Quando se fala da efervescente cena musical de Manchester entre as décadas de 1970 e 1990, um nome é impossível de ignorar: Tony Wilson.
O jornalista, empresário e agitador cultural desempenhou um papel central na construção do cenário que moldou o som e a identidade da cidade, sendo o catalisador por trás da ascensão de bandas como Joy Division, New Order e The Smiths.
Agora, um projeto busca garantir que sua contribuição permaneça acessível para futuras gerações, com uma campanha de arrecadação que promete abrir as portas para o vasto arquivo de sua vida e obra.
A iniciativa é conduzida pelo Tony Wilson Archive (TWA) em parceria com o estúdio de design DR.ME, também sediado em Manchester.
A proposta é clara: arrecadar £5 mil por meio de uma campanha no Kickstarter para digitalizar e compartilhar o vasto acervo que Wilson deixou.
Entre os itens do arquivo estão flyers, cartazes de serigrafia, documentos históricos da Factory Records e registros fotográficos, oferecendo um panorama detalhado de uma era que transformou o pop e a música eletrônica no Reino Unido.
Tony Wilson começou sua carreira como jornalista e apresentador, com passagens pela Granada Television e Channel 4. Embora fosse reconhecido pelo grande público como um rosto familiar da televisão britânica, ele sempre esteve profundamente conectado com a música que pulsava fora dos holofotes.
No final dos anos 1970, Wilson fundou a Factory Records, uma gravadora independente que lançou artistas que viriam a definir o pós-punk e a música eletrônica.
A gravadora não era apenas uma empresa: era uma incubadora de criatividade, alimentada por uma abordagem experimental e pelo desejo de romper com os padrões convencionais.
Entre os lançamentos mais marcantes do selo estão o álbum “Unknown Pleasures” do Joy Division (1979) e “Power, Corruption & Lies do New Order” (1983). Esses trabalhos ajudaram a estabelecer Manchester como um polo cultural e criativo, enquanto bandas como Happy Mondays e A Certain Ratio consolidaram a reputação da Factory Records como uma potência inovadora.
Em 1982, Wilson abriu as portas do The Haçienda, um clube noturno que se tornaria sinônimo da cena rave e do surgimento do acid house.
Com uma arquitetura industrial e um espírito vanguardista, o local foi palco de festas memoráveis, mas também de desafios financeiros. Apesar das dificuldades, o clube deixou sua marca na história da música e da cultura jovem, sendo retratado de forma detalhada no filme 24 Hour Party People (2002), onde Wilson foi interpretado por Steve Coogan.
Embora Tony Wilson tenha falecido em 2007, vítima de um câncer renal, sua influência continua viva. O arquivo, atualmente abrigado no British Pop Archive da John Rylands Library, já oferece um olhar do impacto cultural que ele teve. Contudo, a digitalização do acervo busca tornar esse material acessível para um público ainda mais amplo, democratizando o acesso à história da música britânica.
Stephen Morris, baterista do Joy Division e New Order, relembrou o papel transformador de Wilson. Em entrevista na época de sua morte, Morris destacou como Wilson, inicialmente visto apenas como um apresentador de TV, logo se tornou uma figura essencial para a cena musical local. “Ian Curtis chegou a pressioná-lo duramente para nos colocar na televisão, e ele acabou cedendo. Isso mudou tudo.”
Além de preservar a memória de Wilson, o TWA também pretende reinvestir os lucros em artistas emergentes de Manchester, mantendo viva a tradição de apoiar talentos locais.
Para muitos, a campanha representa não apenas uma oportunidade de celebrar o passado, mas também de inspirar o futuro da música independente.
A campanha no Kickstarter está aberta para contribuições, convidando fãs e entusiastas da música a participarem na preservação desse rico capítulo da história cultural de Manchester.
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