irrestrita.
Bittencourt ainda conclui, a tecnologia está em uma “fervura comportamental e tecnológica que não tem como não haver mudanças”, e o papel dos músicos, como cidadãos e artistas, é se manter ativo e aberto às novas possibilidades, como o Angra e o Sepultura sempre fizeram em suas longas carreiras.




