Música criada por IA é atribuída a Blaze Foley no Spotify e gera protestos

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Blaze Foley. Foto: Reprodução.

Uma faixa artificial foi publicada no perfil oficial de Blaze Foley, cantor de country assassinado em 1989. A canção, intitulada “Together”, apareceu na última semana e soava distante do estilo característico do artista texano.

O caso foi revelado pelo site 404 Media (via Far Out), que investigou a origem da música e da imagem de divulgação associada. A ilustração da capa também levantou suspeitas, com traços genéricos e distorcidos, comuns em arte feita por IA.

Craig McDonald, responsável pelo catálogo e perfil de Foley no Spotify, reagiu à publicação sem rodeios. “Posso dizer claramente que essa música não é do Blaze, nem chega perto do estilo dele”, disse ao 404 Media.

McDonald reforçou que não autorizou o uso de voz artificial ou qualquer reprodução digital do cantor. “É uma espécie de robô de IA, por assim dizer”, declarou, referindo-se ao conteúdo como de baixa qualidade.

Além da crítica à música em si, McDonald direcionou questionamentos ao sistema de segurança do Spotify. “É prejudicial à reputação de Blaze que isso tenha acontecido”, afirmou. “A responsabilidade é toda do Spotify.”

Ele sugeriu que a empresa deveria impedir a publicação de materiais enganosos usando engenharia de software. “Se tivessem vontade, poderiam impedir essa prática fraudulenta rapidamente”, concluiu o gerente.

Após a repercussão negativa, o Spotify retirou a música “Together” da plataforma e emitiu um breve posicionamento. A empresa afirmou que o conteúdo violava sua política de conteúdo enganoso (“Deceptive Content Policy”).

A publicação da faixa foi feita pela SoundOn, distribuidora de música digital controlada pela plataforma TikTok. Não há informações sobre outras músicas suspeitas publicadas pela mesma conta ou com o mesmo procedimento.

Nascido Michael David Fuller, Blaze Foley foi morto em 1989, aos 39 anos, após uma vida marcada por instabilidade e talento.

Sua música ganhou reconhecimento póstumo, com destaque para faixas como “Clay Pigeons” e “If I Could Only Fly”.

A obra de Foley é admirada por nomes como John Prine, Lucinda Williams e Merle Haggard, que gravaram suas composições. O cantor é lembrado por sua abordagem crua e pessoal do country alternativo, com influências folk e poéticas.

O caso de Blaze Foley se soma a uma série de discussões sobre o uso de inteligência artificial na indústria musical. Desde 2023, várias plataformas enfrentam denúncias de músicas falsas ou recriações com vozes clonadas.

Grupos de defesa de artistas alertam para o uso não autorizado da identidade sonora de músicos vivos ou mortos. Empresas como Universal e Warner têm pressionado plataformas por regulamentações mais rígidas sobre o uso de IA.

Apesar da remoção da faixa, o episódio gerou novas críticas à forma como o Spotify lida com conteúdos enviados por terceiros. Para Craig McDonald, o mais grave foi a facilidade com que um material falso entrou no perfil de um artista reconhecido.

Especialistas apontam que a checagem automática atual é insuficiente para barrar conteúdos enganosos gerados por IA.

O Spotify não informou quais medidas futuras tomará para evitar novos episódios como o de Blaze Foley.

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