Tom Scholz entrou na sede da CBS em 1981 para justificar por que “Third Stage”, terceiro álbum do Boston, já acumulava três anos de atraso.
Contratualmente, a banda deveria lançar até dois discos por ano, meta que poucos artistas alcançavam. Mesmo assim, o engenheiro e guitarrista recusava pressões, regravava trechos no estúdio caseiro e culpava questões internas pelo cronograma estourado, segundo mensagem enviada ao presidente da gravadora, Walter Yetnikoff.
No encontro em Nova York, Yetnikoff recordou que o grupo Cheap Trick fora processado em US$ 52 milhões por segurar material inédito. O executivo repetiu a ameaça, deixando claro que Boston poderia enfrentar medida semelhante. Scholz respondeu que avançava nas gravações, agora livre de disputa com o ex-empresário Paul Ahern, e planejava um álbum conceitual que retratasse sua transição para a vida adulta. O título provisório era “Third Stage”, com a balada “Amanda” quase pronta.
Yetnikoff quis saber se o vocalista Brad Delp continuaria. A relação era incerta, mas Scholz mostrara iniciativa: colocara anúncio anônimo na Rolling Stone oferecendo salário mínimo de US$ 50 000 a quem reproduzisse vozes similares a Chicago, Foreigner, Bad Company e Boston. Entre milhares de fitas recebidas, escolheu Mark Dixon, cantor de uma banda de covers em Niagara Falls. No teste apresentado ao executivo, cada verso de “A Man I’ll Never Be” alternava discretamente entre Delp e Dixon, sem diferença audível.
Impressionado, Yetnikoff aprovou a inclusão do novo músico e pediu sigilo. O acordo informal permitiu que Scholz seguisse trabalhando sem ameaças imediatas. “Third Stage” só chegaria às lojas em 1986, mas com o aval silencioso da gravadora que, cinco anos antes, exigira pressa.



