A música exerce um impacto profundo e imediato sobre nossas emoções, moldando nosso humor de maneira quase instantânea. Mas o que faz com que uma canção seja percebida como alegre ou triste? Para responder a essa pergunta, a pesquisadora Annaliese Micallef Grimaud, da Universidade de Durham, conduziu um estudo científico que investiga os elementos musicais por trás dessas percepções.
O estudo, encomendado pela empresa HappyOrNot, analisou músicas populares com base em critérios objetivos, como andamento (tempo), tonalidade, dinâmica, amplitude de frequência e timbre. A seleção inicial das canções foi feita a partir de listas publicadas por revistas renomadas, como Rolling Stone e NME, e cruzada com dados de reprodução no Spotify, garantindo que as faixas escolhidas fossem tanto aclamadas pela crítica quanto populares entre o público.
Essa abordagem permitiu identificar padrões musicais que influenciam diretamente a percepção emocional das pessoas, revelando como elementos técnicos da composição podem evocar sensações específicas.
O trabalho de Grimaud não apenas esclarece a relação entre música e emoção, mas também oferece insights valiosos para artistas, produtores e até mesmo para a indústria publicitária, que busca criar conexões emocionais por meio do som.
A música mais alegre: “Happy”, de Pharrell Williams
Não é surpresa que a canção “Happy”, de Pharrell Williams, tenha ficado no topo da lista das músicas mais alegres. De acordo com Grimaud, características como um tempo acelerado, modo maior, volume elevado e articulação staccato contribuem para transmitir felicidade na música.
Outras músicas que entraram na lista das mais felizes incluem:
- “Hey Ya” (2003) – Outkast
- “Girls Just Wanna Have Fun” (1983) – Cyndi Lauper
- “Don’t Stop Me Now” (1979) – Queen
- “Feeling Good” (1965) – Nina Simone
A música mais triste: “Something in the Way”, do Nirvana
No outro extremo, “Something in the Way”, lançada pelo Nirvana em 1991, foi classificada como a música mais triste. Segundo o estudo, fatores como andamento lento, tonalidade menor, dinâmica suave, timbre escuro e baixa amplitude de frequência contribuem para a sensação de melancolia.
As outras canções mais tristes identificadas no estudo foram:
- “Everybody Hurts” (1992) – R.E.M.
- “Tears in Heaven” (1992) – Eric Clapton
- “Nutshell” (1994) – Alice in Chains
- “Black” (1991) – Pearl Jam
Emoções na música: ciência ou percepção individual?
A pesquisa levanta reflexões fascinantes sobre como as emoções são transmitidas e percebidas na música. Embora existam padrões claros associados a sentimentos como alegria e tristeza — como andamentos acelerados ou tonalidades maiores para a alegria, e ritmos lentos ou tonalidades menores para a tristeza —, a percepção individual desempenha um papel crucial nessa equação. A conexão do ouvinte com a letra, as memórias pessoais ligadas à música e o contexto em que ela é ouvida são fatores que moldam profundamente sua interpretação.
Além disso, as diferenças culturais também influenciam essa percepção. O que é universalmente reconhecido como triste ou alegre na música ocidental pode ser interpretado de maneira distinta em outras culturas, onde elementos como escalas, instrumentos e ritmos assumem significados próprios. Isso revela que a música não é apenas uma linguagem universal, mas também um reflexo das particularidades de cada sociedade.
No fim das contas, embora a ciência consiga identificar padrões e tendências, a relação que cada pessoa estabelece com a música permanece única e profundamente pessoal. A música, portanto, é tanto uma experiência coletiva quanto íntima, capaz de unir pessoas ao mesmo tempo em que ressoa de maneira singular em cada indivíduo.
Confira nesse link o artigo cientifico desse estudo. Vale a pena a leitura:
“Towards a Better Understanding of Emotion Communication in Music: An Interactive Production Approach“. Durham E-Theses. (n.d.)
https://etheses.dur.ac.uk/14706/
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