John Lydon, conhecido por sua trajetória à frente do Sex Pistols e do Public Image Ltd., tem enfrentado uma fase delicada em sua vida pessoal e artística. Desde a morte de sua esposa, Nora Forster, em abril de 2023, o músico britânico vem se apresentando com espetáculos de palavra falada, que têm revelado não apenas seu lado mais vulnerável, mas também a reação hostil de parte do público.
Em entrevista recente à revista Louder, Lydon relatou que foi acusado publicamente de estar lucrando com a morte de Nora. O episódio ocorreu durante um de seus shows, quando um espectador o interrompeu para fazer a acusação. “Isso é maligno, além de qualquer conceito com o qual eu possa me identificar”, disse o cantor.
A série de apresentações, que mistura relatos autobiográficos e reflexões improvisadas, tem sido descrita por Lydon como uma experiência desafiadora. “Não há nada como subir num palco completamente sozinho, com o medo de merda que isso causa. Não tenho roteiro, nada… E eu adoro isso”, afirmou.
Embora aprecie o formato mais intimista e espontâneo, ele reconhece que parte da audiência comparece apenas para criticá-lo. “Tem uns que odeiam de verdade, que viajam quilômetros, compram passagens, só para chegar e dizer ‘seu namorado é péssimo’ para a babá.”
A fala faz referência ao fato de Nora, que convivia com Alzheimer, ter sido cuidada por Lydon durante anos antes de sua morte. Ele se referiu mais de uma vez a ela como “minha garota”, e relatou que parte do conteúdo dos shows envolve memórias da vida ao lado dela.
A morte de Nora, que foi casada com Lydon por mais de quatro décadas, não foi a única perda marcante recente. O músico também falou sobre a morte de John “Rambo” Stevens, seu empresário de longa data, e de um tio próximo.
“Quando você vai dormir à noite, se pergunta: ‘Será que eu deveria estar pensando só na Nora?’”, contou. “Não posso deixar John de fora; ele significava muito para mim também. E para o meu tio agora. E, claro, já passei por tudo isso antes, com minha mãe e meu pai, e tudo isso volta.”
O acúmulo de lutos tem afetado seu cotidiano e sua saúde mental. “Dormir é bem difícil”, disse. “A justaposição de tragédias – como consigo lidar com todas elas? Eu simplesmente tenho que deixar que me inunde. E inunda. Todas as noites.”
Um dos trechos mais marcantes da entrevista revela como Lydon sente a presença das pessoas queridas que perdeu. “Eu consigo ouvir cada uma delas, de vez em quando, gritando dentro da minha cabeça”, relatou. “’Ah, Johnsies, essa música é horrível!’ da Nora… Vocês têm conversas inteiras, e não estão fingindo – o diálogo simplesmente surge automaticamente.”
A declaração reforça a natureza quase catártica dos shows de palavra falada que ele vem realizando. Para Lydon, essas apresentações parecem funcionar como uma extensão de sua vivência com a perda, oferecendo um espaço para confrontar memórias e emoções ao vivo, mesmo diante da incompreensão de parte do público.
A turnê segue sem previsão de término, e o artista não deu sinais de que pretende interromper os shows. Por ora, Lydon segue lidando com o luto da forma que conhece: enfrentando o público, sem filtros ou roteiros, num palco vazio.
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