O álbum de estreia do músico Do Prado, de Americana (interior paulista) intitulado “Quantas vezes é possível se apaixonar?”, apresenta a MPA – Música Popular Alternativa. Não é MPB. Muito menos a nova MPB, brasilidades ou bossa nova. Nem pop, nem lo-fi, no entanto, pode ser tudo isso misturado. Essa sigla promete abrir portas para algo maior que um lançamento: a chegada de um movimento inclusivo, um novo estado de escuta, aguardado pela cena brasileira há muito tempo.
Do Prado integra o casting do selo e produtora +um Hits e é uma das atrações da segunda edição do Circuito Nova Música, Novos Caminhos (@circuitonovamusica), com curadoria do jornalista e produtor Lúcio Ribeiro, que acontece de 31/07 a 3/08 em quatro cidades de São Paulo.
Não adianta procurar, pois o conceito de MPA não está no dicionário – ainda. Mas a Música Popular Alternativa já está presente entre nós, nos ouvidos e cantos de todo o Brasil, só não tinha um nome para chamar de seu. É um movimento musical que já existe, porém não tinha um representante que liderasse sua divulgação – até agora.
Com o álbum “Quantas vezes é possível se apaixonar?”, Do Prado chega para incluir todos os artistas e o público que não se encaixava nos gêneros atuais. É como se faltasse aquela “caixinha” entre as definições de sonoridades usadas hoje. Essa sensação de não pertencimento fomentou uma inquietude em Do Prado por construir caminhos para o seu som e sua mensagem.
Pode-se dizer que “Quantas vezes é possível se apaixonar?” é um álbum para todas as pessoas que se definem como alternativas, no sentido de contradizer o mainstream, sem ignorar a sua importância. É possível entender melhor esse movimento quando falamos das influências do novo álbum de Do Prado, que são artistas como Bruno Berle, Rico Dalasam e Tuyo.
Mais do que um álbum sobre amor, liberdade e amadurecimento, “Quantas vezes é possível se apaixonar?” traz referências à vida no interior de São Paulo – principalmente da região de Americana (SP) e arredores, onde vive Do Prado – e apresenta uma identidade afetiva e musical própria.
“É um trabalho que marca uma nova fase na minha carreira, com produção mais elaborada, um olhar mais atento pra estética visual e uma sonoridade que mistura o orgânico com o digital.”
Amigos, influências e suporte profissional
Para vir à tona, “Quantas vezes é possível se apaixonar?” reuniu nos bastidores alguns nomes que compartilham muitas experiências com Do Prado em uma década de carreira, como Tiago Camargo, Gabriel Camargo, da banda Vício, e Renato Cortez, da Elephant Run. As gravações aconteceram nos estúdios Mato Records (MG), Estúdio Cabrera (SP) e mixadas e masterizadas pelo Lavanderia Estúdio, sediada na metrópole Campinas (SP).
Enquanto parte das 10 faixas percorrem influências modernas e eletrônicas, outra parte pende mais para o orgânico, como em “Um Dia de Sol”, “Canto”, “Maior Pecado”, “Desejo” e “Perdido”, que trazem metais de Bruce Willian (trompete) e Glaucio Santana (trombone).
Não podemos esquecer que é no álbum “Quantas vezes é possível se apaixonar?” que está o single “Gaiola Fechada”, lançado em 2024 acompanhado de um clipe que representa essa nova fase de Do Prado, em termos sonoros e visuais. E ainda é possível ouvir “Beijos e Cartazes de Cinemas”, música que ao longo da carreira de Do Prado trouxe essa reflexão sobre uma nova geração de amantes e também foi trabalhada no ano passado.
“Quantas vezes é possível se apaixonar?” é a cara da MPA: um álbum com sons que tocam fundo, unindo o orgânico ao digital, o afeto ao beat, a poesia íntima aprendida com os mais sábios à estética contemporânea dos jovens.
“Esse disco mistura muita coisa que faz parte de mim. Tem MPB, samba soul, uma pegada de R&B, umas influências de bossa… mas tudo isso do meu jeito. É um trabalho com a cara do interior, mas com um olhar atual. Cada faixa tem um clima diferente, mas todas se conectam nessa vontade de se escutar.”
Para preencher conexões vazias
Mesmo que seu lançamento aconteça nas principais plataformas digitais, “Quantas vezes é possível se apaixonar?” também tem como missão preencher as conexões vazias, cada vez mais presentes na vida dos ouvintes nessa era digital.
Em tempos de informação em excesso e relações líquidas, Do Prado propõe uma experiência sonora de cura, com sofisticação melódica, dialogando com o R&B, o trap lo-fi, o samba e até o hip hop. Seu repertório dá voz a uma geração de artistas e público que buscam o sentir com profundidade em um mundo cada vez mais vazio.
É por isso que não dá para definir “Quantas vezes é possível se apaixonar?” com os conceitos usuais. Porque este é um álbum que caminha em diversas atmosferas, rompendo fronteiras da música brasileira. Esse trabalho é a mais pura definição de MPA: um movimento musical e existencial, que convida outros artistas e ouvintes a se reconectarem com o silêncio, com o afeto e com a emoção em sua essência.