O grupo irlandês Kneecap teve sua entrada na Hungria proibida por três anos, segundo decreto divulgado nesta quinta-feira (24).
A decisão foi tomada pelo governo do primeiro-ministro Viktor Orbán, com base em alegações de ameaça à segurança nacional. Com isso, o show da banda no Festival Sziget, marcado para 11 de agosto, está oficialmente cancelado.
A proibição foi confirmada pela Direção-Geral de Imigração da Hungria e não cabe recurso à decisão. Segundo nota divulgada pelo porta-voz do Estado, Zoltán Kovács, a medida visa proteger a ordem pública e os valores democráticos.
As autoridades acusam o Kneecap de promover discursos antissemitas e de fazer elogios públicos ao Hamas e ao Hezbollah. Em suas redes sociais, Kovács afirmou que a Hungria adota uma política de “tolerância zero ao antissemitismo”.
Ele também pediu que os organizadores do Sziget repensem a presença de artistas que, segundo ele, não respeitam a democracia. A banda é formada por Liam Óg Ó hAnnaidh, JJ Ó Dochartaigh e Naoise Ó Cairealláin, todos oriundos de Belfast, na Irlanda do Norte.
Eles negam qualquer ligação com grupos considerados terroristas e dizem que sua arte tem caráter político e crítico. Segundo o trio, as acusações são uma distorção de suas manifestações contra a ocupação da Palestina e o colonialismo britânico.
Atualmente, o grupo também responde a um processo no Reino Unido por exibir uma bandeira do Hezbollah em um show.
Nos últimos meses, o Kneecap tem reforçado sua militância ao lado de nomes como Brian Eno, Massive Attack e Fontaines D.C. Juntos, esses artistas anunciaram uma aliança legal para combater o que classificam como censura política na cena cultural europeia.
A ação foi motivada por casos recentes de perseguição a músicos que se posicionaram a favor do povo palestino. Na Hungria, o caso gerou divisão. Mais de 150 artistas locais assinaram uma carta pedindo o cancelamento do show do Kneecap. No texto, os músicos húngaros acusam o grupo de propagar racismo e incitar o ódio.
Por outro lado, a organização do Festival Sziget se manteve firme na defesa da diversidade de vozes no evento. Em nota oficial, os curadores afirmaram que “não há espaço para o ódio, mas também não há espaço para censura”.
Apesar do posicionamento, o decreto de expulsão impede qualquer tentativa de reversão da situação. O Kneecap tem se destacado nos últimos anos por uma abordagem frontal de temas políticos em suas letras e ações públicas.
O grupo canta em inglês e irlandês e mistura hip hop com elementos culturais da Irlanda do Norte. Com letras provocativas e shows intensos, conquistaram reconhecimento fora do circuito convencional do rap britânico.
Seu trabalho dialoga com a história da ocupação inglesa, as tensões entre católicos e protestantes e os conflitos atuais na Palestina.
A proibição na Hungria reabre o debate sobre os limites entre liberdade artística, militância política e segurança estatal. Mais uma vez, músicos se veem no centro de disputas internacionais que ultrapassam o palco. O banimento do Kneecap pode se tornar um novo símbolo das pressões que artistas enfrentam ao se posicionar politicamente.
Enquanto isso, os integrantes da banda continuam a defender seu direito de expressão e a criticar o que chamam de “silenciamento institucional”. Em entrevista recente, JJ Ó Dochartaigh afirmou ao The Guardian: “A censura nunca parte da cultura. Sempre vem do poder.”
No contexto da guerra em Gaza e das reações internacionais, esse episódio parece longe de ser um caso isolado.
E embora a presença do Kneecap tenha sido retirada do Sziget, o debate sobre música, política e liberdade está longe de terminar.